Itaú dribla inadimplência e consegue elevar lucro e rentabilidade no 1º tri

Maior banco privado do país lucra R$ 8,4 bilhões e amplia rentabilidade medida pelo ROE de 20,4% para 20,7%; inadimplência ficou estável na base trimestral e subiu em 12 meses

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São Paulo — Mesmo com o aumento da inadimplência e das despesas com pessoal no começo de 2023 na base anual, o Itaú Unibanco (ITUB4) lucrou R$ 8,4 bilhões entre janeiro e março, uma alta de 14,6% em 12 meses.

Os fatores negativos foram compensados pelo maior faturamento com cartões, crédito imobiliário, serviços e seguros, bem como com o aumento das receitas de gestão de recursos e de consórcios.

O maior banco privado do país também elevou a rentabilidade medida pelo ROE anualizado (retorno sobre o patrimônio líquido) de 20,4% para 20,7% na base anual (estava em 19,3% no quarto trimestre de 2022). O Itaú tem subido o investimento em meios digitais. As contratações na área de tecnologia ampliaram em 0,9% o quadro de pessoal em 12 meses.

Ao explicar o resultado, a instituição financeira citou o aumento da receita com prestação de serviços e seguros e o crescimento da margem financeira com clientes, impulsionado pelo efeito positivo do crescimento da carteira, combinado com a gradual mudança de mix de produtos.

“Nosso desempenho no primeiro trimestre reflete a trajetória de consistência e solidez que vem sendo contruída nos últimos anos”, disse o CEO do banco, Milton Maluhy Filho, em comentário sobre o resultado.

As ações do Itaú acumulam alta de 4% neste ano até a última sexta-feira (5), contra um desempenho negativo do Ibovespa no período (perda de 5%).

Inadimplência sobe

A carteira de crédito total teve aumento de 11,7% em 12 meses, somando R$ 1,153 trilhão. Já o índice de inadimplência (atrasos acima de 90 dias) ficou estável na base trimestral em 2,9% e subiu na base anual (versus 2,6%).

“A estabilidade do índice de inadimplência acima de 90 dias em 2,9% em uma carteira de crédito de R$ 1,2 trilhão demonstra a nossa qualidade na gestão de riscos”, disse o CFO do banco, Alexsandro Broedel, em comunicado.

Houve, no entanto, aumento de 30,4% no custo de crédito, para R$ 9,1 bilhões, em 12 meses.

“Esse aumento ocorreu principalmente em razão da maior despesa de provisão para créditos de liquidação duvidosa nos negócios de varejo no Brasil, devido à maior originação em produtos de crédito ao consumo e sem garantias”, explicou o banco.

No balanço do quarto trimestre, o Itaú já havia provisionado integralmente sua exposição ao calote da Americanas (AMER3), que deve R$ 2,9 bilhões à instituição e entrou em recuperação judicial em janeiro, o que significa que não há previsão de recebimento e que deve haver desconto nos valores a receber.

Desde então, outras grandes e médias empresas do país, sufocadas pelo aperto monetário ou por erros estratégicos de gestão - ou os dois fatores juntos, em boa parte dos casos - pediram proteção judicial contra credores ou começaram a renegociar dívidas devido ao risco de falência, em um contexto de consumo fraco e disparada das despesas financeiras para rolagem de dívida.

Alta renda como trunfo

As receitas de serviços e seguros do Itaú tiveram alta de 6,7%, na base anual, com o impulso do faturamento de cartões (+11,4%), tanto em emissão quanto em adquirência. Já o crédito imobiliário saltou 24,2% no período. O banco disse está bastante ativo nesse mercado com lançamentos de novas funcionalidades, mesmo com o cenário de juros elevados (taxa Selic de 13,75% ao ano).

Os números apresentados pelo Itaú confirmam as expectativas do mercado de que a instituição apresentaria o maior lucro entre os principais bancos privados do varejo no país. O Santander Brasil (SANB11), que foi o primeiro a divulgar balanço, no mês passado, lucrou R$ 2,1 bilhões, enquanto o Bradesco (BBDC4), que reportou na semana passada, teve lucro de R$ 4,3 bilhões.

“A inadimplência é o ponto chave da temporada de balanços do setor bancário, pois reflete a qualidade das carteiras de crédito. Bradesco e Santander têm carteiras mais arriscadas e deterioradas, porque estão mais expostos à pessoa física, emprestaram muito na época da Selic de 2% ao ano e agora estão sendo penalizados pelos atrasos. O Itaú está mais posicionado na alta renda e isso protege sua rentabilidade”, avaliou o analista José Daronco, da casa de análise Suno Research.

Em relatório, o Goldman Sachs observou que o lucro líquido recorrente de R$ 8,4 bilhões ficou 1% acima da estimativa do banco americano e do mercado.

“Positivamente, os NPLs [indicadores de empréstimos não pagos] ficaram estáveis no trimestre, com o Itaú continuando a ter um desempenho melhor do que os pares. Os depósitos de clientes também se saíram relativamente melhor do que o setor, enquanto a demanda por empréstimos corporativos caiu no trimestre. Acreditamos que os resultados foram em sua maioria positivos, considerando o ROE elevado e as tendências positivas para a qualidade dos ativos”, destacou a equipe do GS, liderada por Tito Labarta.

Já o analista Rafael Reis, do BB Investimentos, manteve a recomendação de compra para a ação do Itaú com preço-alvo de R$ 30,20 para o final de 2023, o que representa um potencial de valorização de 16% com base no preço atual, considerando que o banco deve permanecer registrando menor volatilidade nos resultados entre os bancos de maior porte.

“Continuamos otimistas quanto às ações do Itaú, que seguem como uma de nossas top picks para 2023. Colhendo os frutos de uma postura mais conservadora na concessão de crédito no pós-pandemia, e ainda capitalizando no perfil tradicionalmente mais resiliente de cliente, o Itaú segue apresentando, em nossa opinião, um conjunto de resultados equilibrado quando considerado o contexto de maior seletividade vivido pelo setor”, disse Reis, em relatório.

O especialista do BB acrescentou que as receitas de juros do Itaú permanecem robustas, com a margem com clientes capitaneando os ganhos, em percentual estável sobre a carteira de crédito, mesmo quando considerando o custo de crédito (margem líquida). A cereja no bolo ficou por conta da estabilidade da inadimplência geral no trimestre (2,9%), segundo Reis.

“Consideramos que dentro do atual contexto de desaceleração de crédito (seletividade), juros altos - que pressionam receitas de tesouraria e capacidade de pagamento de empresas e famílias (inadimplência) - e até mesmo crise bancária internacional, o Itaú segue resiliente em sua operação, mostrando desenvoltura na composição de uma carteira que continua a exibir crescimento e rentabilidade tão boas quanto possíveis”, concluiu o especialista do BB Investimentos.

(Atualiza às 10h20 com análise do Goldman Sachs e BB Investimentos)

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