Mais empresas adotam semana de quatro dias. Mas é moda passageira?

Companhias tentam definir modelo de trabalho que consiga equilibrar vida pessoal e profissional após mudanças impostas pela pandemia

Cresce debate nas empresas sobre adoção de semana de quatro dias
Por Julia Hobsbawm
12 de Abril, 2023 | 01:51 PM

Bloomberg — O mundo corporativo quer muito uma “bala de prata” para resolver a crise existencial que envolve o trabalho remoto à medida que a produtividade cai. Para algumas empresas, essa desejada resposta seria a adoção de uma semana de quatro dias.

Nos Estados Unidos, o congressista democrata Mark Takano lançou um projeto de lei para alterar a definição da semana de trabalho na lei federal. “Os trabalhadores de todo o país estão reimaginando coletivamente sua relação com o trabalho”, disse ele em comunicado.

Ideias sobre menos trabalho e mais lazer ganharam força há uma década com o livro “Utopia para Realistas”, do pensador social holandês Rutger Bregman. Ele dedicou um capítulo à semana de 15 horas — revisitando o famoso ensaio de 1930 do economista John Maynard Keynes — e argumentou que a automação e a inteligência artificial (IA) encurtariam as horas de trabalho de qualquer maneira.

Mas, na realidade, isso está provando ser significativamente mais confuso do que o esperado.

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Lynda Gratton, professora de práticas de gestão na London Business School, expõe as complexas lutas que os líderes tiveram nos últimos três anos para encontrar modelos híbridos que funcionem.

Apenas 42% das empresas e executivos que ela pesquisou em todo o mundo decidiram pelo “design final de trabalho híbrido”, escreveu ela na revista Harvard Business Review.

A ambição de codificar novas normas de trabalho em um único sistema, como uma redução de 20% nas horas de trabalho e manutenção de 100% do salário é louvável, mas provavelmente inviável.

Em seu recente relatório “Work Time and Work Life Balance Around the World” (Equilíbrio entre vida pessoal e profissional ao redor do mundo, em tradução livre), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) reconheceu que há, para uma parcela substancial da força de trabalho global, “incompatibilidades entre as horas de trabalho reais dos trabalhadores e seus horários preferidos”.

Em outras palavras, “os trabalhadores prefeririam trabalhar mais horas para aumentar seus ganhos, mas são incapazes de fazê-lo.”

O mercado de trabalho de hoje não pode ser comparado ao de um século atrás, que inspirou a campanha da semana de quatro dias.

O uso de novas tecnologias é generalizado. Com isso, o trabalhador de colarinho-branco e o de colarinho-azul estão unidos pelas pressões de separar trabalho e lazer e cada vez mais pela economia de fazê-lo.

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Além disso, muitos que estão experimentando a chamada semana de quatro dias estão estruturando seus programas não em um cronograma rígido de quatro dias de trabalho, mas em arranjos flexíveis que atendam às necessidades de cada trabalhador e empresa.

Uma pesquisa no Reino Unido mostrou que a maioria das pessoas prefere horários flexíveis à rigidez de uma semana de quatro dias. Na Austrália, que enfrenta uma aguda escassez de mão-de-obra, a parcela de anúncios de emprego citando uma semana de quatro dias está aumentando dramaticamente, mas ainda representa uma fração dos empregos gerais.

Christy Hoffman, secretário-geral da UNI Global Union, que representa 20 milhões de trabalhadores em 150 países, destacou em um painel em Davos que “flexibilidade é o que todo mundo quer. Algumas pessoas preferem uma semana de trabalho de cinco dias e seis semanas de folga.”

Já Rob Sadow, da Scoop, uma ferramenta de agendamento de horário de escritório, que publica um índice de vagas de emprego flexíveis, diz que a maioria das pessoas começou a levar o trabalho para casa assim que o e-mail chegou ao telefone.

“Espero que em alguns anos vejamos muito menos foco em quando exatamente um funcionário está trabalhando e mais foco nos resultados que esse funcionário está gerando para o negócio.”

Julia Hobsbawm é colunista da Bloomberg Work Shift e fundadora do The Nowhere Office.

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