Bloomberg Línea — Horas depois de informar que deixará de seguir a política de paridade internacional, a Petrobras (PETR3; PETR4) anunciou nesta terça-feira (16) a redução dos preços da gasolina, do diesel e do GLP (o popular gás de cozinha) para as distribuidoras.
No caso da gasolina, a redução será de R$ 0,40 por litro, passando de R$ 3,18 para R$ 2,78, uma redução de 12,6%. Já o preço do diesel foi cortado de R$ 3,46 para R$ 3,02 por litro (uma diferença de R$ 0,44 ou 12,71%). O GLP, usado principalmente no botijão de gás, terá queda de R$ 0,69 por quilo (de R$ 3,2256 para R$ 2,5356, queda de 21,4%). Os novos valores valem a partir de quarta-feira (17).
As ações preferenciais da Petrobras fecharam em alta de 2,49% depois do anúncio sobre os cortes e a mudança na política de preços, que aconteceram no começo da manhã. Investidores avaliam que a decisão da empresa reduz a incerteza sobre o futuro da política de preços, uma vez que a mudança já era esperada desde que a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A Petrobras segue com uma política de mercado e entendemos que a reação deve ser positiva, uma vez que havia muita desconfiança pairando sobre esse anúncio”, disse Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren, em relatório.
“Os reajustes continuarão sendo realizados sem periodicidade definida. A Petrobras vem insistindo na mensagem de que evitará repassar volatilidade para o mercado doméstico e essa vem sendo a postura da empresa nos últimos trimestres. Na prática, ajustes baixistas tendem a continuar ocorrendo mais rapidamente do que os altistas”, completou.
A estatal diz que o corte de preços dos combustíveis tem o objetivo de manter a competitividade da empresa diante de alternativas no mercado, bem como a participação de mercado para otimizar as operações de refino em equilíbrio com os mercados nacional e internacional.
“Ciente da importância de seus produtos para a sociedade brasileira, a companhia destaca que na formação de seus preços busca evitar o repasse da volatilidade conjuntural do mercado internacional e da taxa de câmbio, ao passo que preserva um ambiente competitivo salutar nos termos da legislação vigente”, afirma a companhia em comunicado.
Em entrevista, o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, negou que haja interferência do governo nas políticas de preço da empresa e afirmou que a companhia não vai se afastar da referência internacional.
Para Prates, o novo modelo maximiza as vantagens competitivas da estatal. “A Petrobras recupera a liberdade de decidir os preços”, afirmou.
Já o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse em entrevista à GloboNews que espera que a nova política de preços da Petrobras e a redução dos combustíveis ajudem a sensibilizar o Banco Central na diminuição da atual taxa de juros. O ministro afirmou ainda que a Petrobras precisava ser “abrasileirada”.
Fim da paridade de preços
Na manhã desta terça-feira, a Petrobras informou que a diretoria executiva da companhia aprovou o fim da política de paridade internacional dos preços da gasolina e do diesel com o dólar e o mercado internacional nos combustíveis comercializados por suas refinarias. Era uma política criticada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva desde a campanha eleitoral em 2022.
O esperado represamento dos preços dos combustíveis pode ter um efeito de alívio sobre a inflação ao consumidor, dado que esses produtos têm sido uma das principais fontes de pressão sobre os preços, considerando também o efeito em cadeia por causa do setor de transportes.
Na regra até então vigente da Petrobras, anunciada em 2016, os preços desses produtos no mercado interno acompanham com alguma defasagem as cotações internacionais do petróleo, matéria-prima para esses dois combustíveis, estando sujeitos a oscilações a depender do mercado externo.
“Os reajustes continuarão sendo feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”, diz a estatal em comunicado.
A decisão levanta temores entre analistas e economistas de uma retomada da política de concessão de subsídios praticada no governo de Dilma Rousseff no início da década passada, quando a Petrobras acumulou dezenas de bilhões de reais em perdas ao manter os preços dos combustíveis mais baratos de maneira artificial apesar do aumento do preço do petróleo no mercado global.
Segundo a Petrobras, a nova estratégia comercial usa referências de mercado como o “custo alternativo do cliente”, como valor a ser priorizado na precificação, e o “valor marginal para a Petrobras”.
Enquanto o primeiro critério contemplaria “as principais alternativas de suprimento”, sejam fornecedores dos mesmos produtos ou de substitutos, o valor marginal para a companhia é baseado “no custo de oportunidade dadas as diversas alternativas para a companhia, dentre elas produção, importação e exportação do referido produto e/ou dos petróleos utilizados no refino”.
A petrolífera defende que a estratégia comercial tem como premissa preços competitivos por polo de venda, “em equilíbrio com os mercados nacional e internacional, levando em consideração a melhor alternativa acessível aos clientes”.
“Essa estratégia permite à Petrobras competir de forma mais eficiente, levando em consideração a sua participação no mercado, para otimização dos seus ativos de refino, e a rentabilidade de maneira sustentável”, diz o comunicado.
-- Com colaboração de Sergio Ripardo e informações da Bloomberg News.
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