Bloomberg — As maiores gestoras de recursos do mundo estão cada vez mais divididas sobre o quanto a inflação americana ainda recuará dos níveis atuais (os mais altos em décadas) – e trilhões de dólares estão em jogo.
É um debate que importa mais do que nunca para Wall Street à medida que as mesas de renda fixa ponderam o fim da campanha agressiva de aumento de juros do Federal Reserve e ajustam suas apostas em cortes que, para alguns, virão dentro de alguns meses.
De um lado estão casas como Allianz Global Investors e TCW Group, que dizem que o Federal Reserve e outros bancos centrais persistirão com seus aumentos de juros, mesmo que isso signifique derrubar suas economias.
Do outro estão gestoras como BlackRock e DoubleLine, que questionam se os formuladores de política monetária estão dispostos a deixar milhões de pessoas perderem seus empregos.
A divisão entre estes mega-investidores reflete o quão difícil a política monetária se tornou, principalmente porque as pressões de preços nos Estados Unidos, zona do euro e Reino Unido permanecem teimosamente altas, e os dados de inflação enviam sinais confusos.
Acertar as projeções pode oferecer a chance mais segura de se redimir de um ano de perdas com títulos de renda fixa e ações. É um desafio que coloca em conflito não apenas as maiores empresas financeiras, mas também quem trabalham dentro delas.
“Tivemos que trabalhar duro para chegar a algum tipo de visão da casa”, disse Greg Whiteley da DoubleLine, que tem cerca de US$ 96 bilhões sob gestão. “Há uma diferença significativa de opinião entre os gestores sêniores aqui, que se reúnem e discutem estratégias.”
No final, eles decidiram que “a inflação de fato vai ser persistente”, disse ele. Isso faz com que o mercado se posicione errado para cortes de juros do Fed este ano, e ele está procurando apostar em yields mais altos dos títulos de curto prazo do Tesouro americano, mais sensíveis às mudanças nas expectativas de juros do Fed.
Após os aumentos de juros do ano passado, as expectativas de inflação ficaram ancoradas, refletindo a confiança dos investidores no Fed no longo prazo.
A tarefa dos investidores agora é adivinhar quanta dor os bancos centrais estão dispostos a infligir para atingir seus objetivos, ou mesmo se uma meta de 2% ainda faz sentido.
Para os estrategistas da BlackRock, a expectativa é que o Fed vai parar de apertar quando os danos à economia causados pelos juros mais altos se tornarem mais evidentes. Isso pode acontecer antes que haja uma recessão severa o suficiente para domar totalmente a inflação, e por isso apostam em dívida indexada à inflação.
Os fundos alavancados também parecem esperar uma inflação teimosa, com recorde de apostas em yields mais altos dos Treasuries de 10 anos.
“2022 foi um ano em que o mercado de títulos estava precificando uma pausa do Fed muito cedo, e agora parece que 2023 é o ano em que o mercado está precificando cortes de juros muito cedo”, disse Blerina Uruci, economista-chefe para EUA da T. Rowe Price.
-- Com a colaboração de Kenneth Hughes, Sujata Rao-Coverley e Sarina Yoo “Kyungjin”.
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