Bloomberg Línea — Depois de atrasar pagamentos à Casa da Moeda do Brasil pela confecção de notas de pesos, em valores que chegavam a R$ 50 milhões, conforme revelou a Bloomberg Línea em março, o governo da Argentina decidiu recorrer a fornecedores do serviço em países da Europa.
A Casa da Moeda da Argentina (CMA) não conseguiu acompanhar os pedidos de novas cédulas do banco central do país (BCRA) e começará a importá-las da França e de Malta, segundo apurado pela Bloomberg Línea.
A Casa da Moeda, que neste ano passou a ser presidida por Ángel Mario Elettore, lançou uma licitação para o envio por via aérea de mais de 1.160 pallets de cédulas de Paris e de Malta durante os próximos quatro meses, juntando-se à Espanha, Brasil e China como fornecedores de pesos argentinos.
Por meio das licitações nº 708 e 710, a CMA procurará, a partir de 2 de maio, licitantes para trazer as cédulas em voos fretados ou comerciais.
Serão seis remessas de Paris que transportarão 360 paletes de cédulas, com um peso total de 92.721 Kg. Já em Malta serão oito remessas compreendendo 806 paletes de cédulas com 182.962 Kg. Em ambos os casos, o contrato poderá ser prorrogado apenas uma vez por mais dois meses, caso seja decidido pela CMA.
Novas cédulas, custos e mercados
Uma fonte com conhecimento do assunto que pediu para não ser identificada explicou à Bloomberg Línea que, com base nas medidas especificadas nas licitações, as cédulas chegarão pré-impressas, pois, se chegassem como folhas não cortadas, os paletes teriam outras medidas.
A fonte calculou que a carga de Paris seria equivalente a cerca de 80 milhões de cédulas, e a de Malta, a 180 milhões.
De acordo com suas estimativas, cada lote de mil cédulas teria um custo de impressão de cerca de US$ 120 a US$ 125, o que significaria que a Argentina teria que pagar entre US$ 31,2 milhões e US$ 32,5 milhões pelas notas, excluindo os custos de frete aéreo.
Isso faz com que cada cédula custe cerca de US$ 0,12.
As notas vindas de Paris e Malta, acrescenta a fonte, são de mil pesos, o que implica que 260 bilhões de pesos serão enviados, com um custo que dependerá da taxa de câmbio nos próximos meses, embora não seja inferior a 6,7 bilhões de pesos (US$ 31,2 milhões à taxa de câmbio oficial de 216 pesos para cada dólar).
Contudo, o valor final também dependerá dos custos de transporte.
Por trás da fabricação das notas em Paris está a empresa francesa Oberthur e em Malta, a sueca Crane, que durante séculos forneceu papel-moeda ao Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.
Na ausência de licitações ou contratação direta com essas empresas, especula-se que a Casa da Moeda espanhola possa atuar como fachada para a operação.
A falta de transparência em relação à origem e ao custo das cédulas importadas pela Argentina ficou refletida no último relatório de gestão apresentado pelo chefe de gabinete Agustín Rossi no final de março ao Congresso, e que evitou fornecer detalhes sobre o assunto, apesar de dois pedidos expressos dos legisladores.
Em uma das respostas, ele desculpou-se afirmando que “as perguntas feitas são cobertas por cláusulas de confidencialidade nos contratos com o BCRA e com as casas da moeda estrangeiras que fornecem cédulas”.
Ele também afirmou que “o BCRA paga o preço final por cédula acabada, já que contrata direta e exclusivamente com a Casa da Moeda Argentina (CMA)”.
Segundo Rossi, o banco central, “quando for impossível atender à quantidade exigida, solicita autorização para subcontratar empresas de impressão de dinheiro no exterior, como a Casa da Moeda do Brasil, a Fábrica Nacional de Moneda y Timbre da Espanha, e a Banknote Printing and Minting Corporation da China”.
Inflação e demanda por cédulas
Os 260 milhões de cédulas que chegarão da França e de Malta serão adicionais aos 200 milhões que a Argentina importa mensalmente da Espanha, Brasil e China, e também aos mais de 65 milhões de cédulas produzidas mensalmente em média pela CMA, cuja capacidade de produção anual é de 800 milhões de cédulas.
A quantidade de pesos argentinos impressos em três continentes é um reflexo da aceleração da inflação no país, que chegou a um recorde mensal de 7,7% em março, e da recusa do governo em emitir notas de maior valor, além das poucas notas de 2 mil pesos que passarão a circular este ano.
Uma segunda fonte com laços estreitos com a dinâmica da impressão de cédulas disse não se surpreender com a necessidade da CMA de procurar novos centros de impressão, embora tenha expressado surpresa pelo fato de que as cédulas virão da França, um país que a fonte descreveu como “caro” em termos de impressão de cédulas.
Mas, independentemente disso, a pessoa que falou à Bloomberg Línea indicou que a necessidade de acrescentar pesos à economia deve ser entendida pelo contexto político pelo qual o país está passando.
Segundo suas análises, os últimos resultados eleitorais em Trelew e Neuquén, somados às atuais pesquisas de opinião e ao clima social que o país está vivendo, estão gerando muita pressão de prefeitos e províncias para que o governo coloque mais pesos na economia, como fez em 2021 após a retumbante derrota.
Dada a proximidade das eleições, a CMA não conseguirá produzir mais cédulas a tempo nem acrescentar um valor superior a 2 mil pesos, acrescentou a fonte, dizendo que isso deixa o governo com a necessidade de acelerar o ritmo de impressão e procurar novos fornecedores com capacidade de produzir pesos para o país.
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