Petrobras: como a Faria Lima avalia o fim da paridade de preços internacionais

Ações da petrolífera encerraram o dia com ganhos acima de 2%; analistas apontam redução de incertezas como um dos fatores para a reação positiva

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Bloomberg Línea — A Petrobras (PETR3; PETR4) informou nesta terça-feira pela manhã (16) que vai adotar uma nova estratégia comercial para definir os preços do diesel e da gasolina em substituição à política de paridade internacional nos preços dos combustíveis comercializados por suas refinarias.

Apesar de preocupações do mercado financeiro, a notícia não só não derrubou as cotações como houve ganhos nas ações da companhia na B3. No fechamento, os papéis da Petrobras subiram 2,24% (ON) e 2,49% (PN), negociados a R$ 29,20 e R$ 26,30 respectivamente.

Segundo analistas do mercado financeiro, a reação positiva dos investidores deve-se ao fato de que o anúncio veio em tese mais brando do que o esperado e eliminou parte das incertezas que pairavam sobre a nova política de preços nos últimos dias.

“O mercado estava esperando que viesse algo muito ruim ou próximo do que foi feito no governo Dilma [com subsídios declarados]. Pode-se dizer que houve uma leve surpresa positiva, com a companhia reiterando que quer fazer a mudança de forma saudável. Isso trouxe um fôlego para as ações”, afirmou Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.

A avaliação foi compartilhada pela Ativa Investimentos, que classificou a nova política como sem elementos “muito radicais”.

“De forma sucinta, evitou-se um ‘cavalo de pau’. Não vimos no comunicado pontos mais rígidos da nova política nem um represamento dos preços como o visto até 2015. Também não se vê um subsídio ao preço de importação”, disse Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos.

Segundo Arbetman, esse novo dispositivo pode ser positivo para empresas como Vibra (VBBR3) e Shell – Cosan (CSAN3) –, isto é, para grandes distribuidoras que batem frequentemente nas porta das refinarias. Isso porque ela podem passar a ter preços mais “convidativos”.

No ano, as ações da Petrobras acumulavam alta próxima de 8,00% até esta terça-feira, enquanto o Ibovespa tinha queda aproximada de 1,00%. No entanto, na performance em 12 meses, o desempenho da Petrobras é negativo em cerca de 24%, enquanto o Ibovespa sobe 0,2%.

Para a XP (XP), a notícia sobre a nova política da Petrobras também é marginalmente positiva, pois afasta (pelo menos temporariamente) uma das principais fontes de riscos para o caso.

“Ainda vemos um re-rating das ações da Petrobras como altamente improvável até que haja uma mudança significativa no cenário político. No entanto a estatal tem sido – e tem boas chances de continuar sendo – um bom investimento de retorno total devido ao pagamento de dividendos”, escreveram os analistas da XP Andre Vidal e Helena Kelm em relatório publicado nesta terça.

De acordo com a dupla de analistas, a definição da nova política de dividendos é o próximo evento importante a ser observado pelos investidores.

Redução do risco

Em relatório, o time de análise do BTG Pactual escreve que a nova política indica uma abordagem mais agressiva da nova equipe de gestão e provavelmente margens mais baixas no negócio de refino na tentativa de aumentar os volumes.

Como grande parte dos resultados da Petrobras são impulsionados pelas operações de exploração e produção (E&P), contudo, o time avalia que pequenos ajustes na política de preços de combustível não devem gerar revisões significativas nas estimativas do banco.

“Uma nova estratégia que mantém os princípios de mercado reduz a percepção de risco e contribui para nossa visão de que um cenário de baixa para a Petrobras agora parece improvável.”

O BTG Pactual manteve a recomendação neutra para os papéis da companhia enquanto aguarda mais detalhes sobre a política de dividendos da companhia.

Dividendos extraordinários

Na semana passada, a Petrobras anunciou a distribuição de R$ 24,7 bilhões em dividendos aos acionistas referente ao balanço de 31 de março de 2023.

A aprovação aconteceu mesmo depois das críticas reiteradas do presidente Lula e de lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT) à distribuição de elevados proventos aos acionistas da estatal, em detrimento da destinação de parte do capital obtido com lucros para reinvestimentos.

Segundo Izac, da Nexgen Capital, o anúncio do pagamento de elevados dividendos também contribui para a “euforia” em torno dos papéis da Petrobras nesta terça, com forte entrada de investidores pessoas física em busca da periodicidade desses proventos.

Viés ainda cauteloso

Apesar do anúncio mais brando nesta terça, aliviando as preocupações dos investidores, alguns analistas seguem cautelosos com as ações da companhia.

“Seguimos acreditando que mais mudanças ocorrerão na empresa, como a alteração de sua política de dividendos e a ampliação de seu escopo e nível de investimentos. Desta forma, seguimos acreditando que seus riscos inviabilizam um carrego sem solavancos, o que nos mantém neutros”, escreveu a Ativa Investimentos, em nota.

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