CEO do Santander Brasil vê chance de acordo com Americanas até junho

Sem citar nominalmente a varejista, Mario Leão expressou expectativa de que bancos credores cheguem a um entendimento sobre o calote anunciado em janeiro

Mario Leão, CEO do Santander Brasil, diz que a instituição está olhando 'com lupa' a situação das empresas antes de conceder crédito
25 de Abril, 2023 | 04:57 PM

Bloomberg Línea — O CEO do Santander Brasil (SANB11), Mario Leão, disse que um acordo dos bancos credores com a Americanas (AMER3) pode sair ainda neste segundo trimestre. A varejista deve cerca de R$ 3,7 bilhões à filial do banco espanhol, que provisionou metade desse valor, sendo 30% no balanço do quarto trimestre de 2022.

Sem citar nominalmente a Americanas, o executivo tratou o assunto como um “evento subsequente” de janeiro, em alusão indireta ao pedido de recuperação judicial da varejista no dia 19 daquele mês. A política do setor bancário é evitar comentar publicamente casos específicos envolvendo clientes.

Ao ser questionado pela Bloomberg Línea se esperava ver um acordo para o caso fechado neste trimestre, o CEO do Santander respondeu: “Espero que sim. Acredito em um acordo fechado neste trimestre, com chance de uma formalização no mercado de capitais no terceiro trimestre”, disse Leão durante entrevista coletiva nesta terça-feira (25) para comentar o balanço do banco, na sede em São Paulo.

No início de abril, Santander Brasil, Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4), BTG Pactual (BPAC11) e Safra suspenderam por 30 dias as ações judiciais contra a Americanas, uma das condições previstas no plano de reestruturação apresentado no mês passado para a negociação de um acordo.

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O calote da varejista, após a revelação de um rombo contábil da ordem de R$ 20 bilhões, foi seguido por pedidos de recuperações judiciais por outras companhias, como o Grupo Petrópolis, dono das marcas de cerveja Itaipava e Petra e que também tem o Santander como um dos principais credores.

Leão disse que o cenário macroeconômico, com juros elevados (taxa Selic 13,75% ao ano), ainda é desafiador, mas que o banco vem se preparando para frear a expansão do crédito desde o final de 2021.

“Estamos construindo uma carteira de melhor qualidade. As safras novas [de crédito] já representam 54% do total. É a primeira vez que elas têm essa representatividade. Isso prova que tomamos as decisões certas no fim de 2021. O portfólio segue melhorando com as novas safras”, observou o CEO.

Ele disse que o banco não deve mudar seu apetite para tomar risco neste ano. “A gestão ainda é mais próxima do portfólio de empresas. Estamos olhando o risco de crédito com uma lupa”, afirmou Leão.

O CEO do Santander Brasil acrescentou que o banco tem a ambição de chegar a 1 milhão de clientes de alta renda em dezembro deste ano, acima dos 834 mil registrados ao fim de março, com reforço da franquia do Santander Select. Ele mencionou estimativa de existência de um total de 5 milhões de clientes de alta renda no mercado brasileiro.

“Não estamos comprando escritórios nem bancos menores. Faremos isso com crescimento orgânico, democratizando o Select, com maior vinculação de contas e ressegmentação de clientes”, disse Leão.

Por volta das 16h40, as units do Santander Brasil registravam alta de 1,22%, cotadas a R$ 26,69, enquanto o Ibovespa recuava 0,91%.

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Reversão de provisão

Para evitar o impacto negativo dos calotes em seu resultado, o Santander Brasil utilizou no primeiro trimestre uma reversão de provisões de cunho tributário, referente a uma ação em julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a incidência de tributos (PIS e Cofins), para reforçar suas provisões para devedores duvidosos.

“Apesar do volume envolvido, de R$ 4,2 bilhões, ter sido plenamente utilizado, e, com isso, o impacto no resultado ter sido zero, a mensagem foi de necessidade de reforço no ‘colchão’ dada a piora esperada na inadimplência, que agora compreende, além do segmento pessoa física, deterioração nas pequenas e médias empresas”, escreveu o analista Rafael Reis, do BB Investimentos, em relatório sobre o resultado.

O CEO do Santander disse, durante a entrevista, que a reversão da provisão foi para reforçar o balanço em um “cenário que não começou a melhorar”, em referência à oferta mais restritiva do crédito, enquanto o Banco Central não sinaliza com precisão o momento em que os juros vão começar a cair.

O analista do BB Investimentos manteve o preço-alvo de R$ 30 para as units do Santander Brasil para o final de 2023. ”Até que vejamos uma dinâmica mais favorável, especialmente na margem com o mercado, no custo de crédito, um crescimento de carteira mais robusto e indícios de descompressão na inadimplência, mantemos nossa recomendação neutra”, concluiu o especialista.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.