No inverno das startups, Solfácil tem primeiro lucro e recusa ofertas de venda

CEO Fábio Carrara afirma à Bloomberg Línea que tamanho da startup já possibilitaria um IPO, mas que não há planos no curto prazo; e conta os próximos passos

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11 de Maio, 2023 | 08:08 AM

Bloomberg Línea — A Solfácil, startup brasileira que fornece financiamento para a instalação de painéis de energia solar, considera uma oferta pública inicial (IPO na sigla em inglês) nos Estados Unidos como uma opção de saída para seus investidores, embora a operação não esteja no radar para o curto prazo. Enquanto isso, ciente do novo momento adverso para startups diante da redução de capital disponível, conseguiu atingir o primeiro resultado trimestral com lucro ao mesmo tempo em que mantém o crescimento acelerado.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO, Fábio Carrara, disse que a empresa atingiu um valor alto o suficiente para dificultar uma aquisição por parte de outra companhia.

“A Solfácil já recebeu várias ofertas de aquisição, mas negamos. Em geral as saídas significam um ganho financeiro, mas provavelmente com a governança de um [investidor] estratégico você perde muito upside e oportunidades”, disse.

A empresa de capital fechado tem como investidores de VCs (venture capital) QED Investors, Fifth Wall, SoftBank, Valor Capital Group e VEF.

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Também investem Spectra e Bossanova, mas por meio de exposição indireta nos fundos Valor III e SP Ventures, respectivamente, segundo apurou a Bloomberg Línea. A Solfácil não confirmou a informação.

“Começamos inicialmente como uma fintech. Seria natural um dos grandes bancos brasileiros eventualmente se interessar em comprar, por sermos um player nichado solar. Mas se nós tivéssemos sido comprados por um banco, seria bem provável que nós não teríamos desenvolvido nosso ecossistema de e-commerce. Banco é banco e vai continuar sendo banco”, afirmou o empreendedor.

A Solfácil levantou R$ 1,2 bilhão em 2022, sendo R$ 625 milhões (US$ 114 milhões) em financiamento de dívida com o Goldman Sachs. Carrara afirmou que esse financiamento foi exclusivamente usado para financiar operações de crédito e que a empresa tem se estruturado constantemente junto ao mercado de capitais, também por meio de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios).

A Solfácil é a climatech da América Latina que mais recebeu dinheiro de investidores externos. Mesmo que o cenário de investimentos de risco não esteja favorável por causa das altas taxas de juros, startups desse segmento receberam avaliações mais altas e rodadas maiores do que as demais empresas novatas, segundo dados da plataforma Carta, que analisou apenas startups americanas.

No ano passado, a Solfácil completou uma rodada Série C de US$ 130 milhões e usou parte desse financiamento para adquirir a Solar Inove, uma distribuidora de painéis solares, para consolidar sua estratégia de venda de kits solares por meio de suas próprias lojas.

Pesando um IPO

A grande vantagem do IPO, para o CEO, é que o acesso ao mercado de capitais vira uma moeda de troca líquida para aquisições, ainda que ele afirme que não há novos negócios no radar.

A empresa também ainda não tem uma agenda definida para sua oferta pública inicial, já que ainda tem cerca de três a quatro anos antes que seus fundos precisem de uma saída.

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Por outro lado, um IPO limita a inovação pela pressão de explicar resultados a cada trimestre, segundo Carrara.

“Nem sempre entregamos o plano previsto, mas, muitas vezes, adaptamos para um plano ainda melhor. Esse é o tipo de coisa que você não consegue fazer com empresa pública. Não quero fazer um IPO, mas sabemos o tamanho que atingimos e o nível de faturamento. Existem várias empresas muito menores que já tiveram capacidade e fizeram um IPO”, afirmou Carrara. “Quando nós sentamos com investidores para fazer uma rodada privada, muitos falam ‘você já é uma empresa candidata a IPO’.”

Empresa tem 1º lucro em 2022

De acordo com o empreendedor, a Solfácil alcançou números recordes de receita no último trimestre de 2022 e teve seu primeiro lucro, em um momento em que startups brasileiras buscam traçar um caminho para rentabilidade como resposta a um cenário macroeconômico em que o dinheiro ficou mais caro.

Carrara não informou os números, mas disse que a fintech está no caminho para crescer quatro vezes sua receita em 2023 em relação a 2022, mantendo a lucratividade.

No primeiro trimestre de 2023, contudo, a fintech teve prejuízo, ao que Carrara considerou ser o efeito da sazonalizade, em um período mais lento para a indústria solar somado ao impacto da transição para um novo modelo de compensação de energia solar em janeiro, o que levou a um aumento na demanda no quarto trimestre de 2022.

A nova resolução estabelece as regras para a geração distribuída de energia elétrica no Brasil, permitindo que consumidores residenciais, comerciais e industriais possam gerar sua própria energia elétrica a partir de fontes renováveis, como energia solar fotovoltaica, eólica e hidráulica, e injetar o excedente na rede elétrica para posterior compensação na conta de luz.

“Já faz um ano que foi aprovado o marco regulatório para a geração distribuída, que determinou como seria o modelo de compensação para os próximos anos. Antes injetava-se um kilowatt/hora na rede de energia e isso era compensado 1:1 no valor da tarifa de energia”, explicou Carrara.

“A partir de 2023 começou um processo linear em que o valor dessa energia injetada passa a valer um pouco menos. Naturalmente o pessoal usou isso como argumento de venda e antecipação de demanda para os meses de novembro e dezembro, que são normalmente os meses mais fortes do ano para energia solar.”

De olho na inadimplência

A startup viu a inadimplência aumentar em relação a dois anos atrás, mas Carrara disse acreditar que isso não seja um problema se for ajustado na precificação. A Solfácil tem ajustado seus modelos de crédito e precificação para refletir as condições reais do mercado.

A empresa tem diversificado suas fontes de receita e ampliado seu ecossistema para se proteger das dificuldades relacionadas às taxas de juros mais elevadas no mercado de crédito.

Startups normalmente precisam de crescimento elevado para ter acesso a novo capital que levem a valuations elevados, mas crescer com crédito em um mercado mais difícil envolve mais riscos.

Segundo o CEO, a fintech tem sido mais conservadora na originação e apostado nas vendas de kits fotovoltaicos e operações de e-commerce para continuar a crescer. A empresa também tem escalado sua operação de seguros para proteger tanto clientes quanto agentes financiadores.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups