Nubank: mix para crescer tem funding menor e receita por cliente em alta

Banco digital amplia receita em 87% em 12 meses, para US$ 1,62 bilhão, supera projeções do mercado e rentabilidade vai de 6% para 43% no Brasil; ação dispara 8% em NY

Sede do Nubank em São Paulo
15 de Maio, 2023 | 07:06 PM

Bloomberg Línea — O Nubank (NU) ampliou em 34% o seu volume de depósitos no primeiro trimestre de 2023 na comparação anual , atingindo US$ 15,8 bilhões em base neutra de efeitos cambiais, segundo dados que acabam de ser divulgados nesta segunda-feira (15), depois do fechamento do mercado.

O custo médio de captação foi equivalente a 81% do CDI (versus 98% um ano atrás), o que aponta que o banco tem conseguido avançar com sua estratégia de buscar um funding a custo competitivo para suas operações, um dos desafios apontados por analistas no passado recente para a sua operação em um ambiente em que o custo de capital está mais elevado, especialmente no Brasil.

A rentabilidade da operação consolidada - medida pelo ROE - chegou a 14% no resultado ajustado (versus 1% um ano atrás) e a 43% no Brasil (versus 6% na mesma comparação).

Nas negociações do after hours da Bolsa de Nova York (NYSE), as ações subiram cerca de 8,00%. No acumulado de 2023, os ganhos são da ordem de 50%.

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Nos três primeiros meses do ano, as receitas atingiram US$ 1,62 bilhão (alta anual de 87%), acima do US$ 1,47 bilhão estimado segundo o consenso de analistas consultados pela Bloomberg. O lucro líquido foi de US$ 182,4 bilhões, versus US$ 10,1 milhões um ano antes.

A receita média por cliente (ARPAC, na sigla em inglês), outro indicador observado com atenção por analistas dado o objetivo do banco de rentabilizar a operação, subiu 30% na base anual também livre de efeitos cambiais, para US$ 8,6. Em safras de clientes com mais tempo de casa, a receita média chegou a US$ 24, segundo o banco, o que indica o potencial.

O avanço foi reflexo também do crescimento da base de clientes considerados ativos, que chegou a 64,9 milhões de um total de 79,1 milhões ao fim do primeiro trimestre, ou 82,1% (versus 46,5 milhões de um total de 59,6 milhões no mesmo período de 2022, equivalente a 78%).

“Demonstramos nossa capacidade de aumentar receitas e lucros, mesmo em condições desfavoráveis [...] nossa operação no Brasil evidenciou o potencial do nosso modelo de negócios em escala, com um ROE de 43% e US$ 199,5 milhões em lucro líquido ajustado”, escreveu David Vélez, CEO e cofundador do Nubank, no documento de resultados.

Ao mesmo tempo em que amplia a receita por cliente, o Nubank tem conseguido manter a trajetória de queda do chamado índice de eficiência, que mede a sua capacidade de gerar receita em cima de despesas (quanto menor, melhor): no Brasil, o índice caiu para 36,9% (versus 60,1% um ano antes).

Crescimento em crédito

O aumento do volume de depósitos acontece na esteira de novas estratégias do Nubank para estimular que os clientes mantenham o dinheiro em conta. Em setembro do ano passado, o banco alterou as regras de rendimento de depósitos, remunerando com o equivalente a 100% do CDI apenas aqueles recursos que permanecessem por 30 dias em conta.

Na frente de crédito, a inadimplência com atrasos de 15 a 90 dias subiu de 3,7% no quarto trimestre de 2022 para 4,4% nos três primeiros meses deste ano, segundo o banco, 10 pontos percentuais abaixo de sua sazonalidade histórica para o período. Para atrasos superiores a 90 dias, o índice passou de 5,2% para 5,5%.

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A carteira de crédito subiu 54% na base anual, para US$ 12,8 bilhões, sinalizando que o banco segue agressivo nas concessões apesar do momento adverso do mercado com os juros mais altos e a renda pressionada. A originação cresceu 26% no primeiro trimestre versus o quarto de 2022, depois de três trimestres em que a expansão havia sido mais baixa.

“Enquanto o Nu continua implementando a estratégia de aumentar a porcentagem de empréstimos com cartão de crédito que rendem juros, excluindo rotativo, o desempenho das safras de empréstimos pessoais melhorou nos últimos meses, dando ao Nu a convicção necessária para aumentar a concessão de empréstimos pessoais gradualmente”, apontou o banco no resultado.

- Matéria atualizada às 23h com a cotação no after hours.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.