Tok&Stok demite diretores de vendas e operações e fundadora reassume, diz fonte

Rede varejista de móveis, com dívida estimada de R$ 600 milhões, encerrará outras 4 unidades em shoppings, no Rio, em Recife, Salvador e Uberlândia, levando a 7 fechadas no total

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Bloomberg — Com uma dívida estimada pelo mercado em R$ 600 milhões, muitas com vencimento no curto e médio prazo, a Tok&Stok, maior varejista brasileira de móveis e artigos de decoração, deu novos passos em seu processo de reestruturação. A empresa demitiu nesta quinta-feira (13) três executivos e trouxe de volta a sua fundadora, Ghislaine Dubrule, para comandar a gestão operacional, disse uma pessoa com conhecimento da situação à Bloomberg Línea.

Isso significa que a família Dubrule, que vendeu o controle da companhia por R$ 700 milhões em 2012 para o fundo norte-americano de private equity Carlyle Group, retorna à gestão da varejista, segundo a fonte, que pediu para não ser identificada porque as informações não são públicas. Ghislaine Dubrule fundou a companhia em 1978 em São Paulo com o marido Régis.

O conselho de administração, que já contava ainda com o casal francês, está sendo reestruturado com a dispensa de três executivos: Eduardo Henrique Sampaio (COO), Clarice Sangalo Feitosa (diretora de operações vendas-lojas) e Ana Cláudia Moura.

Procurada pela Bloomberg Línea, a Tok&Stok não quis comentar essas informações. O site Infomoney foi o primeiro a noticiar os cortes de três diretores, sem informar os nomes.

Além da mudança no conselho, a Tok&Stok está reduzindo a sua operação desde que contratou a consultoria especializada Alvarez & Marsal para a reestruturação da empresa, o que inclui a renegociação da dívida hoje concentrada em quatro bancos credores. A rede varejista é controlada pela SPX Capital, uma das maiores gestoras do país, desde que ela assumiu os negócios de private equity do Carlyle no Brasil há dois anos. Procurada pela Bloomberg Línea, a SPX não quis comentar.

Além da confirmação de fechamento de três unidades (duas em Fortaleza, no Ceará, e outra em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul), a Bloomberg Línea apurou que mais quatro unidades serão encerradas: uma no NorteShopping, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, outra no Shopping Recife, na capital pernambucana, a terceira em Uberlândia, no interior de Minas Gerais, e a quarta no Shopping Barra (do Grupo Euluz), em Salvador, na Bahia.

No ano passado, a Tok&Stok informava ter 68 lojas espalhadas por 22 estados e considerava a possibilidade de duplicar esse número nos próximos anos. Agora, o plano é fechar um total den17 unidades.

Há uma queima de estoques nas lojas, com descontos de até 50% - em algumas unidades, já são vistas prateleiras vazias. Funcionários orientam os consumidores sobre os fechamentos.

Segundo especulações do mercado, a Mobly (MBLY3) chegou a analisar de forma preliminar uma fusão com a TokStok. Mas a dívida da Tok&Stok é um obstáculo relevante, além da necessidade de reestruturar uma operação que praticamente não gera caixa - enquanto a Mobly não tem dívidas. A Renner (LREN3), dona da Camicado, também é apontada como uma interessada de longa data em adquirir a Tok&Stok. Procurada pela Bloomberg Línea, a Renner disse que não comenta rumores de mercado.

Como não é uma empresa de capital aberto, a Tok&Stok não é obrigada a informar ao mercado decisões relevantes de sua administração.

Há executivos que permanecem na companhia: a área de marketing da companhia é liderada atualmente por Ricardo Stucchi Romano, executivo que foi da Westwing (WEST3), plataforma digital de casa, decoração e lifestyle. Outro executivo remanescente é o CFO Guilherme Favaro.

Segundo uma fonte, Favaro foi levado para a Tok&Stok pelo então CEO Octavio Pereira Lopes, que assumiu em setembro de 2020 com a missão de realizar o IPO (oferta inicial de ações). Mas o plano acabou frustrado primeiro com o desinteresse de investidores e, em um segundo momento, com a piora das condições do mercado de capitais para ofertas iniciais, há um ano.

Lopes acabou deixando o comando da empresa em meados de 2021 para assumir como CEO da Light (LIGT3), distribuidora de energia do Rio de Janeiro também em dificuldades financeiras e que acaba de conseguir uma liminar na Justiça para não pagar credores por 30 dias - uma espécie “recuperação judicial branca”, segundo representantes dos credores e advogados especializados.

Procurada pela Bloomberg Línea há várias semanas, a Light não quis se pronunciar.

(Atualiza às 14h13, do dia 15/4, com inclusão da loja de Salvador na lista das que vão ser fechadas)

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