Bloomberg — O Banco Central provavelmente manterá sua taxa de juros estável pela sexta reunião consecutiva nesta quarta-feira (3), enquanto o Congresso se prepara para debater a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de administrar as finanças públicas e domar a dívida.
Todos os economistas em uma pesquisa da Bloomberg, exceto um, esperam que os membros do conselho mantenham a Selic inalterada em 13,75%, enquanto o analista restante vê um corte de um quarto de ponto para 13,5%.
As autoridades lideradas por Roberto Campos Neto mantiveram as taxas estáveis desde setembro, após um ciclo de aperto agressivo que acrescentou 11,75 pontos percentuais aos custos dos empréstimos.
A inflação anual do Brasil caiu para o nível mais baixo desde 2020, intensificando um debate público de meses sobre a conveniência de uma política monetária tão restritiva. Em seus primeiros quatro meses no poder, Lula repetidamente atacou o banco central, dizendo que os altos custos dos empréstimos aumentam o desemprego.
A crescente pressão se estendeu a duas audiências recentes no Congresso, nas quais Campos Neto defendeu as opiniões dos formuladores de políticas, dizendo que os indicadores básicos que eliminam itens voláteis ainda estão aquecidos.
Na avaliação de Adriana Dupita, economista de América Latina da Bloomberg Economics, uma “questão-chave” é se a proposta de estrutura fiscal do governo leva os formuladores de políticas a adotar um tom menos agressivo em sua declaração pós-reunião. “Achamos que sim”, diz.
A reunião desta quarta ocorrerá algumas horas depois da do Federal Reserve, na qual é esperada uma nova alta de 0,25 ponto percentual nos juros.
Confira a seguir o que ficar de olho na decisão desta quarta:
Meta de inflação
Os banqueiros centrais provavelmente não sinalizarão o início da flexibilização, já que suas próprias estimativas de inflação permanecem acima da meta para este ano e no próximo. Além disso, espera-se que suas previsões sejam pouco alteradas em relação à decisão de março.
Os aumentos dos preços ao consumidor desaceleraram para 4,16% no início de abril, ficando dentro da faixa de tolerância do banco central. Ainda assim, à medida que o impacto de três meses de deflação após os cortes de impostos do ano passado desaparece, os analistas veem aumentos no custo de vida subindo novamente para 6,05% em dezembro.
“O que vimos é enganoso, pois ainda está artificialmente contaminado por cortes de impostos”, disse Leonardo Porto, economista do Citigroup (C) para o Brasil, referindo-se ao mais recente relatório de preços ao consumidor. Ele estima que o núcleo da inflação permaneça em torno de 5% a 6%.
“Isso ainda é muito alto”, considerando as metas do banco central de 3,25% para este ano e 3% no próximo, disse ele.
Campos Neto justificou a necessidade de manter as taxas estáveis, dizendo aos parlamentares na semana passada que qualquer mudança na Selic precisa ser feita com “credibilidade”.
“A melhor estratégia é manter o tom hawkish, trazer as expectativas de inflação de volta à meta”, disse Mirella Hirakawa, economista da gestora AZ Quest Investimentos.
A promessa do conselho de “não hesitar” em retomar os principais aumentos de juros, se necessário, provavelmente aparecerá novamente, embora o texto possa ser atenuado, disse Hirakawa. Alguns membros do governo Lula interpretaram essa promessa como uma ameaça.
Perspectivas Fiscais
No comunicado, os banqueiros centrais poderiam destacar os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por maior clareza sobre os gastos públicos e o novo arcabouço fiscal que foi enviado ao Congresso. Esses fatores provavelmente representam as mudanças mais significativas no balanço de riscos dos formuladores de políticas.
Ainda assim, com os legisladores esperando apenas para agendar as votações iniciais do projeto de lei para o final da próxima semana, é improvável que os bancos centrais mudem suas orientações antes que a legislação garanta a aprovação final.
“Não há relação mecânica com a política monetária, pois o projeto de lei não foi aprovado”, disse Mauricio Oreng, chefe de pesquisa econômica do Banco Santander (SANB11).
Aperto global
Os analistas provavelmente se aprofundarão nos comentários do banco central sobre as condições financeiras globais, incluindo sinais de uma possível pausa no ciclo de aperto nos Estados Unidos, bem como números sobre crescimento doméstico e fluxos de crédito.
--Com a colaboração de Giovanna Serafim
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