Por que o lucro do Citi deu um salto no 1º trimestre, apesar da crise bancária

Terceiro maior banco dos Estados Unidos registrou alta de 7% no lucro líquido no período, para US$ 4,6 bilhões, e ações sobem; crescimento de receitas ajudou a compensar provisões

Agência do Citibank em São Francisco, na Califórnia.
Por Jenny Surane
14 de Abril, 2023 | 12:08 PM

Bloomberg — O Citigroup (C), terceira maior instituição financeira dos Estados Unidos, registrou um salto no lucro do primeiro trimestre depois que seus operadores de renda fixa entregaram um lucro inesperado e grande o suficiente para cobrir o custo crescente dos empréstimos inadimplentes do banco.

O faturamento na unidade de negociação de renda fixa, moedas e commodities aumentou inesperadamente 4%, para US$ 4,5 bilhões no primeiro trimestre, uma vez que os clientes reagiram às mudanças nas taxas de juros, disse o banco. Isso ajudou a desafiar as previsões dos analistas de uma queda nos lucros.

Os investidores estão atentos a sinais de estresse no setor bancário dos EUA, à medida que as taxas de juros aumentam os custos de financiamento, corroem o valor dos ativos do balanço e ameaçam desacelerar a economia, potencialmente prejudicando a capacidade dos tomadores de pagar suas dívidas.

No Citigroup, as provisões para perdas com empréstimos mais que dobraram para US$ 2 bilhões, a maior desde 2020, enquanto os depósitos permaneceram inalterados em US$ 1,33 trilhão.

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Ainda assim, as mudanças nas taxas que derrubaram alguns bancos regionais dos EUA no mês passado também ofereceram oportunidades para os operadores de Wall Street.

“O Citi apresentou forte desempenho operacional, mostrando bom crescimento de receita e disciplina de despesas, apesar do ambiente tumultuado para os bancos”, disse a CEO Jane Fraser em comunicado. Os operadores de renda fixa da empresa registraram seu terceiro melhor desempenho em uma década, disse ela.

As ações do Citigroup saltaram 4,4% para US$ 49,38 às 9h59 em Nova York. As ações subiram 4,6% até o fechamento do pregão de quinta-feira, em comparação com a queda de 5% do S&P 500 Financials Index.

Receita mais estável

O lucro líquido aumentou 7% no trimestre, para US$ 4,6 bilhões. Em uma base ajustada, os lucros por ação totalizaram US$ 1,86, em comparação com os US$ 1,65 estimados por analistas em uma pesquisa da Bloomberg.

Sob Fraser, o Citigroup concentrou-se na expansão dos negócios de maior liquidez e investimentos para empresas e instituições financeiras - vistas como uma fonte mais estável de receita do que negócios mais voláteis, como trading e banco de investimento.

A unidade de tesouraria da empresa, liderada por Shahmir Khaliq, aumentou a receita em 31%, para US$ 3,4 bilhões, em relação ao ano anterior. O negócio, que oferece gerenciamento de caixa e outros serviços para algumas das maiores empresas do mundo, viu os depósitos e as receitas de taxas crescerem. Os serviços de valores mobiliários, que oferecem custódia e outras funções administrativas para gerentes de ativos, bancos e corretoras, aumentaram a receita em 23%, para US$ 1,1 bilhão.

A divisão de consumo da empresa também registrou receita acima do esperado de US$ 6,4 bilhões. Isso incluiu uma arrecadação de US$ 2,5 bilhões de seu negócio de cartões de marca, onde um aumento nos gastos e nos empréstimos impulsionou os resultados. A receita do banco de varejo aumentou 3%, com o Citigroup apontando para melhores resultados em hipotecas e empréstimos a prestações.

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Bom crescimento de receita e despesa contida

Ainda assim, as provisões acima do esperado incluíram um aumento de 49% nas perdas líquidas de crédito, uma vez que a empresa viu a taxa de empréstimos de cartão de crédito com problemas aumentar. Embora a empresa esperasse que as perdas voltassem a níveis mais normais, o Citigroup começou a apertar as exigências para a liberação de crédito, alertou o diretor financeiro Mark Mason em uma teleconferência com jornalistas.

“Restringimos os padrões de crédito especificamente como resultado do atual ambiente de mercado”, disse Mason. “Nos cartões, continuamos a calibrar nossa subscrição de crédito com base no que estamos vendo nas tendências macroeconômicas e no desempenho subjacente.”

A empresa também está monitorando de perto sua exposição a bancos regionais dos EUA, imóveis comerciais e empréstimos alavancados, acrescentou.

Silencioso no Banamex

A chamada divisão de franquias legadas do Citigroup, onde abriga unidades marcadas para serem desfeitas, teve um salto de 48% na receita, para US$ 2,9 bilhões. Os resultados incluíram um ganho com a venda de negócios de consumo na Índia e no Vietnã.

A divulgação dos resultados trimestrais da empresa não forneceu uma atualização sobre o esforço para sair do Banamex, uma unidade focada em bancos de consumo, pequenas empresas e middle market no México. Esse processo, que o Citigroup disse que poderia assumir a forma de uma venda ou uma oferta pública inicial, prejudicou os esforços para reiniciar as recompras de ações nos últimos trimestres.

“Fechamos a venda de duas franquias de consumo, o que contribuiu para nosso ritmo saudável de geração de capital”, disse Fraser no comunicado. “Estamos comprometidos em aumentar a quantidade de capital em excesso que retornamos ao longo do tempo.”

-- Com colaboração de Dan Reichl

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