Bloomberg — As preocupações crescentes de investidores sobre a possibilidade de um calote - default - do governo dos Estados Unidos diante do impasse do teto da dívida elevaram o custo do seguro dos títulos americanos acima dos de muitos mercados emergentes e nações classificadas como junk.
Isso tornou os títulos do Tesouro americanos mais caros de garantir do que a dívida de países como Grécia, México e Brasil, que deram calote várias vezes e têm classificações de crédito significativamente mais baixas do que o rating “AAA” dos Estados Unidos.
Poucos investidores duvidam de que os EUA pagarão suas dívidas. Mas mesmo uma inadimplência técnica – que apenas atrasa os pagamentos de juros e principal – perturbaria o mercado de US$ 24 trilhões do Tesouro, o alicerce do sistema financeiro global. Para os detentores de contratos swaps de inadimplência de crédito, tal cenário renderia um retorno lucrativo.
“Há uma espécie de aposta acontecendo no CDS [Credit Default Swap] dos EUA”, disse John Canavan, analista-chefe da Oxford Economics. “Não é um jogo puro que o Tesouro entrará em default e permanecerá inadimplente. Nesse sentido, é diferente de países como a Grécia ou o México, onde a preocupação seria que o governo entrasse em default e nunca pagasse de volta”, explicou.
Na última reviravolta em Washington, o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, teria dito que se opunha à uma extensão do limite de dívida de curto prazo que permitiria ao Tesouro tomar empréstimos até o final do ano fiscal em 30 de setembro para evitar um calote, mas prometeu negociações sobre gastos que abririam as portas para um possível acordo.
Isso aconteceu depois que a secretária do Tesouro, Janet Yellen, repetiu seu alerta de que o Tesouro corre o risco de ficar sem espaço para não extrapolar o teto da dívida já em 1º de junho – data em que o governo esgota suas opções de financiamento, definida como “dia X”.
O imbróglio alimentou um aumento na demanda por swaps de crédito norte-americanos denominados em euros, os mais negociados. Esses contratos contra um calote no próximo ano foram negociados a 166 pontos-base nesta quarta-feira (10), perto de um recorde e superando os níveis durante os impasses anteriores do teto da dívida em 2011 e 2013.
As negociações decolaram devido à uma peculiaridade do mercado de derivativos que permitirá aos detentores colher retornos consideráveis em caso de inadimplência.
Seu retorno será igual à diferença entre o valor de mercado e o valor nominal do ativo, uma proposta atraente quando os títulos do Tesouro de longo prazo estão sendo negociados particularmente baratos. O pagamento potencial pode exceder 2.400%, de acordo com cálculos da Bloomberg.
“Coloquei alguma proteção de grau de investimento CDX em meu fundo na semana passada e procurarei aumentar essa posição nas próximas semanas”, disse Luke Hickmore, diretor de investimentos da abrdn. Ele também está revisando sua exposição aos títulos do Tesouro dos EUA, avançando para títulos de prazo mais longo.
Os CDS dos EUA são principalmente denominados em euros, enquanto os de mercados emergentes tendem a ser denominados em dólares. Mas, mesmo levando em conta essa diferença cambial, assegurar a exposição à dívida dos EUA por meio de CDS de um ano é muitas vezes mais caro do que no Brasil e no México, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Mercados emergentes
De acordo com Simon Waever, analista do Morgan Stanley (MS), os volumes nocionais líquidos de CDS dos EUA são agora comparáveis a muitos mercados emergentes maiores, em US$ 5,5 bilhões. Ironicamente, os mercados emergentes serão os mais atingidos por quaisquer repercussões de mercado mais amplas.
“A história sugere que ativos de risco, incluindo spreads de CDS soberanos de EM, começam a reagir um mês antes da data X”, diz Waever. “É uma razão para não adicionar risco de crédito soberano de mercado emergente.”
A anomalia é limitada ao CDS de um ano. Essa curva invertida indica que os riscos são considerados maiores no futuro imediato do que no longo prazo.
E a maioria dos investidores continua relativamente confiante de que um default técnico será evitado por meio de um acordo de última hora, como já aconteceu diversas vezes no passado.
“O preço do CDS reflete o custo de garantir um empréstimo muito grande em um mercado de seguros muito pequeno”, diz Charles Diebel, diretor de renda fixa da Mediolanum International Funds. “Você não pode passar do preço do CDS para a probabilidade de resultados.”
-- Com a colaboração de Robert Brand.
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