Falta de grãos de café pressiona o preço até das alternativas mais econômicas

Demanda por produtos mais acessíveis fez disparar o preço do café ‘robusta’, também conhecido como conilon, muito usado no café solúvel

No Brasil, o café solúvel acumula alta de 12,32% em 12 meses até abril
Por Mumbi Gitau - Dayanne Sousa - Mai Ngoc Chau
14 de Maio, 2023 | 11:00 AM

Bloomberg — O aumento do custo de vida no mundo levou os consumidores de café a migrar para alternativas mais baratas nos últimos anos. Mas a escassez de grãos de café robusta (uma variedade comum no Brasil, também conhecida como Conilon) tem tornado mais difícil encontrar uma xícara de café mais econômica.

Embora muitos amantes do café prefiram os grãos arábica de alta qualidade, o café robusta é normalmente mais barato porque a árvore é mais resistente e requer menos cuidado, facilitando a produção em grandes quantidades.

A variedade é frequentemente usada em cafés instantâneos, expressos e misturas moídas vendidas em supermercados, que têm sido mais procurados à medida que consumidores buscam alternativas diante do orçamento mais apertado.

Os principais produtores, no entanto, estão encontrando dificuldades para acompanhar o aumento da demanda. Nesta semana, os preços no atacado atingiram o nível mais alto em quase doze anos.

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Para os consumidores do maior mercado de café da Europa, a Alemanha, o aperto está tendo um efeito perceptível nos custos de varejo. Os cafés instantâneas tiveram aumento de quase 20% em um ano, mesmo com perda da força da a inflação dos grãos de café.

Nos Estados Unidos, a desaceleração dos preços foi menor para o café instantâneo do que para o café torrado em abril.

Já no Brasil, o café solúvel acumula alta de 12,32% em 12 meses até abril, bem acima da inflação da categoria de alimentos e bebidas (5,88%) no mesmo período. Enquanto isso, o café moído teve queda de 2,50% em um ano. Já na categoria de alimentação fora de casa, o cafezinho servido em restaurantes e padarias teve alta de 9,58% em 12 meses, de acordo com o IBGE.

Quando o preço do café vai diminuir?

As chances de que a escassez global do café robusta diminua parecem remotas. O Vietnã - o maior produtor mundial - caminha para ter a sua menor colheita em quatro anos, depois que os agricultores se concentraram em plantar culturas mais lucrativas, como abacates e duriões (uma fruta popular na Ásia), para lidar com os crescentes custos de fertilizantes após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

O Brasil, o segundo maior produtor da variedade, viu suas safras serem prejudicadas pela seca, e também há preocupações de que a produção da Indonésia possa sofrer com as fortes chuvas.

Preços do café robusta no atacado atingiu o maior valor em 12 anos

Apesar desses obstáculos, mais grãos de café robusta foram exportados globalmente nos primeiros seis meses da temporada atual em comparação com os últimos três anos – mas não rápido o suficiente para atender à demanda maior.

Os embarques entre outubro e março foram cerca de 4% maiores do que no mesmo período em 2021-22, segundo a Organização Internacional do Café.

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“Houve uma mudança tão grande na demanda do café de preço mais alto que nem mesmo o mercado está satisfeito com as exportações de [café] robusta mais altas”, disse Judith Ganes, que dirige uma consultoria focada em commodities como café em Nova York.

A mudança foi observada pela primeira vez entre os torrefadores que aumentaram a quantidade de café robusta usada em misturas comerciais para compensar custos mais altos de café arábica e contas de energia.

Então, a inflação de dois dígitos em muitas partes do mundo fez com que as contas de supermercado subissem para o nível mais alto em décadas, forçando alguns consumidores a negociar opções mais baratas.

Como resultado, o café solúvel rico em robusta está crescendo mais rápido do que outros segmentos da indústria, de acordo com Aguinaldo Lima, da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel, cujo país é o maior produtor mundial de café solúvel.

E empresas líderes em outros lugares, como a Nestlé e a indiana Tata Coffee, também relataram uma demanda mais forte por café instantâneo em seus últimos relatórios financeiros.

Embora os grãos de café robusta sejam significativamente mais amargos do que a variedade arábica - em parte devido aos níveis mais altos de cafeína - o Vietnã e a Indonésia melhoraram a qualidade de seus grãos, tornando mais fácil para os torrefadores aumentar a variedade em misturas sem afetar drasticamente o gosto, de acordo com Ganes.

Os consumidores podem descobrir “sabores muito interessantes” bebendo café robusta, mesmo que o sabor seja diferente do café arábica, disse Daniel Munari, barista que também administra o Royalty Quality Cafe, no sul do Brasil.

“Tem doçura e acidez, que são um ótimo complemento e dão equilíbrio à bebida”, disse.

-- Com colaboração de Filipe Serrano, da Bloomberg Línea.

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