Bloomberg — Dois indicadores importantes divulgados nesta sexta-feira (28) mostraram que as pressões inflacionárias continuaram persistentes nos Estados Unidos nos últimos meses, reforçando o argumento em favor de outro aumento da taxa de juros do Federal Reserve na semana que vem.
O Índice de Preços de Gastos de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês) excluindo alimentos e energia, a medida preferida do Fed para monitorar a inflação, subiu 0,3% em março em relação ao mês anterior e 4,6% em relação ao ano anterior, segundo dados do Departamento de Comércio do país divulgados nesta manhã de sexta-feira (28).
O Fed tem como meta 2% (com base no índice cheio), mas vê o núcleo do PCE como um indicador melhor da tendência sobre a inflação.
Enquanto isso, a medida de custos de emprego do Departamento do Trabalho – também observada de perto pelo Fed – aumentou 1,2% no primeiro trimestre em relação ao período anterior, superando as previsões, de acordo com um outro relatório.
Os dados de preços, principalmente em conjunto com o aumento dos custos trabalhistas, reforçam as previsões de que os formuladores de políticas do Fed elevarão sua taxa básica de juros em mais 0,25 ponto percentual na reunião da próxima semana.
Embora a inflação anual tenha atingido o pico, o caminho de volta à meta de 2% do banco central está se mostrando mais desafiador.
Uma fresta de esperança no relatório do PCE foi uma desaceleração em uma medida de custos de serviços.
Os preços dos serviços excluindo habitação e serviços de energia, contudo, um indicador-chave sinalizado pelo presidente do Fed, Jerome Powell, aumentaram 0,2% em março, segundo cálculos da Bloomberg. Dito isso, na comparação anual, a métrica permanece elevada em 4,5%.
Setor de serviços pressiona
Há uma preocupação de que a inflação persistente no setor de serviços, em parte devido ao forte crescimento salarial nessas indústrias, corre o risco de manter o crescimento dos preços acima da meta do Fed no futuro.
Dito isto, os funcionários do banco central estão divididos em sua avaliação do impacto do aumento dos salários na inflação.
Os custos trabalhistas nos EUA aumentaram pelo menos 1% por sete trimestres consecutivos, estendendo o que já era uma sequência recorde nos dados desde 1996.
Na avaliação de Anna Wong, economista-chefe para EUA da Bloomberg Economics, os dados deixam a porta aberta para outro aumento de 0,25 ponto percentual na reunião de 2 a 3 de maio e podem até persuadir alguns formuladores de políticas do Fed de que as taxas ainda não estão em um nível suficientemente restritivo.
“Nosso cenário-base é que o Fed faça uma pausa prolongada após o aumento da próxima semana, mas agora vemos um risco crescente de que eles precisem fazer mais [apertos].”
Embora um mercado de trabalho forte e um excesso de poupança tenham fornecido às famílias os recursos para gastar, os consumidores estão começando a perder força.
As despesas de consumo pessoal, ajustadas pelos preços, estagnaram no mês passado, refletindo uma retração nos gastos com bens, além de gastos mornos com serviços, após uma queda revisada para baixo de 0,2% em fevereiro.
Maior cautela
A retração nos gastos do consumidor sugere que as famílias estão ficando mais cautelosas e reduzindo as compras discricionárias.
Embora um mercado de trabalho forte, o crescimento persistente dos salários e o excesso de poupança tenham ajudado os consumidores diante do aumento dos preços, os dados indicam que o ímpeto está diminuindo.
Olhando para frente, a falta de crescimento dos gastos — mesmo que eles consigam se manter em patamar elevado — dificultaria a continuidade da expansão da economia.
O índice de preços PCE subiu 4,2% em relação ao ano anterior, uma desaceleração acentuada em comparação a março de 2022, que refletiu um aumento nos preços da energia imediatamente após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Dito isso, permanece aproximadamente o dobro da meta de 2% do Fed.
Raio-X dos gastos
Já descontados pela inflação, os gastos com bens caíram 0,4% – a maior queda em três meses, refletindo a queda nas compras de veículos automotores. Os serviços, por sua vez, subiram 0,1% devido aos grupos de habitação e serviços públicos.
A renda disponível ajustada pela inflação, o principal suporte para os gastos do consumidor, aumentou 0,3%. Remunerações e salários sem ajuste de preços também subiram 0,3% pelo segundo mês.
A taxa de poupança, por sua vez, subiu para 5,1% – a mais alta desde o final de 2021.
-- Com a colaboração de Kristy Scheuble
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