Big techs têm inimigo comum no Reino Unido após revés para a Microsoft

Na quarta-feira (26), a Autoridade de Concorrência e Mercados (CMA) bloqueou a maior aquisição de jogos do mundo, em novo revés para o setor

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Bloomberg — A surpreendente decisão do Reino Unido de interromper o acordo de US$ 69 bilhões da Microsoft (MSFT) com a Activision Blizzard mostra uma abordagem mais forte para a execução de negócios que tem surgido desde o Brexit.

A decisão final representa um revés para a Microsoft, que tenta garantir a maior aquisição de jogos do mundo, e coloca a Autoridade de Concorrência e Mercados (CMA, na sigla em inglês) no centro do antitruste global, ao lado dos Estados Unidos e da União Europeia.

“A decisão da Microsoft-Activision é outro exemplo claro da CMA se estabelecendo firmemente como uma das mais importantes fiscalizadoras da concorrência no cenário mundial pós-Brexit”, disse Pinar Akman, professor da Universidade de Leeds.

Este é o segundo – mas de longe o maior – acordo com big techs que a CMA bloqueou após acabar com as chances da Meta Platforms (META) de comprar o mecanismo de busca GIF Giphy.

Essas decisões enfrentaram críticas de que o órgão não fez o suficiente no passado para lidar com as empresas de tecnologia nascentes que agora estão sendo abocanhadas por um grupo de grandes players. É o caso de possíveis “falhas” que podem ter levado à aquisição do Whatsapp e do Instagram pela Meta.

Em outra demonstração de força pós-Brexit, o Reino Unido apresentou nesta semana novas leis ao parlamento que aumentarão ainda mais seus poderes para reprimir o domínio da tecnologia e ajudar a beneficiar os consumidores do país.

O texto inclui novas regras e regulamentos de competição digital que designarão um punhado de empresas de tecnologia como tendo “status de mercado estratégico”.

“Prevenir o desenvolvimento do poder de mercado arraigado em primeiro lugar é a maneira mais eficaz de salvaguardar a concorrência”, disse Sarah Cardell, diretora-executiva da CMA, na quarta-feira (26). “O controle de fusões, portanto, tem um papel crítico a desempenhar na condução da produtividade e do crescimento no Reino Unido.”

A confiança da CMA em seu sistema de fusões atraiu críticas de que a agência se tornou muito intervencionista e de que pode adiar negócios internacionais. Líderes da Microsoft e da Activision criticaram a decisão na quarta-feira como sendo ruim para negócios e investimentos no Reino Unido.

Fechado para negócios

“O relatório da CMA contradiz as ambições do Reino Unido de se tornar um país atraente para construir negócios de tecnologia”, disse um porta-voz da Activision. “Inovadores globais, grandes e pequenos, perceberão que – apesar de toda a sua retórica – o Reino Unido está claramente fechado para negócios.”

A análise do escritório de advocacia Linklaters mostra que dos negócios sujeitos a uma investigação aprofundada, 64% falharam nos últimos três anos e meio, em comparação com 34% dos negócios examinados pela CMA entre 2014 e 2017.

Cardell rejeitou a crítica, argumentando que a visão de que a agência é muito intervencionista é equivocada e que ela está apenas fazendo seu trabalho para proteger o Reino Unido. Segundo ela, das centenas de acordos que são enviados anualmente, apenas alguns deles são bloqueados.

Por enquanto, todas as atenções se voltam para o que a Comissão Europeia fará no próximo mês e como a Microsoft se defenderá perante o Tribunal de Apelação da Concorrência do Reino Unido — uma briga que levará muitos meses para ser resolvida. O tributal também raramente decide contra o regulador em análises de investigações de fusão.

“A CMA está assumindo um papel de liderança no controle de fusões das big techs”, disse Anne Witt, professora de direito da EDHEC Business School. “Se a CMA vencer, ela criará um precedente e a mensagem para a indústria de tecnologia será clara: os tempos estão mudando e os dias de aquisições irrestritas acabaram.”

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