Bloomberg Línea — Executivos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) afirmaram que a meta apresentada de dobrar os desembolsos da instituição deve levar tempo. Eles disseram que o banco será criterioso na concessão de subsídios (veja mais abaixo), um alvo de críticas no passado recente.
“A meta é dobrar os desembolsos, mas isso vai levar tempo, deve acontecer até 2026. Esperamos que o crescimento comece a partir de 2024 e que os investimentos voltem a subir”, afirmou o diretor do BNDES, Nelson Barbosa, em conversa com jornalistas em São Paulo na terça-feira (16).
Segundo o executivo, ainda não há necessariamente setores definidos para a expansão do crédito, mas ele destacou como uma das oportunidades a área de infraestrutura, principalmente saneamento.
“As prioridades serão definidas no âmbito de um desenvolvimento mais amplo do planejamento do governo federal.”
Barbosa salientou que o BNDES quer “recuperar” o crédito a pequenas e médias empresas.
“O evento Americanas secou a fonte de crédito principalmente para pequenas e médias.” Ele disse também que a instituição quer trabalhar mais com cooperativas e comércio exterior – com foco em exportações de bens. “O primeiro financiamento que fizemos [desse tipo] foi para a Embraer.”
O diretor do BNDES Alexandre Abreu afirmou que, no primeiro trimestre, houve um aumento expressivo do número de consultas ao banco – que representa a primeira fase de um empréstimo. “É possível prever com isso que teremos aumento de desembolsos à frente.”
Barbosa reforçou, por diversas vezes, que nem todo crédito de banco público é direcionado. “Crédito público não é sinônimo de crédito direcionado nem subsidiado. Não achamos que o volume de crédito direcionado [do BNDES] seja suficiente para ameaçar a política monetária”, disse em referência a uma crítica de economistas sobre o efeito colateral desse tipo de empréstimo.
Benefícios de subsídios
Barbosa não descartou, porém, a concessão de subsídios pelo banco.
“O que sugerimos são subsídios limitados, com teto e transparência, para atividades que geram altos retornos sociais, como escolas, hospitais, transição energética, metrô”, esclareceu. “Não estamos propondo um BNDES do passado, mas, sim, do futuro, que merece um voto de confiança, assim como a política monetária merece um voto de confiança”, acrescentou.
Em sua visão, apesar de um custo “temporário” para a política monetária, os benefícios de subsídios pontuais no longo prazo serão maiores, inclusive para a “diminuição da inflação”. “Temos casos no passado em que o subsídio foi mal utilizado e bem utilizado. Estamos nos baseando nos casos de sucesso.”
Balanço do 1º trimestre
No primeiro trimestre, o BNDES teve lucro líquido contábil de R$ 4 bilhões, ante R$ 12,9 bilhões um ano antes. O resultado se deveu principalmente a receitas de dividendos e Juros Sobre Capital Próprio (JCP) de R$ 2,4 bilhões – basicamente da Petrobras – e à reversão líquida de R$ 700 milhões de créditos provisionados em exercícios anteriores.
No critério recorrente, quando são excluídos eventos extraordinários como resultados de alienação de ativos, o lucro líquido atingiu R$ 1,7 bilhão de janeiro a março, ante R$ 2,3 bilhões no mesmo período do ano passado.
Os desembolsos do BNDES no primeiro trimestre somaram R$ 19,1 bilhões, ante R$ 14,8 bilhões no mesmo período do ano passado.
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