Atrasos de empresas devem se normalizar nos próximos trimestres, diz Maluhy

CEO do Itaú, maior banco privado do país, diz que operação de crédito reduziu o risco ao conceder mais empréstimos para clientes em linhas mais seguras

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São Paulo — Motivo de preocupação do setor bancário ao menos desde o segundo semestre de 2021, quando os juros passaram a subir no Brasil e reduziram a capacidade de pessoas físicas e jurídicas de honrar seus compromissos, a inadimplência dá sinais de trégua no Itaú Unibanco (ITUB4).

Depois de uma relativa estabilidade nos indicadores de atrasos de pagamento no primeiro trimestre, o maior banco privado do país agora espera uma normalização gradual do calote das empresas nos próximos trimestres.

Segundo o CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, decisões tomadas pelo banco nos trimestres anteriores, como a maior seletividade na hora de conceder empréstimos e de emitir cartões, explica essa expectativa. Em outras palavras, o Itaú está operando com nível mais garantido de sua carteira de crédito, em linhas mais seguras, emprestando para clientes com menor risco e com melhor rating.

De janeiro a março, a carteira de crédito do Itaú teve uma estabilidade da inadimplência geral no trimestre na base anual (em 2,9%) e cresceu em linha com o mercado (ao redor de 12%).

“O nível de inadimplência vai continuar nesse patamar estável nos próximos trimestres na pessoa física. Já na pessoa jurídica, o que venho dizendo ao mercado nos últimos trimestres é que esperamos uma normalização gradual em empresas nos próximos trimestres”, afirmou o executivo em teleconferência sobre o balanço nesta manhã de segunda-feira.

Ao detalhar a gestão de portfólio de clientes do banco, ele destacou a busca por maior diversificação da carteira e uma redução de exposição a setores de maior volatilidade, como os ligados a commodities, que apresentam ciclos curtos e sazonais de alta na geração de receita.

Além disso, a instituição financeira tem priorizado emprestar para empresas com investment grade (melhor perfil de endividamento, ou seja, menor risco de calote).

Revisão do PIB

O CEO também explicou a recente revisão da estimativa do banco para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para 2023, que passou de 1,1% para 1,4%. Ele citou como base para essa mudança a previsão positiva para o ritmo de crescimento do agronegócio, a resiliência dos resultados financeiros do primeiro trimestre divulgados pelas companhias e do mercado de trabalho até agora.

“Vemos uma safra agrícola muito forte. O agro vai ter um impacto relevante, um papel fundamental no crescimento do PIB no ano”, observou Maluhy Filho.

Mesmo assim, o executivo ressaltou a postura de cautela na análise do cenário macroeconômico para os próximos trimestres diante da menor demanda no mercado, da redução dos investimentos em bens de capital (capex) e do custo mais caro do crédito com o aperto monetário.

“Vamos observar nos próximos trimestres uma desaceleração da atividade econômica como efeito da política monetária. Ainda continuamos sendo bastante cautelosos. Há menos demanda das empresas por capex. E para o ano que vem ainda tem muita incerteza”, afirmou o CEO, sem sinalizar intenção de revisar o guidance (projeção) de 2023 para a carteira de crédito (crescimento esperado entre 6% e 9%), divulgado ao mercado no começo de fevereiro.

Americanas: evolução em 60 dias

Sobre o calote da Americanas (AMER3), que entrou em recuperação judicial em janeiro, após a revelação de um rombo contábil da ordem de R$ 20 bilhões, Maluhy Filho disse, sem citar nominalmente a varejista, que as negociações de um acordo da empresa com os credores, tanto financeiros (bancos e debenturistas) como não financeiros (fornecedores) ainda estão em andamento.

A exemplo das declarações dos presidentes-executivos de Santander e Bradesco, durante suas divulgações recentes dos balanços do primeiro trimestre, o CEO do Itaú disse ter a expectativa de uma evolução do caso em até 60 dias. O banco tem R$ 2,9 bilhões a receber da Americanas.

“Estamos confortáveis com a provisão que fizemos [100% no balanço do quarto trimestre]. As conversas estão avançando, mas é difícil prever se vamos reverter essa provisão. Não depende só do Itaú. Esperamos ter uma evolução nos próximos 30 ou 60 dias”, ressalvou o executivo.

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