Bloomberg — Elon Musk sinalizou que a Tesla (TSLA) continuará sua política de redução de preços para estimular a demanda por seus veículos elétricos, mesmo que isso afete as margens de lucro, as maiores da indústria.
Musk argumentou que tem boas razões para fazê-lo, reforçando em conferência com analistas na quarta-feira (19) que a Tesla pode suportar financeiramente os cortes de preços, dando-lhe a vantagem sobre os rivais. Os investidores, por outro lado, não se mostraram tão convencidos, enviando as ações da empresa para baixo nas operações posteriores ao fechamento das bolsas.
“Temos uma opinião que apostar por maiores volumes maiores e uma frota maior é a escolha certa, frente a um volume menor e maior margem”, disse Musk a analistas.
As quedas de preços têm sido dramáticas. O preço base do Modelo 3 caiu agora abaixo de US$ 40.000 nos EUA pela primeira vez em anos, um corte de aproximadamente US$ 7.000 desde o início do ano.
Isso tem consumido a rentabilidade da empresa. A margem operacional da Tesla foi de 11,4% no primeiro trimestre, contra 16% no período anterior e 19,2% há um ano. Pela primeira vez em anos, a empresa de Austin, sediada no Texas, recusou-se a fornecer sua margem bruta automotiva, uma métrica muito vigiada, limitando-se a dizer que caiu a partir do quarto trimestre.
A margem bruta automotiva sem levar em conta os créditos chegou a 19%, abaixo de um consenso de 21,8%, Colin Langan, um analista da Wells Fargo, escreveu em uma nota na noite de quarta-feira.
O diretor financeiro Zachary Kirkhorn disse na teleconferência que o encolhimento da margem não prejudicou os programas de gastos de capital da Tesla para aumentar a produção nos próximos dois anos. “Temos muito espaço antes que isso se torne algo que temos que revisitar”, disse ele.
Vantagem frente à concorrência
Apesar da queda do primeiro trimestre, as margens da Tesla ainda são mais altas do que as de outras montadoras. Em 2022, a General Motors tinha uma margem operacional de 6,6% enquanto a da Ford Motor era de apenas 4%. Os executivos da Tesla disseram que a empresa ainda ostenta algumas das melhores margens operacionais do negócio.
A receita da Tesla aumentou 24%, para US$ 23,33 bilhões, no primeiro trimestre, quase em linha com as estimativas da Bloomberg de US$ 23,35 bilhões.
A empresa relatou créditos regulamentares de US$ 521 milhões. Mas o lucro excluindo alguns itens caiu para 85 centavos de dólar por ação, um pouco abaixo da média de 86 centavos das estimativas compiladas pela Bloomberg, e o fluxo de caixa livre caiu para um mínimo de dois anos de US$ 441 milhões.
As ações da empresa caíram mais de 6% no final das negociações em Nova York, depois que Musk expôs suas expectativas para a estratégia da empresa. No ano, as ações subiram 47% até o fechamento da quarta-feira. Às 5h39 de Brasília, a queda no pré-mercado era de 7,87%, para US$ 166,38.
“A Tesla está passando por uma fase difícil”, disse Gene Munster, sócio-gerente da Deepwater Asset Management. “Eles estão mantendo as coisas unidas, mas os investidores querem ver algumas destas tendências começarem a melhorar”.
O fabricante de EV (veículos elétricos) disse que a produção deste ano cumprirá a orientação anterior de crescimento médio anual composto de 50% em vários anos, e disse que está no caminho certo para entregar cerca de 1,8 milhões de veículos este ano. Produziu 440.808 carros e entregou 422.875 veículos no trimestre, resultando em um excesso de estoque de cerca de 18.000.
Musk procurou aliviar as preocupações com o balanço, dizendo aos analistas que as encomendas estão agora ultrapassando a produção.
Cybertruck nos trilhos
A produção da tão esperada pickup elétrica Cybertruck da Tesla está no caminho para começar no final deste ano em sua fábrica no Texas, com uma entrega já no terceiro trimestre. A empresa também está fazendo progressos em sua plataforma de veículos da próxima geração, de acordo com uma carta aos acionistas. Esses futuros modelos de produtos serão revelados em uma “data posterior”, disse o chefe de projeto da empresa, Franz von Holzhausen, em um evento no mês passado.
A posição única de Tesla entre os fabricantes de automóveis fez comparações com os primeiros dias da Ford, que introduziu o Modelo T no início dos anos 1900 e colocou outros fabricantes de automóveis fora do mercado, utilizando uma linha de montagem para produzir veículos muito mais baratos.
Musk argumentou que não é bem o mesmo - ele não está tão focado em colocar os concorrentes fora do negócio quanto está em dar a mais clientes acesso aos carros Tesla em meio ao aumento das taxas de juros e à alta inflação.
“Eles vão usar a sala em sua margem para criar mais demanda”, disse Ben Kallo, um analista da Robert W. Baird, em uma entrevista à Bloomberg Television.
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