Bloomberg — O SoftBank Group voltou a perder dinheiro neste início de ano com o Vision Fund apesar da recuperação recente de ações de tecnologia. O grupo japonês teve perdas com startups de seu portfólio que não estão listadas em bolsa. Mas o tom adotado para as perspectivas mudou, o que sugere que o maior investidor em empresas techs do mundo está pronto para retomar o seu apetite. E há uma preferência no radar de Masayoshi Son, o seu fundador e CEO: Inteligência Artificial (IA) generativa.
O Vision Fund perdeu 297,5 bilhões de ienes (cerca de US$2 bilhões) no primeiro trimestre, ante uma perda de 2,2 trilhões de ienes observada um ano antes, segundo resultado divulgado nesta quinta (11).
Lançado por Masayoshi Son em 2017, o Vision Fun já acumula perda recorde de 4,3 trilhões de ienes no ano fiscal completo, acima do prejuízo do ano anterior, de 2,6 trilhões de ienes.
Embora o SoftBank venha perdendo dinheiro nos anos recentes em paralelo com o aumento das taxas de juros no mundo desenvolvido, os últimos resultados surpreendem em certa medida porque o setor de tecnologia nas bolsas do mundo todo vem se recuperando neste ano.
O índice Nasdaq 100, que funciona como benchmark, subiu 20% durante o primeiro trimestre, o que ajudou a elevar os preços das ações de alguns dos maiores investimentos do SoftBank, como a sul-coreana Coupang (+9%) e a chinesa DiDi Global, que avançou cerca de 20%. O SoftBank contabiliza esses ganhos das empresas de seu portfólio em sua demonstração de resultados.
Mas o SoftBank reduziu o valor das empresas privadas de seu portfólio no primeiro trimestre (US$ 3,9 bilhões) em montante acima da valorização dos papéis das de capital aberto (US$ 1,9 bilhão).
Amir Anvarzadeh, estrategista da Asymmetric Advisors, em Cingapura, disse que o SoftBank pode ter reduzido o valor das participações em empresas privadas para acompanhar o declínio geral do mercado em períodos anteriores. “Os nomes não listados em bolsa, que representam algo em torno de 60% de seus investimentos totais, não foram reduzidos em mais de 20%”, escreveu em uma nota.
Em teleconferência com investidores, Yoshimitsu Goto, diretor financeiro (CFO) do SoftBank e braço direito de Son, reconheceu que o ano passado foi muito difícil, o que forçou a empresa a reduzir as avaliações de quase 350 empresas. “Defesa total”, ele declarou em um slide sobre o ano fiscal que acabou de terminar.
De volta ao ataque
Os investimentos em startups do SoftBank foram interrompidos bruscamente durante o ano, com os aqueles do Vision Fund caindo mais de 90%, para US$ 3,14 bilhões. Goto explicou que o SoftBank teve o cuidado de manter bastante dinheiro em caixa para cobrir dívidas e outras obrigações, em parte vendendo a maior parte de suas participações no Alibaba Group.
Mas Goto sugeriu que o SoftBank pode voltar a investir mais ativamente novamente. Ele disse que se reúne com Son diariamente e que o CEO está tão cheio de entusiasmo com o tema da inteligência artificial, especialmente com a IA generativa, como o ChatGPT, que ele se preocupa com as horas dormidas do seu chefe. “Chegou a minha hora”, tem dito Son, de acordo com Goto.
O SoftBank não vai mergulhar em novos investimentos imediatamente, mas está mais aberto a possíveis negócios do que no passado. “Neste ano, se estivermos confortáveis, depois de verificarmos todos os aspectos, queremos tomar os passos [necessários de aporte], um a um.”
IPO da Arm
Analistas estão céticos quanto ao fato de Son voltar a fazer negócios muito rapidamente. Talvez ele precise levantar capital por meio da IPO da Arm, empresa de chips, antes de começar a gastar dinheiro novamente. “Se a IPO da Arm ocorrer em um valor decente, não acho que seja negativo”, disse Sharon Chen, analista de crédito da Bloomberg Intelligence. “Mas se a empresa aumentar os investimentos antes da IPO da Arm, isso provavelmente será negativo.”
A Arm apresentou aumento das vendas líquidas de 28% para ¥92,8 bilhões no quarto trimestre fiscal, em comparação com o ano anterior. As taxas de câmbio tiveram um efeito significativo sobre os resultados. As vendas líquidas em dólares americanos aumentaram 12%, chegando a US$ 696 milhões.
Bancos de investimento propuseram uma avaliação entre US$ 30 bilhões e US$ 70 bilhões para a listagem da Arm, uma faixa ampla que reflete os desafios de avaliar a empresa em um cenário de preços voláteis de ações de semicondutores.
“A história da Arm é fundamental e a avaliação é importante, mas isso pode estar mais à mercê dos mercados do que o SoftBank gostaria”, disse Mio Kato, analista da LightStream Research que publica no Smartkarma.
Venda de ativos
O SoftBank se desfez de mais US$ 7,3 bilhões em ações do Alibaba neste ano por meio de contratos a termo pré-pagos, de acordo com uma análise da Bloomberg de registros regulatórios. Isso pode ter reduzido as ações do SoftBank no Alibaba para cerca de 3,8%. Goto disse que o SoftBank ainda tem a opção de comprar de volta as ações ou encerrar as opções.
Em abril, o grupo avisou que está vendendo sua divisão de capital de risco em estágio inicial, o SoftBank Ventures Asia Corp., para uma entidade liderada por Taizo Son, o irmão mais novo de Son. Os termos do acordo não foram divulgados.
A venda da incubadora de startups poderia aliviar a carga de financiamento do SoftBank, enquanto a venda de ações do Alibaba ajudaria a maximizar a receita de desinvestimento do SoftBank, escreveu o analista da Bloomberg Intelligence Marvin Lo em uma nota no mês passado.
O SoftBank também está se aproximando de um acordo para vender o Fortress Investment Group para o Mubadala por até US$ 3 bilhões, informou o Financial Times, citando pessoas não identificadas informadas sobre o assunto. Goto se recusou a comentar sobre o assunto.
Isso ajudaria o preço das ações do SoftBank, disse Victor Galliano, um analista independente que publica no Smartkarma. “O foco, por enquanto, deve ser a realização de investimentos sempre que possível e a redução da alavancagem, e esperamos talvez mais divulgação sobre as dívidas de Masa com o grupo.”
Goto sugeriu que os investidores ouvirão o próprio Son se o SoftBank voltar ao modo ofensivo de um passado recente. Isso porque o bilionário gostaria de transmitir uma mensagem mais clara se começar a buscar negócios novamente.
“Não é que investiremos apenas em IA generativa”, disse Goto. “Gostaríamos de considerar qualquer coisa relacionada à IA. Talvez não seja muito rápido, precisaremos ser seletivos.”
- Com a colaboração de Ayai Tomisawa e Vlad Savov.
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