Esta gestora comprou 15% da Light às vésperas do pedido de recuperação

Gestora de distressed assets que tem posições relevantes em varejistas com dificuldades de caixa e crédito, WNT aposta agora na recuperação da distribuidora de energia

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Bloomberg Línea — Onde há crise, há oportunidade de lucro? Para gestoras de distressed assets (ativos problemáticos), a lógica do quanto pior melhor costuma ser o caminho em busca de ganhos acima da média, apesar do elevados riscos envolvidos nessas operações.

Nesse mercado, a WNT Capital é conhecida na Faria Lima pelas apostas agressivas. Na noite de quinta-feira (11), um fato relevante revelou que a gestora de recursos focada em crédito adquiriu uma participação relevante de 15,21% da empresa de energia Light (LIGT3), que pediu recuperação judicial nesta sexta-feira (12).

Com sede no edifício Pátio Victor Malzoni, a WNT Capital é comandada pelo trader Valério Marega Junior, que começou a carreira no banco americano de investimentos Bulltick Capital Markets como head de commodities. Ele trabalhou também na Latour Capital, na área de structured finance.

Segundo fontes do mercado, a WNT representaria os interesses de Nelson Tanure e de Daniel Vorcaro, do Banco Master, ambos especializados em negociar e recuperar distressed assets. A assessoria da WNT diz que os fundos que compraram ações da Light não têm relação com Tanure.

A WNT tem cerca de R$ 10,6 bilhões sob gestão em 100 fundos que apostam, especialmente, em companhias com problemas de caixa.

Marega Junior não quis conceder entrevista.

Além dos 15,21% da Light, a WNT tem participação de 40% na varejista de artigos de vestuário de moda de alto padrão Veste (ex-Restoque, dona de marcas como Le Lis, John John e Dudalina), 30% na IngressoLive, plataforma para venda de ingressos, e 28% da Westwing (WEST3), marketplace de produtos de decoração e lifestyle, segundo a gestora.

Em comum, essas companhias atuam em setores castigados pelo cenário macroeconômico de aperto monetário, como o varejo, ou pela pandemia, como o de entretenimento, em que shows e outros eventos presenciais foram paralisados.

No caso da distribuidora fluminense de energia, cujas receitas, segundo a companhia, têm sofrido com ligações clandestinas, a WNT não expressa intenção de interferir na gestão.

Na correspondência enviada à Light, a WNT informou que a participação de 15,21% foi adquirida com o objetivo de aumentar a exposição dos fundos de investimento sob sua gestão, descartando a existência de” qualquer acordo ou contrato regulando o exercício do direito de voto ou a compra e venda” de valores mobiliários da Light por parte dos seus fundos.

Na Westwing, a WNT iniciou com uma posição de 7%, segundo o CEO da plataforma, Andres Mutschler, em entrevista recente à Bloomberg Línea.

“Não controlamos quem compra nossas ações. Temos interações com fundos. Só podemos inferir os motivos. Eles acreditam no potencial de valorização da companhia, pois nossa ação caiu muito desde o IPO.”

“Com certeza esse investidor decidiu entrar no patamar mais barato do papel de olho no retorno no futuro, mas isso não interfere nos rumos da companhia, não tem assento em conselho nem em outro órgão de governança”, afirmou Mutschler. O principal investidor é a gestora de private equity Axxon.

Início no mercado de café

Marega Junior é apresentado como diretor comercial no site da WNT, informando que ele iniciou a carreira com atuação independente de trading nas principais bolsas mundiais de ações e futuros, chegando a representar cerca de 23% do volume negociado no mercado futuro brasileiro de café.

“Como agente autônomo, foi o primeiro no país a criar e distribuir gratuitamente análises diárias de mercado para seus clientes com foco no agronegócio, incluindo café, boi, soja, milho, açúcar e álcool”, segundo perfil publicado no site.

Além de Marega Junior, o quadro societário da gestora é formada por Mario Sérgio Duarte Garcia Neto (diretor de gestão de risco), Rosana Muniz (responsável pela área contábil e financeira) e Adriana Elian Jimenez, segundo o registro do seu CNPJ, que a enquadra como uma DTVM (distribuidora de títulos e valores mobiliários) aberta em 31 de março de 2022, com capital inicial de R$ 4 milhões. A sigla do nome da gestora significa Why NoT.

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