Petrobras: nomes para conselho sinalizam risco de governança e de lucratividade

Nomes do novo conselho da estatal deverão ser aprovados na assembleia de acionistas desta quinta-feira (27); lucratividade está em jogo

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Bloomberg — A grande preocupação dos acionistas da Petrobras (PETR3; PETR4) é quanto o governo vai intervir para perseguir objetivos políticos depois de eleger um novo conselho para a estatal.

O candidato do governo à presidência do conselho, Pietro Mendes, assim como outros dois indicados ao colegiado, não foram aprovados nas auditorias internas devido a possíveis conflitos de interesse ou laços políticos recentes. A despeito disso, o governo — que tem 50,26% das ações com direito a voto — planeja aprovar os nomes na assembleia de acionistas desta quinta-feira (27).

O governo anterior de Jair Bolsonaro também elegeu membros do conselho que haviam sido rejeitados na verificações de antecedentes, estabelecendo um precedente negativo para os padrões de governança da petrolífera.

“Isso testa se eles seguirão a lei para estatais”, disse Fernando Valle, analista da Bloomberg Intelligence. “A governança vai se deteriorar. É só uma questão de tempo.”

Está em jogo a lucratividade da Petrobras para os investidores. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez promessas de campanha de cortar dividendos para investir em outras áreas menos lucrativas mas fundamentais para o desenvolvimento nacional, como refino e energia renovável.

Ele também quer que a empresa torne os combustíveis mais baratos. Os acionistas também votarão sobre o pagamento recorde de dividendos relativos ao ano passado, quando os preços do petróleo dispararam.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, aguarda o novo conselho antes de fazer qualquer mudança nas políticas da companhia. Seu desafio será acelerar o crescimento da produção de petróleo em projetos multibilionários em águas profundas, e tentar manter a empresa longe de uma tempestade política cada vez que os preços dos combustíveis subirem.

Sua diretoria executiva é composta em grande parte de profissionais de carreira da Petrobras, enquanto ele também mantém laços estreitos com o principal sindicato de petroleiros do país, alinhado ao PT de Lula. Mesmo assim, ele está sob pressão do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e políticos do partido para abandonar uma política de preços que segue a cotação internacional.

Três dos candidatos do governo ao conselho também trabalham com Silveira no ministério, sinalizando que pode haver tensão entre a gestão de Prates e o novo conselho.

“Há uma contradição entre o que a empresa quer e o que o governo quer”, disse Marcelo Godke, sócio do Godke Advogados em São Paulo e especialista em direito societário brasileiro.

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