Trabalhando de casa? Sorria, você pode estar sendo monitorado ao vivo

Quase todas as empresas que possuem trabalhadores remotos usam alguma forma de monitoramento, descobriu uma pesquisa com 1.000 líderes empresariais

Maioria das empresas demitiu funcionários ou teve trabalhadores que saíram voluntariamente devido à vigilância
Por Matthew Boyle
06 de Maio, 2023 | 11:27 AM

Bloomberg — Mais de um em cada três empregadores (37%) usa feeds de câmera ao vivo para acompanhar os trabalhadores remotos, levando alguns a pedirem demissão enquanto outros são demitidos, segundo uma nova pesquisa.

Quase todas as empresas que possuem trabalhadores remotos usam alguma forma de monitoramento, descobriu uma pesquisa com 1.000 líderes empresariais do site de carreiras ResumeBuilder.com, com as táticas mais comuns sendo o monitoramento da navegação na web e o bloqueio de determinados aplicativos ou conteúdos.

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A maioria das empresas demitiu funcionários ou teve trabalhadores que saíram voluntariamente devido à vigilância. Ainda assim, quase todos os entrevistados acreditam que o monitoramento melhorou a produtividade, apesar de pesquisas mostrarem que ele pode provocar comportamentos disruptivos.

“Ainda existem companhias lutando para gerenciar sua força de trabalho pós-pandemia. Elas estão tentando fazer de tudo, desde comprar novos softwares a monitorar funcionários, porque não sabem como gerenciar funcionários remotos”, disse Stacie Haller, principal consultora de carreira da ResumeBuilder.com. “É a geração mais velha de gerentes que não está se ajustando.”

Embora os funcionários possam estar diante das câmeras o dia todo, não há garantia de que alguém os esteja observando. Quase metade dos entrevistados disse que esses feeds ao vivo são monitorados por quatro ou menos horas por dia.

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Apenas 6% disseram que estavam checando seus funcionários por oito horas ou mais. Cerca de seis em cada dez dos entrevistados trabalhavam em recursos humanos, disse Haller, com o restante em cargos de sócio ou liderança. A maioria das empresas pesquisadas tinha entre 100 e 500 trabalhadores.

O aumento no monitoramento de trabalhadores decorre do desejo de manter o controle do desempenho quando milhões de trabalhadores corporativos repentinamente ficaram remotos com a chegada da pandemia. O movimento, contudo, também reflete a falta de confiança por parte de alguns gerentes de que seus funcionários podem fazer outras coisas não relacionadas ao trabalho enquanto não estiverem em um escritório.

Na pesquisa, cerca de um terço das empresas disse que seus funcionários gastam três horas ou mais por dia em atividades não relacionadas ao trabalho. A pesquisa também descobriu que o monitoramento dos trabalhadores faz com que eles se sintam menos responsáveis por sua própria conduta, tornando-os mais propensos a quebrar as regras.

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“É compreensível que eles queiram saber o que seus funcionários estão fazendo enquanto se ajustam à essa nova era de trabalho remoto”, disse David Welsh, professor associado da WP Carey School of Business da Arizona State University, cuja pesquisa se concentra em comportamentos antiéticos em locais de trabalho.

“No entanto, o que essas empresas muitas vezes não percebem é que esse monitoramento tem um custo psicológico. Nossa pesquisa sugere que tais práticas inibem a sensação de controle que os funcionários sentem sobre seu trabalho e podem levá-los a agir de outras maneiras”.

Isso pode incluir fazer pausas não aprovadas, desconsiderar instruções e trabalhar propositadamente em um ritmo lento, de acordo com a pesquisa de Welsh.

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Por essas e outras razões, alguns CEOs evitam o monitoramento. “Eu realmente não gosto de espionar os funcionários de forma alguma”, disse Daniel Yanisse, cofundador e CEO da Checkr Inc., que realiza verificações avançadas de antecedentes para os empregadores. “Quero confiar nos meus funcionários.”

-- Com a colaboração de Jeffrey Green

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