Musk sob pressão: grupo de acionistas da Tesla cobra conselho sobre ‘má gestão’

Investidores cujas posições superam US$ 1,5 bilhão questionam o fato de Musk atuar como CEO de outras duas empresas, a SpaceX e o Twitter, e a queda de 50% das ações

Elon Musk, CEO da Tesla, em evento de inovação em Miami nesta semana de abril (Eva Marie Uzcategui/Bloomberg)
Por Dana Hull
21 de Abril, 2023 | 07:08 PM

Bloomberg — Um grupo de investidores da Tesla (TSLA) acusou a empresa de má administração e está buscando uma reunião com seu conselho de administração para discutir o desempenho do CEO Elon Musk.

Os 17 acionistas, que detêm mais de US$ 1,5 bilhão em ações da Tesla, disseram que Musk está distraído com seus compromissos com outras empresas e deve ser contido, de acordo com uma carta aberta que enviaram à presidente Robyn Denholm e ao diretor Ira Ehrenpreis nesta sexta-feira (21). Eles querem que o conselho elabore um plano para isso e procurem remover diretores muito ligados ao CEO.

“Há uma frustração coletiva”, disse Ivan Frishberg, diretor de sustentabilidade do Amalgamated Bank, um banco sindicalizado que possui 722.070 ações da Tesla em seus vários fundos. “No ano passado, ficou bastante claro que a Tesla sofre de um problema de governança.”

A Tesla não respondeu a um pedido de comentário sobre a carta.

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Embora as reclamações de governança não sejam novidade para a Tesla, elas apenas aumentam a lista de desafios enfrentados pela fabricante de veículos elétricos.

No início desta semana, a empresa divulgou resultados considerados sem brilho por analistas no primeiro trimestre, depois de sucessivos cortes de preços agressivos para ganhar mercado e afetar os lucros dos concorrentes. Musk disse em teleconferência que planejava reduzir ainda mais os preços, mesmo que prejudique as margens, fazendo com que as ações despencassem 10% na quinta (20).

Nesta sexta, a Tesla recuou ao menos em um primeiro momento dos descontos e subiu os preços dos modelos S e X em US$ 2.500 cada um, ou 2% e 3%, respectivamente. A ação subiu hoje 1,28%.

O Amalgamated Bank, os fundos de pensão da cidade de Nova York e outros signatários da carta querem que Musk se concentre na Tesla para que ele possa navegar no mercado cada vez mais competitivo de veículos elétricos e no escrutínio regulatório crescente.

A empresa enfrenta investigações do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, da National Highway Traffic Safety Administration e do Departamento de Veículos Automotores da Califórnia sobre seu sistema de piloto automático.

Enquanto as ações da Tesla despencavam na quinta, o bilionário CEO assistia a um foguete de outra empresa que ele fundou e dirige – a SpaceX – explodir sobre Boca Chica, no Texas, logo após a decolagem.

A montadora com sede em Austin, Texas, agora vale metade de seu valor de mercado de US$ 1,2 trilhão em 4 de abril de 2022, quando Musk divulgou pela primeira vez sua participação no Twitter, apontaram os investidores. Ele finalmente comprou a empresa de mídia social e a administra desde outubro passado.

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“É inédito ser CEO e também administrar duas outras empresas ao mesmo tempo”, disse Courtney Wicks, diretora executiva da Investor Advocates for Social Justice, que representa vários investidores religiosos. “Não consigo imaginar nenhum outro conselho permitindo que um CEO tenha tantas atividades comerciais externas.”

No início deste ano, outro investidor da Tesla – que não está associado à carta – apresentou uma resolução pedindo à empresa que criasse um plano para lidar com sua dependência considerada excessiva de Musk.

O conselho da Tesla recomendou que os acionistas votassem contra a proposta na reunião anual da empresa em 16 de maio. Embora esse tipo de resolução enfrente um caminho difícil para o sucesso, o fraco desempenho recente das ações da montadora pode irritar os investidores, que, de outra forma, estariam inclinados a ficar do lado da empresa.

Embora tenham subido mais de 50% em 2023, as ações ainda estão valendo a metade da cotação do fim de 2022.

Alguns dos acionistas que assinaram a carta levaram resoluções para a reunião anual da empresa no passado. A procuração deste ano contém apenas uma resolução, abaixo das oito em 2022 - em grande parte porque a notícia de que a Tesla estava reagendando a reunião foi enterrada em um arquivo regulatório.

A carta continua com uma lista de uma série de outras questões que os investidores argumentam que colocam a empresa em risco. Entre eles: o litígio da empresa com o estado da Califórnia sobre o tratamento de funcionários negros na fábrica da Tesla em Fremont, o uso de arbitragem obrigatória e a demissão de funcionários envolvidos em um esforço de organização sindical em Buffalo, Nova York.

O grupo também criticou a Tesla por abrir um showroom em Urumqi, capital da Região Autônoma Uigur de Xinjiang, na China. Ativistas e políticos acusaram a China de cometer abusos dos direitos humanos na área.

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