Lanchas e iates do Brasil ganham exterior com incentivo fiscal e menores custos

Modelo que custa até US$ 700 mil é exposto pela primeira vez em eventos náuticos nos EUA; cinco estaleiros brasileiros revelam suas apostas para 2023

Por

Bloomberg Línea — Fabricantes brasileiras de embarcações de luxo miram cada vez mais o mercado norte-americano. A exposição dos novos modelos de lanchas, que chegam a custar até US$ 700 mil ( R$ 3,7 milhões), é uma das estratégias para impulsionar as vendas externas dos estaleiros.

As vantagens da embarcação nacional se devem a incentivos fiscais e ao custo menor de produção. Neste ano, feiras náuticas em cidades da Flórida, como Miami, Palm Beach e Fort Lauderdale, têm recebido barcos produzidos no Brasil.

É o caso da fabricante Triton Yachts, com sede em São José dos Pinhais, no Paraná, que estreou no Miami International Boat Show, considerado o maior evento náutico do mundo, em fevereiro. Três modelos da marca foram expostos, como a recém lançada Triton Flyer 38 T-TOP, avaliada em R$ 1,5 milhão, além dos modelos Triton 300 Sport e Triton 370HT.

Outro estaleiro nacional, o Fishing Raptor, levou a Fishing 390 Solarium para o Palm Beach Internacional Boat Show, feira náutica que terminou no dia 26 de março. A embarcação, com quase 12 metros de comprimento e capacidade de receber até 16 passageiros, é avaliada em US$ 700 mil.

Já o estaleiro catarinense Armatti Yachts tem apostado na exportação de modelos de lanchas superesportivas que variam entre 30 e 52 pés. Em outubro, a marca entregou o primeiro modelo da nova Armatti 420 Sport Fly em Miami. A embarcação de 42 pés é avaliada em R$ 2,7 milhões.

O empresário e engenheiro Fernando Assinato, diretor da Fishing Raptor, conta que o estaleiro já vendeu mais de 20 unidades da nova lancha Fishing 390 Solarium no Brasil e no exterior. O público norte-americano tem se interessado, segundo ele, por esses modelos, pois são projetados para navegar longas distâncias.

“As embarcações podem ser equipadas com três motores de 400hp e promover uma navegação acima de 60 nós de velocidade, equivalente a quase 115km por hora”, disse o executivo à Bloomberg Línea.

Parceria

Na Flórida, outro evento náutico na agenda dos principais estaleiros do mundo é o Fort Lauderdale International Boat Show, o FLIBS, que neste ano está marcado para 25 a 29 de outubro.

O diretor da Triton Yachts, Allan Cechelero, destaca o papel de fechar parcerias para expandir a atuação internacional do estaleiro. Ele diz que o mercado norte-americano é exigente e que, para conquistar clientes por lá, é preciso participar de feiras na Flórida, como em Miami e Fort Lauderdale.

Na América do Norte, a Triton Yachts atua por meio da marca Hanover em parceria com o Blueride Marine LLC Group, dealer exclusivo.

“Para expandir ainda mais a nossa atuação no país, a Triton Yachts passou a ser representada pela marca Hanover e fechou parceria com o Blue Ride Group, revendedor exclusivo dos modelos no local. Além disso, o Miami Boat Show foi uma excelente oportunidade de ter uma aproximação ainda maior com os nossos clientes”, disse Cechelero.

Desbravar o mercado norte-americano é visto como um divisor de águas para os estaleiros nacionais.

“É gratificante a primeira exportação deste modelo em tão pouco tempo, principalmente com o lançamento realizado há menos de um ano. No Brasil, já foram mais de cinco unidades vendidas, algumas ainda em fase de projeto”, disse o CEO da Armatti Yachts, Fernando Assinato.

Austrália

Outros países estão no radar dos estaleiros. A marca catarinense de iates de luxo Okean Yachts já exporta embarcações para países como EUA, França, Espanha e Japão. A próxima aposta é a Austrália, que tem cerca de 1 milhão de barcos registrados espalhados por 350 marinas, sendo 35% importados.

Em janeiro, o modelo de iate Okean 52, avaliado em R$ 10 milhões, desembarcou na cidade de Melbourne, no estado de Vitória, na Austrália. O estaleiro, que tem seis anos de atuação, diz já ter entregue mais de R$ 400 milhões em embarcações de recreio, sendo 90% do volume de produção destinado à exportação.

“Imaginamos ter, em breve, mais embarcações da Okean Yachts navegando na Austrália, especialmente depois de importantes eventos como o Boat Show de Sidney, que ocorre em julho, e de feiras de iates como a de Queensland, no leste do país, com barreiras de corais e muito conhecida pela navegação em função das belezas naturais”, diz Ike Moreira Ferreira, diretor da Okean Yachts.

A indústria náutica brasileira também fabrica embarcações de luxo de grande porte, como o Azimut Grande 27 Metri, modelo avaliado em mais de R$ 55 milhões. Desde 2020, o iate passou a ser fabricado também no estaleiro do grupo Azimut Benetti no Brasil, única filial produtiva fora da Itália.

Com fábrica no Brasil desde 2010, a Azimut registrou no país R$ 400 milhões de faturamento durante o ano náutico 2021/2022 (1º setembro de 2021 a 31 de agosto de 2022). Já para o período 2022/2023 a projeção é de ultrapassar R$ 500 milhões, o que representa um crescimento de 25%.

O CEO da Azimut Yachts Brasil, Francesco Caputo, diz que os projetos de megaiates buscam se inspirar em residências de alto luxo. É o caso do Grande 27 Metri, que o estaleiro considera o iate mais luxuoso fabricado no Brasil, com seus 27 metros, produzido no parque fabril em Itajaí, Santa Catarina.

Confira a seguir os principais destaques da entrevista com o CEO do estaleiro Fishing Raptor, Fernando Assinato, editada para fins de maior clareza:

Bloomberg Línea: Em relação ao ano passado, houve aumento de custos e repasse para o produto com reajuste nos preços das lanchas?

Fernando Assinato: Nos últimos dois anos, sentimos um aumento no custo de produção e insumos de nossas embarcações e, consequentemente, esse aumento impacta no valor final. Por outro lado, a exportação dos produtos dribla as oscilações da inflação por conta do câmbio e valorização do dólar, e isso nos permite vender as embarcações com um valor final mais expressivo no exterior, principalmente nos EUA.

Qual a vantagem da lancha produzida no Brasil na percepção dos clientes estrangeiros em termos de preços e características?

A principal vantagem de uma lancha produzida no Brasil é ter um custo produtivo mais baixo em relação a outros países, especialmente as lanchas produzidas em Santa Catarina, devido ao incentivo fiscal. Desta forma, grandes estaleiros escolheram o estado para ter filial produtiva no Brasil. Além disso, a mão de obra do sul do país é uma das mais qualificadas e responde por 80% da produção da frota brasileira.

No mercado mundial de lanchas, qual a posição do Brasil em termos de vendas?

A avaliação da Acobar [Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos] é que o Brasil é um país com bastante potencial, mas ainda está em um processo de amadurecimento náutico. Hoje, o Brasil tem capacidade de produzir 3.500 barcos em fibra de vidro por ano, entre 16 e 100 pés, e parte desse volume é exportado. A associação confirma que em 2021, por exemplo, foi observado um crescimento de 10% no número de exportações e, em 2022, esse percentual chegou a 30%.

Leia também:

Efeito Ozempic? Nova droga para emagrecer faz empresa dobrar de valor

Rolex tem nova aposta na indústria de luxo: relógios de titânio

Quer morar em NY? Aluguel de apartamentos em Manhattan alcança novo recorde