Como demissões em Wall St e nas big techs reduzem a pressão inflacionária

Maior disponibilidade de trabalhadores no mercado de trabalho americano está fazendo com que jovens aceitem vagas que antes eram mais difíceis de preencher

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Bloomberg Opinion — Os trabalhadores com habilidades em tecnologia, finanças e outras áreas nos Estados Unidos estão acostumados a ter o máximo de opções no mercado de trabalho. Eles ainda estão longe de enfrentar tempos difíceis, mesmo após as demissões, mas dados recentes sugerem que seus melhores momentos passaram.

O principal motivo pelo qual eles não estão em pior situação é porque muitos trabalhadores mais jovens e menos experientes estão assumindo cargos menos glamourosos e mais difíceis de serem preenchidos em setores como educação e saúde.

Isso ajuda a apoiar o crescimento e, ao mesmo tempo, alivia a inflação, tirando a tensão das cadeias de abastecimento – e isso deve dar ao Federal Reserve mais confiança de que não é necessário derrubar a economia para trazer a oferta e a demanda de volta ao equilíbrio.

As opiniões sobre o mercado de trabalho para os chamados trabalhadores do “conhecimento” podem depender do que está sendo avaliado.

Por exemplo, ainda há mais empregos não preenchidos para trabalhadores profissionais e de serviços comerciais do que antes da pandemia. Mas, até fevereiro, a queda nas vagas de emprego no último ano foi a mesma da recessão de 2008. E os dados de vagas de trabalho em tempo real do site Indeed.com sugerem que o declínio nos cargos nas áreas de finanças e tecnologia se prolongou até abril.

Portanto, as coisas podem estar bem por enquanto, mas a tendência é sombria, e é justo pensar em quanto as condições se deteriorarão nos próximos meses.

O que está acontecendo no resto do mercado de trabalho oferece certo incentivo. O crescimento do emprego nos grandes setores que ficaram para trás na recuperação pós-pandemia continua trazendo ganhos robustos. Governo, educação e saúde, e lazer e hospitalidade acrescentaram um total de 184 mil empregos em março, consistente com os ganhos mensais há quase um ano.

É possível creditar esse aumento ao crescimento do número de pessoas que entraram para a força de trabalho ao aceitar alguns desses empregos mais difíceis de preencher. Entre março e novembro de 2022, o tamanho da força de trabalho dos EUA ficou mais ou menos estável, mas desde novembro aumentou em 2,2 milhões de trabalhadores.

Um aumento na participação da força de trabalho é o que o Federal Reserve queria, já que visa equilibrar emprego e inflação. Mas isso também levanta a possibilidade de que a economia possa voltar para as condições de 2019, quando combinava um crescimento sólido do emprego e baixo desemprego com uma inflação contida.

O que aconteceu nos últimos meses no país foi um crescimento sólido do emprego com baixo desemprego, enquanto a força de trabalho maior manteve o aumento dos salários sob controle, o que por sua vez ajuda a moderar a inflação.

Isso importa para os trabalhadores do conhecimento porque os empregos em setores como tecnologia e finanças se tratam de visões de longo prazo sobre o futuro e condições atuais. Ter mais pessoas dispostas a aceitar empregos também ajuda no curto prazo, permitindo que as empresas aumentem os níveis de produção.

A renda dos novos trabalhadores se volta para o consumo, aumentando a atividade econômica. Ao aliviar as pressões inflacionárias, isso também deve significar que o Fed não precisa aumentar tanto as taxas de juros, reduzindo as chances de uma recessão significativa e fazendo as empresas pensarem duas vezes antes de cancelar contratações ou fazer demissões em massa.

É justo perguntar se os postos de trabalho menos prestigiosos que as pessoas estão aceitando são bons ou se voltamos a um padrão em que a economia sobrevive com trabalhadores de baixo custo. É possível acreditar que este ciclo é melhor.

Primeiro, porque o ritmo em que as pessoas estão deixando seus empregos continua próximo dos níveis pré-pandemia, sugerindo que os trabalhadores têm opções. Em segundo lugar, o crescimento dos salários dos funcionários da produção e dos funcionários comuns – abaixo do nível de gestão – supera os salários gerais incluindo de chefes e gerentes, algo não visto nos anos 2010.

E por último, cerca da metade do aumento da força de trabalho desde novembro ocorreu por meio de pessoas com menos de 25 anos de idade, que em muitos casos poderiam optar por permanecer no ensino superior ou ficar em casa se não houvesse bons empregos.

Enquanto as pessoas estiverem se juntando à força de trabalho de forma que leve ao crescimento da economia sem aumentar a inflação, o lado negativo para os trabalhadores do conhecimento deve ser limitado. Por enquanto, a mudança no mercado de trabalho para os trabalhadores de colarinho branco parece mais um reequilíbrio do que uma retração.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Conor Sem é colunista da Bloomberg Opinion e fundador da Peachtree Creek Investments.

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