Dólar se mantém abaixo de R$ 5? Gestores cortam projeções para a moeda

Pesquisa do Bank of America com gestores de fundos com US$ 105 bilhões em ativos aponta que expectativa de dólar mais fraco em 2023 é disseminada na América Latina

Percentual de gestores consultados pelo BofA que esperam uma divisa americana mais forte em 2023 caiu de 43% para apenas 6%
20 de Abril, 2023 | 04:46 AM

Bloomberg Línea — Gestores de fundos veem um dólar mais desvalorizado em relação ao real nos próximos meses, segundo pesquisa mensal do Bank of America (BAC) divulgada nesta quarta-feira (19).

De acordo com o levantamento “Latam Fund Manager Survey” de abril, 60% dos entrevistados esperam que a divisa americana encerre o ano negociada em um intervalo de R$ 4,81 a R$ 5,10. Em março, apenas 30% dos gestores viam a moeda nesse patamar, com a maior parte das apostas concentradas em um intervalo de R$ 5,11 a R$ 5,40.

A pesquisa deste mês contou com a participação de 33 gestores, que somam cerca de US$ 105 bilhões em ativos sob gestão.

A mudança nas expectativas vem na esteira de uma queda do dólar nas últimas semanas, quando a moeda saiu dos R$ 5,30, em 24 de março, para fechar abaixo de R$ 5 pela primeira vez em dez meses em 12 de abril. Ontem (19), no entanto, a divisa voltou a se valorizar frente ao real diante da avaliação mais negativa sobre o arcabouço fiscal e encerrou o dia em R$ 5,08, com alta de 1,84%.

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Uma valorização das commodities em meio à retomada da economia chinesa, além de expectativas de um fim do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos, contribuiu para um alívio no câmbio no último mês.

A pesquisa do Bank of America foi conduzida no início do mês, antes da entrega ao Congresso, na última terça-feira (18), do plano fiscal que irá substituir o teto de gastos. Houve críticas de especialistas em finanças públicas e do mercado financeiro, diante da avaliação de que a versão do texto abre brechas demais para o não cumprimento das metas fiscais pelo novo governo.

Na pesquisa, os investidores disseram estar divididos sobre o que esperar do novo arcabouço fiscal no Brasil: 36% afirmaram ser muito cedo para ter uma avaliação final, 24% avaliaram que veio em linha com o esperado, 24% gostaram da proposta, enquanto 15% disseram que veio pior que o esperado.

Para os gestores consultados, uma desaceleração da atividade e um melhor quadro fiscal são os fatores mais importantes para reduzir as expectativas de inflação no Brasil.

Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou ante fevereiro e subiu 0,71%, abaixo do esperado. No acumulado de 2023 até março, a alta é de 2,09% e, em 12 meses, de 4,65%.

O sentimento de cautela se reflete nas projeções no relatório Focus, do Banco Central. Na pesquisa mais recente, os economistas consultados pela autoridade monetária estimaram alta de 6,01% para o IPCA este ano e de 4,18% em 2024, uma piora em relação ao levantamento da semana anterior.

Com relação à taxa Selic, a maior parte dos gestores consultados pelo BofA vê a taxa básica de juros encerrando o ano entre 12% e 12,75% ao ano, assim como no levantamento anterior. A taxa está no patamar de 13,75% ao ano desde agosto de 2022.

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A expectativa, segundo 88% dos gestores consultados, é a de que o Banco Central inicie o ciclo de corte de juros até o terceiro trimestre deste ano.

Por fim, na bolsa, a maior parte dos gestores que responderam à pesquisa do BofA disse esperar que o Ibovespa (IBOV) encerre o ano negociado no intervalo entre 110 mil e 120 mil pontos, o que implicaria alta de até 13% ante o fechamento do pregão de terça-feira (18), de 106.163 pontos.

América Latina

Assim como no Brasil, a maioria dos gestores consultados pelo BofA espera que o dólar se comporte de forma mais fraca em relação às moedas da América Latina. O percentual de gestores que esperam uma divisa americana mais forte em 2023 caiu de 43%, em março, para apenas 6% em abril.

Na região, o principal risco hoje, segundo os gestores, é uma desaceleração da economia dos Estados Unidos, seguida por juros mais altos do Federal Reserve.

Segundo o BofA, apenas 9% dos investidores estão tomando mais risco do que o normal, abaixo da média histórica de 21%. O nível de caixa (ativos de maior liquidez) está em 7,8%, acima da média histórica da pesquisa, de 5%.

O percentual de investidores que está adotando proteções em suas carteiras contra fortes quedas nos mercados de ações, contudo, caiu de 50%, no mês passado, para 36% em abril.

Os setores financeiro, de utilities e industrial representam as maiores posições overweight (acima da média do mercado, equivalente a compra).

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.