Light é alvo de Tanure enquanto discute perdas crescentes com furto de energia

Negociação sobre renovação da concessão para fornecer energia no Rio esquenta com declaração de ministro de Minas e Energia de que a concessionária é ineficiente

Linha de transmissão no Rio de Janeiro com os chamados 'gatos', que são extensões ilegais para furto de energia (Bloomberg)
Por Peter Millard - Cristiane Lucchesi
09 de Maio, 2023 | 09:14 AM

Bloomberg — A Light, companhia elétrica do Rio de Janeiro, diz que tantas pessoas estão furtando energia na cidade que ela foi levada à inadimplência com seus fornecedores, o que levou a uma queda brusca no preço de suas ações e atraiu um veterano comprador de empresas brasileiras em dificuldades.

A Light (LIGT3) diz que perdeu cerca de R$ 1 bilhão só no ano passado devido a conexões ilegais que se acumulam como ninhos de pássaros em postes de energia nas famosas favelas do Rio, com custos judiciais e inadimplência. Isso mesmo depois de anos de investimento da concessionária para evitar roubos.

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A empresa de 120 anos diz que não pode continuar absorvendo as perdas e, à medida que o prazo de junho se aproxima, ela poderá rescindir seu contrato com a cidade, um passo improvável e sem precedentes que tem o potencial de lançar a segunda maior cidade do Brasil em uma crise de fornecimento de eletricidade.

No ano passado, a Light registrou seus piores resultados desde pelo menos 2006, com a desaceleração econômica reduzindo a demanda de grandes clientes e fazendo crescer a inadimplência de pessoas físicas, enquanto seus níveis de endividamento dispararam devido ao aumento da taxa de juros.

Agora a Light está pressionando o governo a aumentar as tarifas de energia. Caso contrário, a empresa diz que o negócio é inviável. Ela pode vir a usar a sua holding para pedir recuperação judicial, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto que falou à Bloomberg News.

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“Todo mundo esperava que as perdas de energia diminuíssem, e isso foi uma frustração”, disse Lucas Rios, analista principal da Light na Fitch Ratings. Se a holding entrar com pedido de recuperação judicial, “vai ser muito difícil”.

A empresa já obteve uma ordem judicial que permite interromper temporariamente os pagamentos aos credores financeiros, que as empresas de classificação de risco, incluindo a S&P Global Markets, disseram que significa inadimplência. Os títulos da dívida da Light em dólar deram aos investidores perdas de 55% neste ano, entre os de pior desempenho na América Latina. As ações, por sua vez, caíram 18%.

Após o tombo, um dos mais conhecidos e controversos investidores em empresas inadimplentes do Brasil, Nelson Tanure, entrou e comprou uma participação de 10%.

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O investidor, hoje com 71 anos, fez sua reputação a partir dos anos 80, quando comprou um estaleiro falido. Desde então, ele adquiriu fatias em empresas imobiliárias, petrolíferas, jornalísticas, de saúde e de telecomunicações, incluindo a Oi (OIBR3), depois que ela entrou com pedido de recuperação judicial pela primeira vez em 2016.

Tanure disse a assessores de detentores de debêntures da Light em uma reunião na semana passada que planeja investir até R$ 1 bilhão a mais, segundo pessoas familiarizadas com a reunião.

Isso o tornaria potencialmente o maior acionista, superando o bilionário Carlos Alberto Sicupira (o mesmo que controla a Americanas, em recuperação judicial, ao lado de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles), que detém cerca de 10% das ações, e Ronaldo Cezar Coelho, que hoje possui 20%. Tanure também disse que pode tentar mudar a administração e os assessores da Light, disseram as pessoas.

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Nelson Tanure não quis comentar.

Os fundos administrados pela Tempo Capital, gestora de ativos focada em ações brasileiras, também aumentaram sua participação total para 7,16%, disse a Light em um comunicado de abril.

A empresa, que fornece energia para 11,6 milhões de pessoas usando mais de 80 mil quilômetros de linhas de transmissão, contratou Octavio Lopes como CEO no ano passado, vindo da Tok&Stok, outra empresa em dificuldades financeiras.

Um veterano de private equity que ajudou a recuperar uma empresa de serviços públicos com problemas no Estado do Maranhão, Lopes está adotando uma “estratégia oportunista” para obter os melhores termos possíveis para a Light, disse Rios.

A empresa disse que só pode prosseguir com a concessão se puder cobrar tarifas mais altas para compensar o furto generalizado, principalmente em favelas onde o policiamento é irregular ou inexistente.

Os roubos representaram mais de 27% da carga total da rede no ano passado. A empresa também mudou algumas das metodologias de cálculo das perdas esperadas com a inadimplência, o que contribuiu para um prejuízo líquido de R$ 5,67 bilhões no ano passado. A expectativa é divulgar os resultados do primeiro trimestre nesta quinta-feira (11).

Lopes disse a analistas e investidores no final de março que devolver a concessão é improvável, mas Giuliano Ajeje, analista do UBS, disse que é isso que ele espera que aconteça. Isso levantaria dúvidas sobre quanto dinheiro restará para pagar credores e acionistas, disse ele.

“É uma situação muito complicada”, acrescentou.

Em resposta a perguntas por e-mail, a Light disse que mantém um diálogo construtivo com as autoridades e busca uma “solução estrutural e definitiva” para os problemas históricos da concessão. Um novo contrato precisa levar em conta a situação particular do Rio, ser econômica e financeiramente sustentável e ajudar a fortalecer o setor, disse a empresa.

Governo aponta ‘ineficiência’

No entanto o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sinalizou que as dificuldades nas negociações com a Light só ficarão mais acirradas. Em entrevista à CNN Brasil nesta segunda-feira (8), ele disse que a Light é um exemplo de concessionária ineficiente que não deveria estar envolvida no processo de renovação da concessão.

A Aneel, agência reguladora do setor de energia do país, está revisando as tarifas da Light. Mas há poucas boas opções.

Um aumento muito grande nas tarifas poderia desencadear uma reação em cadeia entre outras concessionárias que buscam benefícios semelhantes. Alternativamente, se a Light usar sua holding para entrar com pedido de recuperação judicial, ela enfrentará uma batalha na Justiça contra os credores. A lei brasileira proíbe as empresas de energia de usar o processo de recuperação judicial.

A medida pode atrapalhar as finanças da cadeia produtiva da Light, de produtores a transmissores de energia, causando mais inadimplência no setor. A Light contratou a Laplace Finance como consultora para a reestruturação de sua dívida no início deste ano, em um sinal de que está pronta para agir em suas negociações com o governo, disse Rios, analista da Fitch.

“Você afetará os fornecedores”, acrescentou. “É uma bagunça.”

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