Shanghai: quais são os riscos da nova atualização do Ethereum?

Atualização da rede vai permitir saques de tokens por parte de seus detentores; preocupação é de que a possibilidade leve a maiores saídas

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Bloomberg — Os entusiastas de criptomoedas estão prestes a receber uma boa notícia: a próxima grande atualização de software da rede Ethereum (ETH) deve ocorrer nesta quarta-feira (12). Mas, como quase tudo no mundo dos ativos digitais, os ajustes há muito aguardados trarão complicações.

A atualização, apelidada de Shanghai, segue a “Merge” (Fusão, em tradução livre), realizada no ano passado e que substituiu computadores que demandavam muita energia por um processo mais ecológico, e econômico, com uma nova dinâmica de uso do ETH, que ganha uma ferramenta oficial de renda passiva.

Agora, a Shanghai permitirá, pela primeira vez, que os donos desses computadores façam saques dos pagamentos e de seus ETH deixados em garantia. Isso porque o staking oferece aos investidores de criptomoedas uma forma de colocar seus ativos digitais para trabalhar e obter renda passiva sem precisar vendê-los.

Atualmente, cerca de 18 milhões de Ethereum estão na rede, valendo cerca de US$ 36 bilhões, segundo o Etherscan. Dessa quantidade, estima-se que 1,2 milhão de ETH – valendo cerca de US$ 2,2 bilhões – serão sacados nos cinco dias após a atualização Shanghai, segundo a pesquisadora Coin Metrics.

A grande questão é se a atualização estimulará um êxodo mais amplo por parte dos detentores ao longo do tempo ou se provocará uma entrada de novos investidores quando os tokens forem desbloqueados.

Uma perspectiva regulatória nebulosa traz mais incerteza – a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC, alertou nos últimos meses que os serviços de staking de tokens oferecidos por algumas plataformas de trading constituem uma venda ilegal de valores mobiliários.

“O mercado vai oscilar enquanto tenta analisar como será o aumento dos saques”, disse Henry Elder, chefe de finanças descentralizadas da Wave Digital Assets. “Não tenho dúvidas de que vamos ver muitos saques”.

Muitos detentores de ETH podem simplesmente trocar entre diferentes serviços de staking, ou deixar de operar o próprio equipamento de staking para terceirar o trabalho para um serviço de staking que operaria o equipamento, disse Elder.

Pode levar semanas ou até meses para sacar os tokens, pois os saques serão limitados para manter a segurança do Ethereum. Os testes anteriores à atualização correram relativamente bem.

“Estou bastante confiante nos saques”, disse Tim Beiko, que coordena os desenvolvedores do Ethereum, em entrevista.

Uma outra questão: a provedora de staking Lido – que representa cerca de um terço de todos os tokens ETH em staking – deve liberar os saques apenas em maio.

Outro possível problema pode envolver alguns dos vários “nodes” (”nós”, em português, que se refere a um ponto do sistema) de computadores que suportam os serviços de staking do Ethereum.

Assim que os saques estiverem habilitados, os operadores de nós precisarão recuperar as chaves necessárias para desbloquear os depósitos dos usuários. Se eles os tiverem extraviado ou não conseguirem localizá-los por algum motivo, os serviços de staking aos quais pertencem os nós podem acabar insolventes, e isso poderia pressionar os tokens associados a esses serviços, disse Elder.

“Ninguém sabe que o banco está insolvente até que as pessoas comecem a sacar dinheiro”, disse ele. “Isso é um pouco imprevisível”.

Há também o risco de os nós serem invadidos ou se tornarem independentes e tentarem reter os fundos dos usuários para obter um resgate em dinheiro, disse Mike Silagadze, CEO da Ether.fi, que permite que os stakers mantenham o controle de suas chaves.

“A maioria das pessoas tem a percepção incorreta de que assim que a Shanghai rodar, o risco de staking será reduzido”, disse Silagadze. “Na verdade é exatamente o contrário – o risco cresce exponencialmente neste ponto”.

Os desenvolvedores do Ethereum ressaltam que sempre houve uma chance de que um prestador de serviços ou um nó fosse invadido ou perdesse chaves, e a Shanghai não aumenta esse risco.

“Existe uma possível ameaça se um terceiro obtiver as chaves para saque de um operador”, disse Ben Edgington, líder de produtos Teku na ConsenSys, que trabalha na infraestrutura do Ethereum.

“Qualquer grande operador deveria estar levando a segurança de suas chaves muito a sério, por isso eu ficaria muito surpreso se houvesse algum vazamento generalizado”.

Assim que esses problemas forem resolvidos, o recurso de saques pode, em última instância, tornar o ETH um investimento mais atraente, atraindo investidores de varejo e institucionais em busca de rendimento. Mas muito dependerá também da opinião dos órgãos reguladores sobre a criptomoeda e a prática de staking.

“O elemento cujo risco diminui é o risco de execução”, disse Darren Langley, gerente geral do serviço de staking Rocket Pool. “Há muito medo, incerteza e dúvida e alegações de que o Ethereum nunca enviará saques. Isso resolve o assunto”.

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