Bloomberg — Os cortes na oferta de petróleo anunciados pelos países da Opep+ na semana passada estão colocando os mercados globais a caminho de um forte déficit de oferta que aumentará com o passar do ano, indicam os dados mais recentes do grupo dos maiores exportadores da commodity.
E isso pode representar pressões adicionais sobre a inflação mais adiante, em um momento em que bancos centrais do Brasil aos Estados Unidos discutem a perspectiva de início do relaxamento monetária - leia-se taxas de juros mais baixas - justamente a partir do segundo semestre deste ano.
Os mercados mundiais podem ficar com oferta insuficiente de cerca de 2 milhões de barris por dia no quarto trimestre como resultado dos cortes anunciados pela Arábia Saudita e seus parceiros, segundo dados de um relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo.
O governo de Riad e seus parceiros chocaram os traders de petróleo e fizeram os preços subirem com as reduções de oferta anunciadas em 2 de abril.
Funcionários da Opep disseram que a medida era necessária para impedir que especuladores fizessem apostas injustificadas contra o petróleo, mas a Agência Internacional de Energia (AIE), que aconselha as nações consumidoras, classificou o decisão uma “má surpresa”.
Os contratos futuros de petróleo subiram para US$ 87 o barril em Londres desde que os cortes foram revelados. Isso reavivou os temores sobre a inflação e o crescimento econômico global, além de aumentar as receitas dos 23 membros da coalizão da OPEP+. Alguns analistas avaliam que a perspectiva mais apertada para o mercado pode representar o retorno do petróleo a US$ 100.
O relatório nesta quinta-feira (13) do departamento de pesquisa da Opep, com sede em Viena, na Áustria, fornece alguma justificativa para as restrições, o que deve reduzir o excedente de oferta projetado para este trimestre.
Os estoques de petróleo estão acima da média de cinco anos, e a produção atual dos 13 membros da Opep é de cerca de 300 mil barris por dia a mais do que o necessário de abril a junho, em 28,8 milhões de barris por dia.
Mas, na segunda metade do ano, os mercados mundiais devem se contrair consideravelmente. A Opep já esperava um déficit de oferta durante o verão no hemisfério Norte, e os cortes recém-revelados tornarão o déficit ainda mais pronunciado.
Embora a Opep+ tenha descrito os cortes como uma “medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado”, o grupo continua a prever um salto substancial na demanda global de petróleo neste ano. O consumo aumentará 2,3 milhões de barris por dia, superando os níveis pré-pandêmicos para atingir o recorde de 101,89 milhões por dia, projeta.
Na prática, espera-se que as reduções de produção da Opep sejam menores do que o anunciado, pois alguns membros já estão bombeando abaixo de seus níveis-alvo.
Mas, mesmo que apenas os principais estados do Golfo Pérsico que fazem parte do grupo implementassem o acordo, a produção da Opep deveria cair para cerca de 28 milhões de barris por dia - cerca de 1,6 milhão por dia a menos do que a organização acredita que será necessário no terceiro trimestre, e pelo menos 2 milhões menos do que é exigido no quarto.
A demanda pelo petróleo do grupo está projetada para atingir 30,3 milhões de barris por dia nos últimos três meses do ano, segundo o relatório.
O déficit pode ser consideravelmente moderado por causa da Rússia, um membro-chave da coalizão mais ampla da Opep +, que está cortando separadamente a produção em resposta às sanções sobre a guerra na Ucrânia.
Os cálculos da Opep assumem que os suprimentos russos cairão em média 750 mil barris por dia neste ano e sofrerão uma queda acentuada neste trimestre. Essa é uma queda muito maior do que a redução de 500 mil barris por dia recentemente prometida por Moscou.
As exportações russas, no entanto, se mostraram teimosamente resilientes, apesar das promessas de rebater a censura internacional sobre a invasão. Uma desaceleração nos últimos dados de remessas sugere, por outro lado, que as sanções podem estar começando a ser aplicadas.
A aliança da Opep+ está programada para revisar a política de produção para o segundo semestre do ano em uma reunião no início de junho.
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