O que faz a empresa da Bahia que terá investimento de R$ 12 bi do Mubadala

Acelen, controlada pelo fundo soberano dos Emirados Árabes, planeja produzir combustíveis renováveis em nova planta industrial; acordo foi assinado em visita de Lula ao país

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Bloomberg Línea — O Mubadala Capital, braço de investimentos do fundo soberano de Abu Dhabi, disse que vai investir R$ 12 bilhões no prazo de dez anos na construção de uma fábrica de diesel verde e de querosene de aviação para a Acelen, no norte do estado da Bahia.

A empresa de energia, proprietária da Refinaria de Mataripe (ex-Rlam, Refinaria Landulpho Alves), foi vendida pela Petrobras (PETR3, PETR4) em 2021 por cerca de R$ 10 bilhões.

O investimento é anunciado em um momento em que grandes fundos globais, de private equity a venture capital, buscam recursos de países do Oriente Médio, como revelado pela Bloomberg News.

O fundo soberano, que tem cerca de US$ 300 bilhões em ativos sob gestão no mundo, disse espera iniciar a produção no primeiro trimestre de 2026. O anúncio do plano de investimentos ocorre em um momento em que o atual governo brasileiro diz que vai estimular a produção de energia limpa.

A refinaria do Mubalada na Bahia é a principal fornecedora de derivados do petróleo no Nordeste e responde por cerca de 12% da capacidade de refino no Brasil.

O fundo soberano tem ainda no país ativos como a Prumo Logística (ex-LLX, de Eike Batista), o Porto Sudeste, em Itaguaí (RJ) e a concessão rodoviária Rota das Bandeiras, na região de Campinas, no interior do estado de São Paulo. Em 2022, chegou a fazer uma oferta pelo controle do Burger King no Brasil.

O memorando de entendimento foi um dos diversos assinados durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Abu Dhabi, após iniciar o giro pela Ásia com três dias na China. O brasileiro foi recebido pelo presidente dos Emirados Árabes, Sheikh Mohammed bin Zayed Al Nahyan.

“Volto ao país 20 anos depois para reforçar a relação entre Brasil e os Emirados Árabes Unidos”, tuitou Lula no sábado (15). “Os Emirados são o país da região que mais investe no Brasil, serão sede da COP-28 neste ano e irão ampliar investimentos em biocombustíveis e energias renováveis.”

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), presente à comitiva, foi quem assinou o memorando de entendimento entre o estado do Nordeste e o Mubadala Capital.

Em comunicado, a Acelen, controlada pelo Mubadala, detalhou o plano de investimento na produção de combustíveis renováveis.

A expectativa é produzir 1 bilhão de litros por ano, movimentar R$ 85 bilhões na economia, contribuir para geração de 90 mil postos de trabalho diretos e indiretos e reduzir em até 80% as emissões de CO2 com a substituição do combustível fóssil.

A empresa informou que pretende se tornar uma das líderes mundiais no segmento a partir de culturas agrícolas de alta energia, desde o plantio das sementes até a produção dos combustíveis renováveis.

A principal aposta será, segundo a companhia, em diesel renovável e querosene de aviação sustentável, produzidos por meio do hidrotratamento de óleos vegetais e gordura animal.

“O caminho da transição energética da Acelen começou já no início de suas operações, com a modernização da Refinaria de Mataripe e redução do seu impacto ambiental. Agora, estamos dando um passo estratégico na nossa missão de protagonismo na transição energética”, disse o CEO da Acelen, Luiz de Mendonça.

Como será a produção

Na primeira fase do projeto, será usado óleo de soja e matérias-primas complementares, que possuem o maior volume disponível e competitividade no país, segundo a Acelen.

Na segunda etapa, serão usados óleo de macaúba, árvore nativa do Brasil com alto potencial energético ainda não explorada em escala comercial, e óleo do dendê, com previsão de início de plantio em 2025. O projeto prevê o plantio em área de 200 mil hectares, priorizando terras degradadas.

“O projeto foi estruturado para ter total sinergia com a Refinaria de Mataripe, aproveitando a infraestrutura existente de utilidades, tancagem e logística. Será construída uma unidade de geração de hidrogênio sustentável, para o hidrotratamento dos combustíveis. A previsão é iniciar as obras em janeiro de 2024″, prevê a Acelen.

A capacidade de produção será de 20 mil barris/dia, cerca de 1 bilhão de litros ao ano, suficiente para o abastecimento anual de 1,1 milhão de veículos. A produção do diesel verde e combustível de aviação sustentável será feita, a princípio, com o foco no mercado externo, em países onde esses produtos já são aprovados para comercialização e consumo.

Aproximação com árabes

A aproximação entre o governo petista e o fundo árabe ocorre em um momento de questionamentos da ala política do governo Lula sobre as privatizações realizadas durante o governo do antecessor Jair Bolsonaro no setor de petróleo e gás, como a própria Rlam no fim de 2021.

O governo Lula já descartou novas privatizações de estatais, diferentemente de Bolsonaro, que chegou a sinalizar ser a favor da venda do controle da Petrobras. Desde que assumiu a presidência, Lula tem sinalizado que sua política vai priorizar o aumento da presença estatal na economia.

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