Bloomberg — A Petrobras (PETR3, PETR4) está protegendo os consumidores domésticos das voláteis oscilações do mercado global de combustíveis, cedendo à pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez do controle dos custos da gasolina uma promessa eleitoral importante.
A Petrobras baseará os preços dos combustíveis em uma combinação de fatores domésticos e estrangeiros, “levando em consideração a melhor alternativa para os clientes”, afirmou em comunicado ontem, terça-feira (16). A Petrobras quer evitar o repasse dos aumentos de preços internacionais aos motoristas e aproveitar as “melhores condições de produção e logística” da empresa.
“Com a nova política, a Petrobras recupera a liberdade de decidir sobre os preços”, disse o CEO Jean Paul Prates em entrevista coletiva. “Agora levamos em consideração nossas vantagens.”
O novo CEO da Petrobras, que assumiu no começo do ano, está navegando entre as ambições do Brasil para o desenvolvimento industrial e investidores que esperam ser compensados com lucros e dividendos.
A decisão, telegrafada por Lula e seu gabinete desde que foi eleito em outubro, marca uma ruptura com a política a qual a Petrobras aderiu desde meados da década de 2010 de ter como base para os preços domésticos o custo do abastecimento de combustíveis importados.
Embora essa abordagem tenha ajudado a empresa a cortar dívidas e pagar dividendos bilionários, ela infligiu preços mais altos do exterior aos motoristas brasileiros, especialmente depois que a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 desencadeou um aperto internacional de energia.
Os investidores que temiam que o governo adotasse uma abordagem mais intervencionista aplaudiram a nova política, elevando as ações da Petrobras em até 5,3% nesta terça, no maior ganho intradiário em quatro meses. No fechamento, a alta ficou acima de 2%.
“A nova política de preços de combustíveis não parece tão ruim quanto a diretiva dos governos Lula e Dilma anteriores”, disse Fernando Valle, analista da Bloomberg Intelligence. “Mas há poucos detalhes sobre exatamente como os custos marginais ou de reposição serão calculados, deixando muito espaço para interferência externa nos preços.”
A nova política significa uma “comunhão de interesses” entre a empresa e o novo governo, e não uma intervenção, disse Prates. Os preços não cairão abaixo da lucratividade, acrescentou.
“Existem alguns riscos importantes que a Petrobras precisa esclarecer sobre a nova política de preços”, escreveram analistas do Citigroup em nota. “A paridade de importação internacional é muito importante para manter os produtos importados fluindo para o país, eliminando problemas de escassez de combustível.”
Os investidores da Petrobras já haviam indicado desconforto com a perspectiva de intervenção do governo ao se desfazer de ações da estatal no final de outubro, quando Lula saiu vitorioso sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições.
Reduzir o vínculo com os preços internacionais expõe a Petrobras a ações coletivas de acionistas, bem como uma possível intervenção do tribunal de contas do Brasil e do regulador antitruste. A legislação societária brasileira pune executivos, diretores e acionistas controladores se eles tomarem medidas contrárias aos interesses da empresa.
A Petrobras disse que continua comprometida com a sustentabilidade financeira e que a nova política permitirá realizar os investimentos previstos em seu plano estratégico.
O Brasil tem lutado contra uma inflação persistente e altos custos de empréstimos que têm prejudicado o crescimento econômico. O governo espera que a nova política de preços da Petrobras permita que o Banco Central afrouxe a política monetária - a taxa básica está em 13,75% ao ano desde agosto de 2022.
“A Petrobras se tornará mais atraente para investidores sérios e de longo prazo”, disse o ministro da Energia, Alexandre Silveira. “Agora estamos nos movendo para uma política de liberdade comercial.”
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