Bloomberg Opinion — Todos sabem que os investidores apresentam certo viés, preferindo investir em empresas de seu próprio país. E os investidores dos Estados Unidos não são exceção à regra. O diferente nos investidores americanos é que seu mercado de ações é invejado em todo o mundo, valorizando ainda mais esse viés.
Investidores renomados como Warren Buffett e John Bogle há muito exortam os investidores americanos a manter seu dinheiro dentro do país. Os EUA também são amplamente considerados o porto seguro do mundo, em parte porque as grandes empresas americanas têm a reputação de serem as mais estáveis e da mais alta qualidade. Por que os investidores americanos iriam optar por outro país?
Buffett conhece os mercados estrangeiros, então os investidores devem prestar atenção.
A reputação da qualidade das empresas americanas é bem merecida, e amplos índices de mercado a reforçam. Um atributo fundamental da qualidade é a alta rentabilidade, calculada por medidas contábeis como margem de lucro, retorno sobre o patrimônio líquido e retorno sobre o capital. Com base nas três medidas, a rentabilidade do Índice S&P 500 tem sido maior que a do Índice MSCI World ex USA e do Índice MSCI Emerging Markets – que juntos cobrem a maior parte do mundo desenvolvido e em desenvolvimento fora dos EUA – durante pelo menos as duas últimas décadas.
Mas isso não significa que os EUA tenham o monopólio de empresas altamente lucrativas. Classifiquei as cerca de 10 mil empresas do Índice Bloomberg World Large, Mid & Small Cap em ordem decrescente de margem de lucro anual mais recentemente divulgada. Sim, os EUA são o país mais representado entre os 100 primeiros, mas representam apenas 15% desse grupo.
Eu fiz o mesmo ordenando pelo retorno sobre o patrimônio e pelo retorno sobre o capital. Os EUA contam com 36 das 100 primeiras empresas em retorno sobre o patrimônio líquido e apenas 14 em retorno sobre o capital. E só por diversão, eu classifiquei as 100 primeiras novamente usando uma mistura ponderada das três medidas de rentabilidade. Os EUA abrigam apenas 18 das 100 empresas.
É verdade que a maioria dos investidores não tem tempo ou recursos para analisar milhares de ações e escolher as mais lucrativas, mas também não precisam fazê-lo. Há fundos de índices que fazem exatamente isso, avaliando as empresas de maior qualidade parcial ou predominantemente pela lucratividade. Esses fundos são geralmente agrupados por região, permitindo aos investidores decidir quanto querem alocar para os EUA em relação a outros mercados desenvolvidos ou emergentes.
O mais importante é que, como um grupo, as ações de alta qualidade fora dos EUA são muito mais baratas que o S&P 500 pela maioria das medidas de preço relativas aos fundamentos, incluindo ativos, vendas, lucros e fluxo de caixa, ao mesmo tempo em que oferecem rentabilidade semelhante ou mais alta. O S&P 500, por exemplo, é negociado a 19 vezes os ganhos de 2022, comparado com 15 vezes para o Índice MSCI World ex EUA Quality e mais próximo a 13 vezes para o Índice MSCI Emerging Markets Quality.
Buffett começou como investidor que segue a estratégia de valor, mas acabou se voltando para a qualidade. “É muito melhor comprar uma empresa maravilhosa por um preço justo do que uma empresa justa por um preço maravilhoso”, disse Buffett sobre sua evolução nos investimentos. Mesmo assim, com o mercado acionário dos EUA valorizado por muitos anos, Buffett encontrou dificuldades lutado para encontrar empresas americanas com preços atraentes para a Berkshire Hathaway (BRK/A), que possui um caixa de US$ 130 bilhões.
Isso pode explicar outra evolução de Buffett: a caçada a empresas maravilhosas no exterior. Buffett esteve no Japão, promovendo seus investimentos em cinco corretoras japonesas e incentivando-as a fazer parcerias com a Berkshire em novos empreendimentos.
Esta não é a primeira aventura de Buffett no exterior. Nas últimas duas décadas, Buffett investiu na empresa de energia chinesa PetroChina, na siderúrgica coreana Posco, na gigante do varejo britânico Tesco, na gigante farmacêutica francesa Sanofi-Aventis e nas seguradoras europeias Munich Re e Swiss Re. Durante sua estadia no Japão, Buffett disse a Nikkei na semana passada que está pensando em investir mais em empresas japonesas.
Não é de se admirar. As cinco corretoras japonesas que Buffett comprou no ano passado tiveram um retorno médio de 20% sobre o patrimônio líquido e são negociadas com uma média de apenas 6 vezes os ganhos de 2022. Comparado com o retorno sobre o patrimônio líquido de 19% para o S&P 500 a 19 vezes o lucro, sendo mais do triplo do preço. São realmente empresas maravilhosas por um preço justo.
Talvez o melhor argumento para o investimento global seja que existem grandes empresas em todos os lugares e, às vezes, elas podem ser adquiridas a um preço mais barato do que as nacionais. Basta perguntar a Buffett – melhor ainda, olhe sua carteira.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Nir Kaissar é colunista da Bloomberg Opinion e cobre mercados. Fundou a Unison Advisors, uma empresa de gestão de ativos.
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