Na Creditas, o momento ainda é de foco na rentabilidade, diz Sergio Furio

Fundador e CEO de uma das maiores fintechs do país diz que vê recuperação da margem e breakeven no fim de 2023 com a Selic estabilizada

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Bloomberg Línea — Os juros altos prejudicaram as margens da Creditas em 2022, mas a fintech melhorou o rentabilidade no primeiro trimestre de 2023 à medida que desacelerou o crescimento. A fintech brasileira de crédito com garantia, uma das maiores do país nesse segmento, teve uma receita de R$ 551 milhões nos primeiros três meses do ano, um crescimento de 42,3% comparado ao mesmo período do ano passado, mesmo em um cenário de mercado mais adverso.

A Creditas planeja atingir o breakeven (o equilíbrio entre receitas e despesas) até o final do ano, antes de retomar os planos de recorrer ao mercado de capitais para um eventual IPO (oferta pública inicial) se as condições estiverem favoráveis.

No ano passado, o aumento da taxa de juros para 13,75% ao ano - patamar em que a Selic está estacionada desde agosto de 2022 - atrapalhou os planos de breakeven da fintech.

Isso porque o aumento da taxa de juros impactou o custo de funding, o que a Creditas paga aos investidores para captar. Agora, com a Selic estável, o CEO Sergio Furio afirmou que a startup conseguiu ampliar as margens consolidando o custo de captação e repassando isso aos clientes.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Furio disse que o foco nas margens financeiras e monitorar de perto a qualidade do crédito permitiram que a empresa melhorasse seu lucro bruto.

O lucro bruto de R$ 118,9 milhões no primeiro trimestre representou um aumento de 164% em relação ao mesmo período no ano passado.

A margem de lucro bruto passou de 11,7% para 21,6% em 12 meses. A Creditas disse que as despesas em relação ao lucro bruto caíram para R$ 248 milhões (-33% em relação ao mesmo período no ano passado), o que reduziu as perdas líquidas.

Até o fim do ano, a fintech espera conseguir chegar a uma margem de lucro bruto trimestral, ou seja, a diferença entre o que a Creditas paga para captar e o custo de crédito para os clientes, em R$ 200 milhões, versus os atuais R$ 118,9 milhões. A empresa prevê que os custos indiretos caiam dos atuais R$ 248 milhões para menos de R$ 200 milhões, o que vai permitir o breakeven.

Em 2022, a empresa teve receita de R$ 1,8 bilhão, um aumento de 118% em relação a 2021.

Reprecificação da carteira

O plano de rentabilidade da Creditas requer que a Selic não suba mais ou mesmo que seja cortada. Na mediana das expectativas de mercado consolidadas pelo Boletim Focus, do Banco Central, a taxa básica de juros encerra o ano em 12,50%.

A carteira de crédito da fintech cresceu 36% no primeiro trimestre de 2023 em relação ao ano anterior, apesar da originação mais restrita e de uma abordagem de crescimento menos agressiva.

A Creditas tem 70% de sua carteira de crédito atrelada a juros pré-fixados. A reprecificação de empréstimos pré-fixados para novas originações permaneceu quase estável no primeiro trimestre de 2023 em 57%.

A reprecificação da carteira pré-fixada continuou aumentando no primeiro trimestre, passando de 32% em setembro de 2021 para 43% em março de 2023. “Essa tendência continuará até 2023, à medida que a deterioração de nossa carteira pré-fixada for substituída por novos empréstimos com novas taxas, acelerando a expansão do lucro bruto”, disse a fintech em comunicado aos acionistas.

Veja os resultados da Creditas nos últimos trimestres:

A fintech reduziu o custo de aquisição de clientes (CAC) porque decidiu crescer mais devagar. As despesas caíram, o que deu maior capacidade de alavancagem operacional para o unicórnio de crédito.

Mas, segundo Furio, no segundo trimestre, a empresa deve ver um lucro bruto menor porque há menos dias no período. “Fizemos uma restrição de políticas de crédito para sermos mais conservadores. Definimos um ritmo de crescimento com o qual estamos confortáveis”, disse Furio.

A fintech comprou a filial brasileira do banco europeu Andbank no ano passado para fortalecer o balanço e acelerar o crescimento de depósitos diversificando as fontes de captação para originar crédito, não dependendo apenas do mercado de capitais, que continua em ritmo mais lento.

Segundo Furio, os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) estão “performando bem”. A última emissão da Creditas foi um CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) listado com a Kinea, de R$ 400 milhões. Ao todo, a empresa tem 35 veículos de securitização.

A Creditas foi avaliada em US$ 4,8 bilhões depois de receber um aporte da americana Fidelity, gigante de investimentos, em janeiro de 2022.

Mas posteriormente a Kaszek e a Redpoint eventures teriam remarcado o valuation da startup em US$ 3,5 bilhões e US$ 2 bilhões, respectivamente, segundo o Valor Econômico.

Furio disse que não comenta marcações no mercado privado de investidores, pontuando que muitas empresas passaram por isso no último ano. “É algo do mercado como um todo”, disse à Bloomberg Línea.

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