Bloomberg — A AB InBev (Anheuser-Busch), maior cervejaria do mundo e dona da Ambev (ABEV3) e de marcas como a Budweiser, respondeu após quase duas semanas de reação negativa à parceria da marca americana de cervejas Bud Light com uma criadora de conteúdo transgênero, mas excluiu qualquer menção direta à questão anti-trans no centro da controvérsia.
“Nunca pretendemos fazer parte de uma discussão que divide as pessoas”, disse o CEO Brendan Whitworth em comunicado divulgado na sexta-feira (14). “Nosso negócio é reunir as pessoas para tomar uma cerveja.”
A AB InBev não respondeu imediatamente a um pedido de mais comentários. Em uma declaração anterior, um porta-voz da companhia disse que a empresa trabalha regularmente com diferentes influenciadores para suas campanhas de marketing.
A Bud Light fez uma parceria com Dylan Mulvaney, uma influenciadora com mais de 13 milhões de seguidores nas redes sociais, para promover a marca durante o “March Madness”, o principal torneio da temporada do basquete universitário dos EUA.
Em um vídeo publicado em sua página do Instagram em 1º de abril, que já acumulou 162.000 curtidas, ela exibiu uma lata de Bud Light personalizada que a empresa fez com sua foto.
Mulvaney trabalhou com outras marcas, incluindo a KitchenAid e a marca de cuidados com a pele Ole Henriksen, e fez uma participação no comercial da Bud Light no Super Bowl em fevereiro.
A declaração de Whitworth na sexta-feira foi recebida com ainda mais resistência no Instagram e em outras plataformas de mídia social. Um usuário interpretou a declaração como “várias palavras que não dizem nada”.
O cantor Kid Rock já havia criticado a decisão da Bud Light de trabalhar com Mulvaney durante o March Madness, postando um vídeo no qual ele atirou em caixas de Bud Light com uma arma.
O senador da Flórida, Marco Rubio, destacou um anúncio vintage da Bud Light criado “antes que a América corporativa se rendesse à enlouquecida máfia marxista antiamericana”. Outros usuários pediram um boicote aos produtos da AB InBev.
Imara Jones, diretora executiva da organização sem fins lucrativos TransLash, alertou que a declaração pode alimentar ainda mais um cenário cada vez mais hostil às pessoas transgênero.
“Entendendo que o CEO da Anheuser-Busch, Brendan Whitworth, tinha boas intenções, mas esta declaração dá a impressão de que a empresa está questionando sua decisão de apresentar Dylan Mulvaney”, disse ela.
A decisão da AB InBev de fazer parceria com a Mulvaney ocorre em meio a um aumento nas leis anti-trans nos Estados Unidos. Somente este ano, pelo menos 11 estados decretaram proibições ou restrições aos cuidados de saúde de afirmação de gênero para crianças transgênero.
Os legisladores conservadores em nível estadual apresentaram pelo menos 461 projetos de lei anti-LGBTQ na sessão legislativa de 2023, de acordo com a American Civil Liberties Union – mais do que nos últimos cinco anos juntos.
Mulvaney destaca regularmente o aumento da legislação anti-LGBTQ – e especificamente anti-trans – nos EUA.
Marcas de bebidas alcoólicas como Anheuser-Busch, Molson Coors e Constellation Brands nos últimos anos têm feito marketing para a comunidade LGBTQ, principalmente em junho, como uma forma de aproveitar as celebrações e desfiles do mês de Orgulho. A LGBT Capital estima que as pessoas LGBTQ globalmente tenham US$ 3,9 trilhões em poder de compra anual.
Sabrina Kent, vice-presidente executiva de programas e assuntos externos da National LGBT Chamber of Commerce, uma organização sem fins lucrativos para empresas pertencentes a LGBTQ, disse que é importante que empresas como a Anheuser-Busch se comprometam a apoiar os direitos LGBTQ o ano todo.
“Aplaudimos as organizações que provêm intencionalmente e apresentam pessoas e histórias LGBTQ”, disse Kent.
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