Crédito e efeito Americanas: o que esperar dos balanços de bancos no 1º tri

Analistas do UBS BB apontam em relatório uma mudança na dinâmica de empréstimos corporativos após a crise da varejista e de outras empresas

Maior banco do país divulga o seu balanço do primeiro trimestre no dia 8 de maio
17 de Abril, 2023 | 04:45 AM

Bloomberg Línea — A temporada de balanços corporativos no Brasil começa na próxima semana e deve mostrar como o colapso da Americanas (AMER3) e de outras varejistas e o consequente aperto no mercado de crédito, em um momento de juros elevados e maior rigor nas concessões, impactaram os resultados dos grandes bancos brasileiros nos primeiros três meses de 2023.

No setor financeiro, a safra de resultados começa com o Santander Brasil (SANB11), que publica seus números referentes ao período de janeiro a março no dia 25 de abril. As divulgações dos bancos se estendem até 16 de maio, com os dados de Banco do Brasil (BBAS3).

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Em relatório divulgado na sexta-feira (14), o UBS BB destacou que a crise da Americanas somada à uma desaceleração econômica mudou a dinâmica do crédito corporativo no país.

No período, a originação de empréstimos corporativos não rotativos diminuiu significativamente, os spreads aumentaram e as provisões dos bancos para o segmento aumentaram, juntamente com seus índices de inadimplência.

O time de análise apontou que nos dois primeiros meses do ano as originações ficaram 7% abaixo da média mensal de 2022, com maior contração nas linhas não rotativas (8%). Já o índice de inadimplência acima de 90 dias das empresas aumentou 0,4 ponto percentual no primeiro bimestre do ano, atingindo 2,1% em fevereiro e se aproximando da média histórica de 2,3%.

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Com relação às diferenças entre os custos de captação e de empréstimos, os analistas do UBS BB escreveram que, em fevereiro de 2023, o spread dos novos empréstimos livres aumentou 1,4 ponto percentual (p.p.) em relação a dezembro de 2022, enquanto aumentou 20 p.p. nos empréstimos direcionados.

Itaú como destaque positivo

Para os analistas Thiago Batista e Olavo Arthuzo do UBS BBS, que assinam o relatório, o destaque positivo desta temporada deverá ser o Itaú Unibanco (ITUB4), cujos resultados podem mostrar um “crescimento sequencial considerável” dos lucros, com uma potencial surpresa positiva na qualidade dos ativos.

O UBS BB projeta que o lucro recorrente do Itaú tenha aumentado 6% no trimestre, gerando um ROAE (retorno sobre patrimônio médio, na sigla em inglês) de 20%.

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Do lado negativo, o time de análise destacou o Santander Brasil. A avaliação é a de que o banco pode apresentar resultados “nebulosos”, com provisões societárias anormais, que podem ser parcialmente compensadas por uma reversão de provisões cíveis/fiscais e uma alíquota efetiva menor.

O time destacou que as expectativas para o primeiro trimestre deste ano estão abaixo do consenso do mercado para a maioria dos nomes.

Confira a seguir as principais estimativas do UBS BB para os balanços dos bancos brasileiros no 1º trimestre:

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Santander Brasil

No caso do Santander, a dupla de analistas estima que os números, a serem divulgados em 25 de abril, antes da abertura do pregão, venham “poluídos por alguns eventos anormais”.

“Acreditamos que o banco poderia reforçar suas provisões societárias, ao mesmo tempo em que pode reverter algumas provisões legais/fiscais. Sua carteira de crédito e NII [margem financeira] podem continuar pressionadas. A qualidade dos ativos pode apresentar tendências negativas (o índice de inadimplência pode aumentar ainda mais, enquanto a renegociação pode ser alta)”, escreveram os analistas do UBS BB.

Bradesco

O Bradesco (BBDC4) reporta seus números do primeiro trimestre no dia 4 de maio, após o fechamento do mercado.

Acreditamos que os resultados do Bradesco devem continuar sendo afetados pelas altas provisões para devedores duvidosos e resultados comerciais negativos”, apontou o relatório.

O UBS BB projeta lucro de R$ 3,8 bilhões, um pouco abaixo dos R$ 4,3 bilhões reportados nos últimos três meses de 2022 (excluindo a provisão da Americanas). O lucro pode ficar em torno de R$ 8 bilhões no primeiro semestre, segundo os analistas, antes de melhorar para cerca de R$ 12 bilhões na segunda metade do ano.

Itaú Unibanco

Após uma provisão significativa relacionada à Americanas no quarto trimestre, o UBS BB prevê crescimento de 6% no trimestre, com ROAE de volta para cerca de 20%. Para os analistas, a qualidade dos ativos do banco pode continuar superando a de seus pares. As taxas, contudo, podem ser o fator negativo, segundo os analistas, “principalmente considerando o ambicioso guidance da instituição”.

O balanço do Itaú será divulgado no dia 8 de maio, após o fechamento do pregão.

Nubank

O Nubank (NU) irá divulgar seus números do primeiro trimestre no dia 15 de maio, após o fechamento do mercado.

A expectativa, segundo o UBS BB, é a de que o banco reporte uma contração nos lucros devido à sazonalidade negativa do volume de compras do primeiro trimestre, juntamente com maiores provisões. “Acreditamos que o ritmo de expansão da base de clientes deve desacelerar, enquanto a receita média mensal por cliente ativo pode crescer um pouco mais”, escreveram Batista e Arthuzo.

A dupla prevê uma base total de clientes de 77 milhões, uma carteira de empréstimos de US$ 13,4 bilhões e que o lucro ajustado alcance US$ 87 milhões (ante US$ 114 milhões no quarto trimestre de 2022).

Inter

Já com relação ao Inter, que ainda não tem dada definida de divulgação do balanço, os analistas esperam que os lucros possam melhorar no primeiro trimestre para R$ 40 milhões. “Embora esperemos deterioração adicional na qualidade dos ativos, o banco pode melhorar sua eficiência (uma tendência que esperamos durante o ano).”

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.