Por que o resultado do Goldman foi na contramão dos bancos de Wall Street

Banco de investimento não conseguiu capitalizar os ventos favoráveis que impulsionaram os balanços dos concorrentes no primeiro trimestre; ações caem

Goldman Sachs
Por Sridhar Natarajan
18 de Abril, 2023 | 11:43 AM
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Bloomberg — Os traders do Goldman Sachs (GS) não conseguiram capitalizar o crescimento das aplicações de renda fixa que o restante de Wall Street gerou no primeiro trimestre de 2023, o que contribuiu para um faturamento abaixo do esperado pelos analistas do mercado financeiro. Com o resultado mais fraco do balanço, as ações do banco de investimento caíam 1,83% por volta das 11h20 (horário de Brasília), depois de caírem até 4% no pregão desta terça-feira (18).

A receita da mesa de renda fixa caiu 17%, informou a empresa em comunicado. O Goldman foi o único grande banco de Wall Street até agora a registrar uma queda nesse área de negócio, embora o desempenho tenha sido o terceiro melhor da empresa na última década. A receita de negociação de ações superou as expectativas, ajudando a suavizar o golpe.

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O banco também se livrou de uma parte de sua carteira de empréstimos de sua subsidiária Marcus de aproximadamente US$ 4 bilhões, o que levou a uma liberação de reservas de US$ 440 milhões.

O lucro dessa empresa foi maior do que o esperado pelos analistas, mas os ganhos ainda caíram 19% em relação ao ano anterior. A receita líquida incluiu uma perda de aproximadamente US$ 470 milhões relacionada à venda parcial do portfólio e à transferência do restante para o status de mantido para venda.

As ações do Goldman, com sede em Nova York, caíram 3,8% este ano, em comparação com uma queda de 2,9% do S&P 500 Financials Index.

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A maioria dos maiores bancos do país se beneficiou de mercados voláteis que ajudaram a aumentar a demanda por serviços de negociação. O Bank of America (BAC) disse na terça-feira que seus operadores de renda fixa entregaram uma receita inesperada: a receita de negociação nessa unidade subiu quase 30%, enquanto os analistas esperavam uma pequena queda.

Gigantes do banco de varejo, como JPMorgan Chase (JPM) e Wells Fargo (WFC), entregaram na semana passada lucros mais altos com o aumento das taxas de juros.

'Os eventos do primeiro trimestre atuaram como outro teste de estresse da vida real'

Um fator de preocupação para os grandes bancos de investimento continua sendo a atividade mais fraca nos mercados de capitais, à medida que as empresas buscam superar a volatilidade, que reduziu as taxas de empresas como o Goldman Sachs.

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A receita de banco de investimento de US$ 1,58 bilhão ficou praticamente em linha com as estimativas e caiu 26% em relação ao ano anterior.

A provisão da empresa para perdas de crédito foi um benefício líquido de US$ 171 milhões no primeiro trimestre, impulsionado pela venda da carteira de empréstimos. Os analistas esperavam que esse número tivesse prejudicado o lucro em US$ 828 milhões.

O Goldman também teve um prejuízo de cerca de US$ 355 milhões relacionado a seus investimentos imobiliários.

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Os banqueiros e traders do gigante de Wall Street estiveram envolvidos na tentativa fracassada de ajudar o Silicon Valley Ban (SVB) a levantar fundos, um gatilho para a crise de bancos regionais dos EUA no mês passado.

Os banqueiros de investimento da empresa estavam no mercado procurando levantar capital para SVB, ao mesmo tempo em que compravam uma carteira de títulos da empresa com um grande desconto.

Faturamento da unidade de renda fixa caiu em relação ao mesmo período do ano passado

“Os eventos do primeiro trimestre atuaram como outro teste de estresse da vida real, demonstrando a resiliência do Goldman Sachs e das maiores instituições financeiras do país”, disse o CEO David Solomon em comunicado.

O negócio de gestão de ativos e fortunas, uma importante iniciativa de crescimento para a empresa, reportou US$ 3,22 bilhões em receita, em comparação com as expectativas dos analistas de US$ 3,8 bilhões.

Grande parte da perda estava ligada à receita atingida com a venda da carteira de empréstimos, que estava alojada na divisão. Os ganhos com investimentos em ações também foram menores do que os analistas esperavam. Ainda assim, a unidade registrou um aumento de 24% em relação ao ano anterior, impulsionada por ganhos nas taxas de administração.

Uma divisão recém-criada chamada Platform Solutions - que abriga parcerias de cartão de crédito, transações bancárias e o negócio de empréstimos a prestações conhecido como GreenSky - reportou US$ 306 milhões em perdas antes dos impostos.

O desempenho foi significativamente melhor do que a perda estimada de US$ 570 milhões. Isso foi em grande parte impulsionado por uma menor provisão para perdas de crédito no trimestre.

O Goldman disse em seu “Investor Day” em fevereiro que está considerando alternativas estratégicas para o que resta de seu negócio de consumo, depois que perdas crescentes forçaram Solomon a recuar em seu objetivo de construir um negócio gigante para atender o mercado de massa.

Solomon confirmou em uma teleconferência com analistas na terça-feira que a empresa planeja vender a GreenSky, a plataforma de empréstimos a prestações que adicionou à divisão de consumo há cerca de dois anos.

Outros destaques dos resultados do primeiro trimestre do Goldman Sachs:

  • O lucro líquido caiu 19%, para US$ 3,09 bilhões.
  • A receita em toda a empresa totalizou US$ 12,2 bilhões, em comparação com uma estimativa média de US$ 12,8 bilhões.
  • A receita de consultoria foi a mais alta entre os bancos de Wall Street até agora, com US$ 818 milhões.
  • O retorno sobre o patrimônio líquido para o negócio combinado de banco e mercados foi de 16,6%.

-- Com a colaboração de Keith Gerstein

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