A visão de Bill Gross, ex-Pimco, após a quebra do SVB: aposte em bancos regionais

Investidor que já foi conhecido como The Bond King defende que instituições ganham dinheiro se administrados de forma conservadora e alerta para prêmios em caso de venda

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Bloomberg — Bancos regionais “maltratados” obtiveram um voto de confiança do ex-Rei dos Títulos (”The Bond King”).

Em sua carta de investimentos publicada nesta sexta-feira (21), Bill Gross, co-fundador e ex-CIO (head de investimentos) da Pacific Investment Management Co., a Pimco, disse que comprou ações de bancos regionais americanos depois da quebra do SVB, o Silicon Valley Bank.

Isso inclui papeis do Western Alliance Bancorp (WAL), do Synovus Financial (SNV) e do PacWest Bancorp (PACW), bem como o ETF SPDR S&P Regional Banking.

Após uma série de quebras de bancos regionais dos EUA no início de março, as ações de pequenos bancos caíram, sendo negociadas com um desconto de cerca de 60% do valor de seus ativos líquidos. Isso, juntamente com um retorno sobre o patrimônio líquido de cerca de 10%, fornece “um atraente investimento de longo prazo”, de acordo com Gross, que se aposentou da gestão de ativos em 2019.

“Sempre disse a mim mesmo e a amigos íntimos que gostaria de abrir um banco”, escreveu Gross. “É uma licença para ganhar dinheiro mesmo quando administrado de forma conservadora. É certo que os [bancos] regionais terão seus problemas cíclicos se e quando ocorrer uma recessão, mas meu antigo desejo de possuir um banco agora é possível por meio de mercados públicos”, escreveu.

Além disso, os bancos regionais menores podem ser “devorados” por players maiores com um prêmio em relação aos preços atuais das ações, disse ele.

Desde sua aposentadoria, há quatro anos, Gross continua a usar a sua carta com o outlook para os mercados para expressar visões econômicas e oferecer dicas de investimento, uma tradição que remonta à década de 1970, quando ele estava transformando a Pimco em uma potência de títulos. A Pimco se transformou em uma das maiores gestoras do mundo - hoje tem cerca de US$ 2 trilhões em ativos.

Gross, por sua vez, gerenciou por anos o maior fundo de títulos do mundo, que chegou a ter aproximados US$ 300 bilhões em ativos sob gestão e que alimentou a aura de “The Bond King”.

Ele foi afastado da empresa em 2014, após desentendimentos com outros executivos. E se mudou para a Janus Capital Group (hoje Janus Henderson).

A recente turbulência bancária, disse ele, foi apenas mais um exemplo das consequências de décadas de política monetária flexível, inovação financeira “radical” e “salvamentos do déficit fiscal”.

As economias dos Estados Unidos e do mundo estão tão viciadas em crédito barato que é “extremamente difícil” que a inflação volte à meta de 2% do Federal Reserve, escreveu ele. Portanto, os investidores devem possuir títulos protegidos contra a inflação - os TIPS -, em vez de títulos do Tesouro, com expectativas de que os preços ao consumidor aumentarão mais de 3% ao ano.

Ao se tornar um “banqueiro por procuração” por meio de seu investimento pessoal em ações de bancos regionais, Gross dificilmente parece ter qualquer consideração pela profissão.

Em seu estilo geralmente provocativo e pouco ortodoxo, Gross criticou todos os personagens importantes de Wall Street, de banqueiros centrais a gerentes de fundos hedge.

Ridicularizando banqueiros, por exemplo, ele escreveu:

“Emprestar dinheiro que não é deles, cobrar juros sobre ele, executar a hipoteca de sua casa se você não pagar, aceitar uma esmola do governo quando eles tiverem problemas e depois reclamar perpetuamente sobre bônus e regulamentação. Pobres bebês! Eles prefeririam ser caminhoneiros?”

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