Microsoft sofre revés: Reino Unido veta compra da Activision por US$ 69 bi

Órgão regulador diz que negócio levaria a preços mais altos e menos inovação na indústria de games, em decisão que abala estratégia de crescimento via M&A; empresa vai apelar

Negócio liderado pela Microsoft daria à empresa controle sobre títulos populares como Call of Duty
Por Katharine Gemmell
26 de Abril, 2023 | 10:09 AM

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Bloomberg — A aquisição da gigante de games Activision Blizzard (ATVI) por US$ 69 bilhões pela Microsoft (MSFT) sofreu um revés depois que o órgão regulador antitruste da Grã-Bretanha vetou o maior acordo da história do setor. O argumento para a decisão: o negócio prejudicaria a concorrência de jogos em nuvem, em um movimento que pode definir o tom para os maiores reguladores do mundo.

Em um momento em que o crescimento orgânico desacelera e as big techs fazem milhares de demissões para se adequar à nova realidade, a sinalização de governos de que serão mais criteriosos na análise de fusões pode representar uma ameaça à estratégia de expansão por M&A (fusões e aquisições).

A Autoridade de Concorrência e Mercados (CMA, na sigla em inglês) disse que suas preocupações não poderiam ser resolvidas por soluções - os chamados remédios - como a venda do título de grande sucesso “Call of Duty” ou outras propostas envolvendo promessas de permitir que rivais ofereçam o jogo em suas plataformas, de acordo com um comunicado divulgado nesta quarta-feira (26).

A Microsoft disse que vai apelar da decisão.

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A pressão vinha aumentando sobre a Microsoft enquanto a companhia fazia lobby nos Estados Unidos e na Europa para convencer os reguladores a fechar o negócio anunciado em janeiro de 2022 – uma das 30 maiores aquisições de todos os tempos.

As conclusões da CMA vêm antes das decisões da União Europeia e da Comissão Federal de Comércio dos EUA, que aguarda uma audiência no verão do hemisfério norte depois de entrar com um processo formal para vetar a transação.

As ações da Activision caíam mais de 9% por volta das 9h40 (horário de Brasília), nas negociações antes da abertura dos mercados em Nova York.

A Microsoft, por sua vez, avançava cerca de 7% na bolsa depois de ter reportado resultados financeiros do primeiro trimestre melhores do que o esperado pelo mercado no fim da tarde de terça-feira (25).

“A Microsoft já desfruta de uma posição poderosa e de vantagem sobre outros concorrentes de jogos em nuvem e esse acordo fortaleceria essa vantagem, dando-lhe a capacidade de minar concorrentes novos e inovadores”, disse Martin Coleman, presidente do painel independente de especialistas que conduz a investigação.

Acordo traria preços mais altos, diz órgão

A CMA considerou que a fusão poderia resultar em preços mais altos, menos opções e menos inovação para os consumidores do Reino Unido. No início deste mês, estreitou seu escopo original para se concentrar em jogos em nuvem em vez de consoles, depois de avaliar novas evidências.

“Continuamos totalmente comprometidos com essa aquisição e apelaremos”, disse Brad Smith, vice-presidente e presidente da Microsoft.

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“A decisão da CMA rejeita um caminho pragmático para abordar questões de concorrência e desencoraja a inovação e o investimento em tecnologia no Reino Unido.”

A Microsoft vinha travando a batalha regulatória no Reino Unido e na Europa com um roadshow de conferências de imprensa em Bruxelas e anúncios de página inteira em jornais britânicos para tentar influenciar o sentimento mais amplo sobre o acordo.

A CMA disse que o acordo solidificaria a vantagem da Microsoft no mercado, dando-lhe o controle sobre os jogos de grande sucesso “Call of Duty”, “Overwatch” e “World of Warcraft”.

O regulador descobriu que, sem a fusão, a Activision seria capaz de começar a fornecer jogos em plataformas de nuvem no futuro.

“O relatório da CMA contradiz as ambições do Reino Unido de se tornar um país atraente para construir negócios de tecnologia”, disse um porta-voz da Activision. “Trabalharemos agressivamente com a Microsoft para reverter isso na apelação.”

O órgão regulador de concorrência do Reino Unido tem tentado afirmar-se como um dos principais reguladores globais desde que o país deixou a UE.

Em recentes demonstrações de força, a CMA enfrentou grandes empresas de tecnologia e disse à Meta Platforms (META) que deveria reverter sua aquisição da Giphy após preocupações de que poderia dominar o mercado de GIFs.

-- Com a colaboação de Amy Thomson.

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