Brasil fica para trás em IPOs com retomada gradual de ofertas no exterior

Empresas da Ásia, da Europa e dos EUA movimentaram US$ 25 bilhões em ofertas iniciais em março e abril, o dobro do volume em relação a janeiro e fevereiro

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Bloomberg — O mercado global de ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) está mostrando sinais de vida, pois uma recuperação em tais ativos encorajou as empresas a testar o apetite dos investidores por novas listagens, principalmente na Ásia. Mas uma recuperação completa parece distante.

Aproximadamente US$ 25 bilhões em IPOs foram negociados globalmente em março e abril, quase o dobro do valor registrado nos dois primeiros meses do ano, quando as listagens praticamente pararam, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Emissores de Hong Kong a Milão viram uma janela de oportunidade com a queda na volatilidade do mercado, segundo analistas. A atividade foi particularmente dinâmica na Ásia, onde as bolsas regionais foram responsáveis por quase 80% das novas vendas de ações em abril.

As listagens na Europa também aumentaram. Mas a preocupação com uma recessão dissuadiu os emissores americanos, retardando uma recuperação total. Os tamanhos dos negócios, em média, foram menores, e o dinheiro arrecadado até agora neste ano permanece 51% abaixo do mesmo período de 2022.

“Estamos começando a ver os brotos verdes da atividade com empresas reiniciando processos que estavam em espera, mas ainda há um bom grau de incerteza no mercado”, disse Jason Manketo, codiretor global da prática de ações do escritório de advocacia Linklaters.

“O lado da compra está ansioso para ver os resultados por alguns trimestres antes de se comprometer com um IPO. Isso significa que o pipeline potencial de alguns negócios de 2023 foi transferido para 2024.”

Líderes da Ásia

A Ásia é com folga a região mais movimentada para ofertas no mundo no momento. Mas em uma mudança importante em relação a 2022 – quando a grande maioria dos negócios de grande porte estava concentrada na China continental –, a emissão está vindo de uma faixa mais ampla da Ásia neste ano.

A Indonésia tem sido o ponto mais brilhante com um par de produtores de níquel em sua estreia.

As ações do Rakuten Bank dispararam depois de a empresa ter levantado 83,3 bilhões de ienes (US$ 623 milhões) no maior IPO do Japão desde 2018 - embora o estouro tenha ocorrido depois que a faixa de preço inicial foi reduzida.

E a empresa de bebidas chinesa ZJLD Group, apoiada pela gigante de private equity KKR & Co., precificou a maior oferta de Hong Kong em 2023.

“O mercado de IPO está voltando aos poucos e devagar. Ainda não está 100% de volta, mas há sinais de vida e vigor renovado”, disse James Wang, codiretor de mercados de capitais do Goldman Sachs (GS) na Ásia, exceto o Japão.

Europa em passo lento

O mercado de IPO da Europa está moribundo, com a atividade em 2023 caindo cerca de 12% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a invasão russa da Ucrânia interrompeu as listagens.

Os retornos fracos dos IPOs mais recentes têm sido um grande impedimento para os investidores. Os gestores de portfólio têm negociado duramente a fase de definição dos valuations e se recusado a pagar caro por empresas novas e de resultados não comprovados.

Além disso, o súbito colapso do Credit Suisse (CS), que desencadeou uma derrocada no mercado global no mês passado, aumentou as preocupações dos investidores com as taxas de juros e a inflação, atrapalhando ainda mais os planos de listagem.

Mas houve sinais a favor. Mais notavelmente, a Lottomatica, empresa italiana de jogos de azar apoiada pela Apollo Global Management, abriu o book na semana passada para um IPO de € 600 milhões (US$ 657 milhões), tornando-se a terceira grande empresa a explorar as bolsas europeias este ano.

Além disso, a empresa alemã de hospedagem na web IONOS SE e a fabricante de componentes de motores elétricos EuroGroup Laminations conseguiram levantar mais de US$ 400 milhões na região, embora ambas as ações tenham enfrentado dificuldades após a estreia.

Estados Unidos ficando para trás

Ainda assim, as perspectivas para IPOs nos EUA permanecem desafiadoras. Apenas US$ 4,1 bilhões foram levantados para empresas listadas nas bolsas dos EUA neste ano, com apenas três - Nextracker, Atlas Energy Solutions e Enlight Renewable Energy - respondendo por um terço desse valor.

Na verdade, fora desse cluster e de uma dúzia de SPACs que estrearam neste ano, a grande maioria das novas listagens seria qualificada como penny stocks.

“Ainda estamos em um mundo incerto e a incerteza é a pior coisa para novas emissões”, disse Greg Martin, cofundador da Rainmaker Securities, que facilita transações secundárias para empresas privadas.

As evidências estão aumentando de que os EUA podem estar caminhando para uma recessão, enquanto as próximas decisões do Federal Reserve para as taxas de juros ainda não está claras.

“Como você precifica um acordo quando não sabe qual deve ser o custo do capital olhando para o futuro”, questionou Patrick Galley, CEO e CIO da RiverNorth Capital Management. “Alguma clareza sobre as taxas de juros é fundamental.”

Brasil mais para trás ainda

No mercado brasileiro, não houve ainda ofertas públicas iniciais até aqui, praticamente com o primeiro quadrimestre encerrado. Segundo analistas, fatores como a mudança na perspectiva de corte de juros - algo abandonado pelo mercado com o começo do governo Lula - afastaram a janela para IPOs.

Segundo informações no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), apenas um pedido está em análise no momento, da China Three Gorges Brasil Energia, mas que foi protocolado em novembro.

Nesta terça-feira, o CEO do Santander Brasil (SANB11), Mário Leão, disse que o mercado continua fechado para novas captações por meio de IPOs, o que leva empresas a buscarem o banco para outras formas de obtenção de recursos.

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- Com informações da Bloomberg Línea.

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