Bloomberg — O mantra para entrar nas universidades de maior prestígio dos Estados Unidos é um só: custe o que custar.
Consultores universitários cobram até US$ 750 mil para construir candidaturas de destaque para alunos a partir do sétimo ano (equivalente ao mesmo ano no fundamental no Brasil), mas vale a pena, segundo Hope Choi, cujo filho se candidatou a 22 universidades e já conseguiu uma vaga em Yale.
Os preços das universidades de maior prestígio, que formam a Ivy League, se aproximam dos US$ 90 mil, mas “o que são mais alguns milhares de dólares em dívida estudantil?” questiona Addison Witucki, de 18 anos, que espera entrar em Harvard ou Brown – e depois na faculdade de medicina.
Apesar do clamor público sobre a crise dos empréstimos estudantis nos EUA e o aumento dos custos das universidades, a atratividade de uma educação de elite só cresceu. As taxas de aceitação caíram para menos de 5%, o que significa que garantir uma vaga nas melhores instituições se assemelha a ganhar na loteria. Com a diferença de que dispor de educação e de uma rede de networking é mais sustentável para o resto da vida do que ganhar uma “bolada” inesperada de uma só vez.
Agora, pais e alunos desejam mais do que nunca um diploma de prestígio (mesmo se for caro) e buscam as melhores maneiras de aumentar suas chances.
Chances de passar: 1 em 25 (ou menos)
As baixas taxas de aceitação em algumas das principais faculdades ilustram a necessidade de encontrar uma vantagem. Dos mais de 59 mil alunos que se candidataram à Universidade da Pensilvânia, 2.400 foram aceitos. O índice de aceitação da Universidade de Yale este ano foi de 4,35%, sendo o maior na história da faculdade depois de ter aumentado quase 50% desde 2020.
O senso de exclusividade só faz com que alunos e pais queiram ainda mais. Eric Sherman, conselheiro da empresa de consultoria universitária IvyWise, compara a veneração das faculdades de renome a uma bolsa Hermès.
“Você atinge um certo ponto em que a qualidade é legitimamente aumentada, e então tudo acima disso é apenas marca”, disse Sherman, que também é diretor de consultoria universitária na Kehillah Jewish High School em Palo Alto, Califórnia.
“Acredito que haja um elemento realmente poderoso aqui no qual os pais, se estiverem em uma festa, talvez queiram se gabar sobre seus carros de luxo e as universidades de seus filhos.”
Retorno sobre o investimento
Há também o retorno sobre o investimento a ser considerado para aqueles dispostos a cobrir os custos exorbitantes de uma faculdade de elite. De acordo com o Centro de Educação e Força de Trabalho da Universidade de Georgetown, as universidades privadas oferecem o maior retorno com base na dívida média assumida e nos salários médios 10 e 40 anos após a matrícula.
“A matrícula e os custos não estão apenas aumentando para as universidades da Ivy League mas em todos os lugares”, disse Christopher Rim, CEO da empresa de consultoria universitária Command Education. “Se um Rolls-Royce e um Toyota custam exatamente o mesmo, qual deles você gostaria?”
Para a família Choi, a resposta seria o equivalente a um Rolls-Royce da educação superior: o filho de Choi já foi aceito em Yale, na Universidade de Columbia e na Universidade de Chicago, e ele ainda aguarda o resultado da Universidade de Stanford, onde sonha estudar.
Como muitas famílias que vivem no Upper East Side, região de luxo de Nova York, os Choi já pagaram centenas de milhares de dólares para que ele estudasse em escolas particulares desde o jardim de infância.
“Temos sorte que o preço não é problema”, disse Hope Choi. “O prestígio tem muito peso e queremos que ele frequente a melhor faculdade para seu futuro.”
Para complementar sua escolaridade, eles trabalham em conjunto com a Command Education desde que ele estava no nono ano, considerando um investimento em seu futuro.
A consultoria cobra até US$ 750 mil para trabalhar com alunos a partir do sétimo ano e até US$ 500 mil a partir do nono ano. No total, Rim estima que muitos de seus clientes gastam “mais de US$ 1 milhão” para preparar seus filhos para a faculdade.
“Nenhum cliente nos paga essas taxas para entrar em uma faculdade aleatória”, disse Rim.
Efeitos artificiais
A decisão de muitas escolas de não exigir mais testes padronizados fez com que os números de candidaturas aumentassem. Isso reduziu artificialmente as taxas de aceitação das universidades por causa do grande número de candidaturas que estão na média apenas, dizem os especialistas.
“Essas universidades ficam cada vez melhores em conseguir que os alunos se candidatem todos os anos”, disse Brian Taylor, sócio-gerente da Ivy Coach, empresa privada de consultoria universitária. “Como um exemplo extremo, ter mais alunos de notas medianas se candidatando à Universidade de Harvard não torna o pool de candidatos mais competitivo.”
A Universidade de Nova York recebeu um recorde de 120 mil candidaturas em 2023, 13% a mais do que no ano passado. No próximo semestre, a turma do primeiro ano será de cerca de 5.700 alunos, reduzindo sua taxa de admissão para 8% – uma queda acentuada em relação aos 35% de uma década atrás.
A tendência é complicada para os muitos alunos que não são aceitos.
Addison Witucki descobriu que não havia sido aceita em Harvard e em Brown e planeja ir para a Universidade do Kentucky, seu estado natal. Sua mãe, Sarah, disse que Addison estava decepcionada, mas também aliviada porque ia assumir significativamente menos dívidas – a universidade custa um total de US$ 33.150 para alunos do estado, ante quase US$ 85 mil para a Universidade de Brown.
“Mesmo assim, é muito dinheiro”, disse Sarah Witucki. “O fato de uma escola estadual custar tanto é impressionante.”
Para aqueles que conseguem entrar, o auxílio financeiro é muitas vezes essencial. Como as escolas de elite com recursos financeiros robustos são capazes de ajudar os estudantes a baixar o custo final de frequência, às vezes é mais acessível frequentar uma escola privada do que uma escola pública, dizem os consultores universitários.
Vale quanto se paga? Depende
A diferença de salário entre graduados com empréstimos estudantis é relativamente pequena: em 2021, os bacharéis das faculdades estaduais tinham um nível médio de dívida de US$ 21.400, comparado com US$ 22.600 para universidades privadas, de acordo com a College Board.
Quando a filha de Preeti Singh se candidatou às universidades neste ano, ela se lembra de afirmado: “se você está saindo do estado então tem que ser algo muito, muito bom, porque eu não vou mandar você para outro estado só porque você quer ficar longe de casa”.
Para a família do estado de Ohio, que tem um segundo filho que também vai se candidatar às universidades em alguns anos, o preço era a principal preocupação. A filha se candidatou tanto a faculdades estaduais quanto a instituições mais seletivas, disse Singh.
Quando ela foi aceita em Stanford, eles decidiram que valia a pena pagar cerca de US$ 65 mil dólares por ano por seu diploma de ciências da computação em vez dos US$ 15 mil dólares da Universidade Estadual de Ohio. Singh disse que depois de olhar o auxílio financeiro que sua filha recebeu, viu que o custo de uma educação de elite é “administrável”.
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