Bloomberg Línea — A Petrobras (PETR3; PETR4) informou que trabalha em uma revisão da sua política de preços de combustíveis, que será analisada nos próximos dias pela diretoria executiva da empresa.
Segundo comunicado enviado neste domingo (14) à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a estatal de capital misto disse que a revisão poderá resultar em uma nova estratégia comercial para definição de preços do diesel e gasolina.
As alterações em suas políticas de preço para os dois derivados serão avaliadas no início da semana, informou o documento, sem fornecer detalhes.
“Eventuais mudanças estarão pautadas em estudos técnicos, em observância às práticas de governança e os procedimentos internos aplicáveis”, disse a petroleira.
Desde a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro, o mercado trabalha com a expectativa de uma nova política comercial para os combustíveis, já que durante a campanha eleitoral o petista adotava um discurso de defesa de medidas para redução do custo de vida.
Neste ano, a estatal já realizou reduções pontuais nos preços de combustíveis, mas o CEO da companhia, Jean Paul Prates, evitava se comprometer publicamente com uma medida drástica de fim da paridade dos preços internos com as cotações no mercado internacional.
Na última sexta-feira (12), Prates já indicava que haveria novidades sobre a política comercial nesta semana, durante entrevista coletiva para comentar o balanço do primeiro trimestre.
“Vamos continuar seguindo a referência internacional e a competitividade interna em cada mercado. Não vamos perder venda, não vamos deixar de ter um preço mais atrativo para nossos clientes”, afirmou o CEO.
O preço da gasolina comum registrou alta de 12,2% no Brasil no primeiro quadrimestre do ano, segundo o Panorama Veloe de Indicadores de Mobilidade Urbana, realizado em parceria com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Em abril, a média nacional do preço da gasolina comum ficou em R$ 5,578.
O levantamento apontou que, no primeiro quadrimestre do ano, houve aumento de 10,6% no preço da gasolina aditivada, e de 4,8% no etanol hidratado. Já o GNV (gás natural veicular) e o diesel apresentaram queda nos primeiros quatro meses do ano.
Segundo a pesquisa, o diesel S10 foi o que registrou a maior queda (-9,9%) no acumulado de janeiro a abril, enquanto o diesel comum teve redução média de 8,9% no preço, e o GNV caiu 7,5%.
Combustível, inflação e juros
Economistas apontam os preços elevados dos combustíveis como um componente crucial para o cálculo dos índices de inflação.
Caso confirmada uma nova queda nos preços da gasolina e do diesel, o governo abria caminho para acelerar o processo de desinflação, dando a senha para o Banco Central ter elementos concretos para o início de um ciclo de baixa da taxa Selic, atualmente 13,75% ao ano, o que faz o Brasil o país com a maior taxa real de juro do mundo.
Na semana passada, foi divulgado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do país, que apurou uma alta de 0,61% em abril, acima do esperado pelo mercado (0,55%).
Em 12 meses, a inflação acumula alta de 4,2% (vindo de 4,7% em março). Essa alta foi impulsionada pelos reajustes de medicamentos (5,3%, em vigor desde 1º de abril) e alimentos.
“Projetamos o IPCA em 6,0% em 2023, mas, nesse momento, vemos viés de baixa tendo em vista eventuais reduções de preços na gasolina e gás de botijão no curto prazo. Projetamos 4,5% para o IPCA no próximo ano, incorporando alguma desancoragem nas expectativas de inflação”, apontou um relatório do Itaú BBA, assinado pelas analistas Julia Passabom e Luciana Rabelo.
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