Como a CCR avalia o ambiente de negócios para os leilões no governo Lula

2023 deve ser um ano de consolidação e recuperação do portfólio da empresa, disse em entrevista à Bloomberg Línea a superintendente de RI, Flávia Godoy

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Bloomberg Línea — Em um ambiente de incertezas de novos leilões de infraestrutura, principalmente no âmbito federal, a CCR (CCRO3) deve concentrar esforços no portfólio atual para continuar a crescer. Em entrevista à Bloomberg Línea, a superintendente de Relações com Investidores (RI), Flávia Godoy, afirmou que os modais em que o grupo atua ainda têm recuperação por vir, o que deve trazer crescimento à frente.

O grupo conquistou uma parcela relevante do seu portfólio atual em 2021, com destaque para os leilões de aeroportos e das linhas 8 e 9 da CPTM, além da renovação do contrato da Rodovia Presidente Dutra, que faz a ligação entre as duas maiores economias do país, São Paulo e Rio de Janeiro.

“Nossa companhia entregou resultados sólidos e alguns modais têm tendência forte de recuperação, como mobilidade urbana e aeroportuário. O portfólio é bastante resiliente e, embora diversificado, tem previsibilidade na geração de caixa”, afirmou a executiva.

Ela relatou que o grupo está em um momento de pico de investimentos. “Isso decorre da adição dos novos negócios. Encerramos o primeiro trimestre com um capex de R$ 1,3 bilhão, bastante concentrado em linhas 8 e 9 (da CPTM), com aquisição de novos trens, e melhorias na Rio-SP (Nova Dutra), além dos aeroportos.”

O grupo encerrou o primeiro trimestre com uma alavancagem medida pela dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 2,9 vezes, praticamente estável em relação ao período anterior.

Neste contexto, Godoy afirma que a CCR tem condições de continuar avaliando oportunidades que façam sentido, com disciplina de capital. “Vamos seguir buscando novas oportunidades, mas de uma forma seletiva.”

A executiva disse que está confiante de que o cronograma de leilões de infraestrutura deve ser mantido, apesar dos sinais do governo federal de privilegiar iniciativas próprias como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em detrimento de grandes projetos de concessões.

Godoy citou como oportunidades à frente o projeto paulista do Trem Intercidades (TIC), que ligará a estação Palmeiras-Barra Funda, na capital, à cidade de Campinas. A executiva também destaca a relicitação do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal (RN), prevista para este mês.

Ela vê ainda no cronograma projetos como o pacote de rodovias do Paraná, a BR-381, em Minas Gerais, e a BR-040, que liga o Rio à Belo Horizonte. “Não temos qualquer sinalização de que o pipeline (cronograma) de projetos não vá ocorrer, a expectativa é que tenhamos continuidade [dos leilões] em infraestrutura.”

Desempenho no primeiro trimestre

No primeiro trimestre, a CCR reportou um lucro líquido ajustado de R$ 317 milhões, revertendo prejuízo ajustado de R$ 15,2 milhões um ano antes.

O Ebitda ajustado no período alcançou R$ 1,97 bilhão, alta de 19% sobre igual intervalo de 2022. Já a receita líquida ajustada foi de R$ 3,2 bilhões de janeiro a março, 16,8% superior ao mesmo intervalo do ano passado. O resultado exclui efeitos não recorrentes.

De janeiro a março, o tráfego de veículos equivalentes da companhia apresentou crescimento de 6,3% sobre um ano antes. O número de passageiros embarcados nos aeroportos teve alta de 132,9% na mesma base de comparação e, nos negócios de mobilidade, houve avanço de 31,4% sobre igual intervalo de 2022.

“Tivemos um operacional forte [no trimestre], isso refletiu no resultado bastante sólido”, avalia Godoy.

A executiva destaca que, embora o cenário de juros elevados afete as captações no mercado como um todo, a CCR tem trabalhado no alongamento do perfil da dívida. “O que ficou mais difícil é a questão do custo das captações, mas isso é natural no mercado local, devido à deterioração do cenário”, avalia. “A CCR tem acesso a crédito”, acrescenta.

O novo CEO do grupo CCR, Miguel Setas, assumiu o cargo no último dia 24 de abril. Ex-CEO da empresa de energia EDP Brasil, o executivo terá pela frente o desafio de manter o ritmo de crescimento em meio a um cenário de juros elevados e incertezas globais.

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