VC de ex-SoftBank e Mercado Livre investem R$ 110mi em startup do setor auto

Cilia, empresa de software para oficinas, fornecedores de peças e seguradoras, recebe primeiro investimento externo, que é liderado pela Cloud9 Capital

Carros em pátio: escolher as peças necessárias de manutenção em caso de batidas pode ser feito de forma automatizada
25 de Abril, 2023 | 08:30 AM

Bloomberg Línea — O Cloud9 Capital, fundo de venture capital dos ex-gestores do SoftBank Felipe Affonso e Noah Stern, está liderando um aporte de R$ 110 milhões na startup Cilia. O Mercado Livre (MELI) também participou do investimento.

O Cilia tem como produto um software para auxiliar seguradoras, oficinas e fornecedores de peças em orçamentos para o setor automotivo. Com uso de inteligência artificial, a empresa permite a avaliação de um veículo exclusivamente por fotos, para precificação de danos em tempo real.

A startup fundada em Goiás nunca tinha recebido aporte de venture capital. O dinheiro do aporte será utilizado para expandir o marketplace do Cilia, otimizando a compra e a venda de peças.

Uma das áreas que a empresa pretende desenvolver é na antecipação de pagamentos para as oficinas, já que as companhias seguradoras podem levar de 30 a 40 dias para pagar.

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O setor automotivo começa a despertar crescente interesse de empreendedores e investidores. Há dois anos, Marcio Kumruian, fundador e ex-CEO da Netshoes, lançou a Tunne, uma startup que opera um marketplace de serviços e peças automotivas. Um dos objetivos é digitalizar a jornada do conserto do carro e oferecer previsibilidade para as duas partes, consumidor e oficinas, sobre custos e prazos.

Planos do Mercado Livre

Recentemente, o Mercado Pago passou a ofertar o financiamento de veículos na plataforma do Mercado Livre na cidade de São Paulo, um dos segmentos mais relevantes para o crédito e com risco reduzido dado o instrumento de alienação fiduciária, que permite a tomada do carro em caso de atrasos.

Fernando Yunes, vice-presidente sênior do Mercado Livre e principal executivo da empresa para o Brasil, disse que vê a categoria de autopeças desempenhando um papel extremamente relevante para a operação do marketplace do Mercado Livre no Brasil. Segundo ele, pode ser uma importante alavanca para o negócio de veículos, com muito espaço para o crescimento.

“É claro também o potencial que existe para sinergias futuras com o Cilia, principalmente com foco na digitalização do mercado de autopeças, algo que pode impactar positivamente os nossos usuários e o setor automotivo”, disse.

O Cilia não descarta planos de entrar no mercado direto ao consumidor.

Definição dos investidores

Segundo o fundador Daniel Barbosa, uma empresa na Inglaterra que tinha um software semelhante ao do Cilia chegou ao status de unicórnio.

A startup recebeu propostas para ser comprado “por cheques tentadores”, segundo o CEO, e passou a conversar com grandes fundos. Mas o plano não era vender.

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“O mercado segurador hoje não é nem o início. Queremos avançar nos próximos meses e anos porque só com os orçamentos que eu tenho por dia, consigo mapear nacionalmente quais as frotas de veículos em cada cidade estão andando e quais os tipos de colisão. Antes de umo carro bater, eu consigo prever as peças de que o mercado vai precisar comprar no próximo mês”, afirmou.

Segundo Barbosa e Affonso, a escolha do Mercado Livre como investidor se deu porque “eles têm um banco [o Mercado Pago] para fazer antecipações e logística para comprar peças”.

Affonso deixou o SoftBank em 2021 para fundar o Cloud9, com foco em growth equity para investir em fundadores que não se encaixavam na lógica predominante na indústria de startups até então de modelo com queima de caixa, “power point em inglês” e VCs de grandes centros financeiros.

Demanda de seguradoras

Barbosa começou a trabalhar em uma empresa que prestava serviço para seguradoras aos 14 anos.

“Era uma empresa terceirizada que enviava profissionais da oficina para fazer as negociações pelas seguradoras. Foram quase 15 anos nessa empresa e comecei a coordenar uma equipe de mais de 200 reguladores espalhados no país. Nessa época eu tinha um problema muito grande que era como fazer os orçamentos com 200 notebooks espalhados”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

Sem conseguir substituir os computadores que eram danificados, Barbosa pensou que o mundo ideal seria um sistema para fazer orçamentos que funcionasse em um navegador. Ele se desligou da empresa para desenvolver uma aplicação com Mauro Guedes e Leonardo Lobo, que se conheceram na empresa prestadora de serviços para seguradoras na área de sinistros automotivos.

Barbosa, que não é desenvolvedor, trouxe como CTO (Chief Technology Officer) e cofundador o engenheiro de software Douglas Camargo.

“Temos um software que tem todas as peças de todos os modelos comercializados no Brasil e a atualização de preços dessas peças. Ele também calcula a mão-de-obra gasta para remover e instalar um amortecedor, que também tem que ter que mover a roda, por exemplo”, explicou.

O software padroniza o tempo gasto para trocar as peças e ajuda as seguradoras a negociar e saber se está pagando muito ou pouco pelo veículo danificado. Em 2015, em Goiânia, o Cilia começou como um projeto piloto. Anos depois, conseguiu oferecer a solução para o Bradesco Seguros.

A plataforma passou a funcionar como um canal de negociação entre oficinas e seguradoras, vendendo o software também para as oficinas. O Cilia, por sua vez, começou a gerar receita suficiente para pagar as despesas. Foi então, em 2018, que os sócios resolveram investir em uma inteligência artificial para identificar as peças quebradas por foto e elaborar orçamento.

Hoje são quase 10.000 batidas de carro por dia que passam pela aplicação do Cilia.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups