BNDES planeja financiar inovação e transição energética com juros mais baixos

Banco de desenvolvimento avalia destinar até 30% dos desembolsos para essas áreas, além de sustentabilidade; governo nega que haverá subsídios

'Como é possível financiar a inovação tecnológica com taxas de juros de 14%, 15% ou até 16%?', diz diretor do banco, José Luis Gordon
Por Martha Beck
13 de Abril, 2023 | 03:34 PM

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Bloomberg — O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) planeja destinar até 30% de seus desembolsos para financiar empresas nas áreas de inovação, sustentabilidade e transição energética, como parte de um plano para apoiar o setor industrial com taxas de juros acessíveis.

O crédito à indústria crescerá gradativamente até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 e poderá chegar a R$ 60 bilhões (US$ 12 bilhões) se o banco cumprir a meta de expandir os desembolsos para cerca de R$ 200 bilhões até lá.

Também dependerá da aprovação pelo Congresso de novas regras que permitam ao BNDES estabelecer taxas de juros mais baixas para setores específicos que deseja apoiar, de acordo com José Luis Gordon, diretor de desenvolvimento, comércio exterior e inovação do banco.

“Como é possível financiar a inovação tecnológica com taxas de juros de 14%, 15% ou até 16% [ao ano]? É impossível, porque ninguém vai correr o risco”, disse Gordon em entrevista na quarta-feira (12). “Também temos que pensar em taxas mais estáveis que deem condições para que as empresas planejem seus negócios.”

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O financiamento do BNDES é uma parte crucial dos planos de Lula para tentar reenergizar a economia, que está desacelerando sob o peso das altas taxas de juros e do risco fiscal.

O potencial uso de taxas subsidiadas pelo banco preocupa o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que já alertou para o fato de que elas podem reduzir a potência da política monetária e forçar a taxa Selic a permanecer alta por mais tempo.

Gordon explicou, no entanto, que as taxas de juros mais baixas seriam usadas de forma estratégica para apoiar projetos que não receberiam financiamento em outros lugares.

Além disso, ao contrário dos governos anteriores de Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff, esses empréstimos não serão subsidiados pelo Tesouro e não apoiarão grandes empresas que embarcam em aquisições e expansões globais.

A atuação do BNDES durante os últimos governos de esquerda foi prejudicada por denúncias de que favorecia aliados políticos e proporcionava bônus generosos a seus funcionários com base no volume de operações de crédito que fechavam, o que levou a investigações de corrupção. Investigações internas realizadas pelo banco não encontraram irregularidades.

Protagonismo

Agora, a equipe que dirige a instituição quer limitar o alcance de seus empréstimos a projetos estratégicos que carecem de financiamento privado, seja por serem de longo prazo ou em áreas não testadas.

O BNDES também pretende financiar exportações de bens de empresas brasileiras, disse Gordon, acrescentando que o banco estuda reduzir o spread que cobra nesses tipos de empréstimos, atualmente entre 0,9 e 1,3 ponto percentual.

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Se o plano funcionar, o BNDES ainda estaria apoiando o setor industrial com menos do que em seu auge. Entre 2000 e 2010, em média, 45% de seus desembolsos foram direcionados à indústria — só em 2009, o banco emprestou ao setor R$ 63,5 bilhões (US$ 12,9 bilhões), de um total de R$ 137,4 bilhões em desembolsos.

Esse percentual caiu para menos de 20% durante o governo de Jair Bolsonaro, quando a equipe econômica liberal de Paulo Guedes cortou as participações do banco em ações, títulos locais, fundos de investimento, reduzindo também linhas de crédito.

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