Bloomberg — Investidores que encaram o que está previsto para ser a maior queda nos lucros corporativos desde a recessão iniciada pela Covid não tiveram problemas para aumentar a aposta em ações dos EUA.
Por um lado, eles impulsionaram as ações para o maior rali que antecede uma temporada de resultados desde o início de 2009 - após a quebra do Lehman Brothers: o S&P 500 saltou quase 6% neste mês até sexta-feira passada (7), mesmo com a previsão de queda de 8% nos lucros do primeiro trimestre.
O posicionamento defensivo e a percepção de alívio de que o estresse bancário parece contido ajudaram. Mas a força também destaca a fé duradoura que os traders têm na capacidade das grandes empresas americanas de gerar lucros.
Na sexta-feira (14), JPMorgan (JPM), Citi (C), Wells Fargo (WFC) e BlackRock (BLK) divulgam seus resultados, todos titãs do setor financeiro, além da UnitedHealth (UNH), da indústria de saúde.
Os resultados do primeiro trimestre não serão ótimos, mas podem superar as expectativas modestas e marcar um ponto baixo - será de inflexão? - no ciclo vigente. Para um mercado que olha implacavelmente para o futuro, o argumento otimista é que o crescimento do lucro retornará ainda neste ano.
Tal otimismo pode ser presciente, embora haja muitos céticos. À medida que as margens encolhem, as empresas têm mais problemas para superar as estimativas de Wall Street. O desempenho recente do mercado também sugere cautela. Durante a temporada de resultados, o S&P 500 moveu-se na direção oposta do mês anterior em cada um dos quatro trimestres anteriores.
“O maior risco que realmente corremos nesta temporada é que as pessoas antecipem relatórios com melhoras em relação a expectativas baixas, e não temos certeza de que isso seja verdade”, disse Lisa Erickson, head do grupo de mercados públicos do US Bank Wealth Management.
Os lucros das empresas do S&P 500 devem cair para US$ 50,62 por ação durante o período de janeiro a março, mostram estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg Intelligence. Essa seria a maior queda de lucro desde o recuo de 31% durante os lockdowns da pandemia.
Analistas reduziram suas expectativas às vésperas do período de divulgação de resultados, que começa nesta semana com os maiores bancos de Wall Street. Nos últimos três meses, a receita esperada para o período caiu mais de 6%, o terceiro trimestre consecutivo em que os cortes foram profundos.
O que é diferente agora é o desempenho do mercado de ações. O S&P 500 caiu no mês que antecedeu os dois últimos períodos de ganhos e depois se recuperou assim que as empresas começaram a divulgar. Desta vez, o índice subiu apesar da onda de rebaixamentos.
Esperar que as ações continuem subindo no próximo mês, no entanto, significa ignorar a história recente. No ano passado, quando as ações subiram antes da temporada de balanços, elas tenderam a cair quando os resultados financeiros foram entregues e vice-versa.
Enquanto isso, a margem pela qual as empresas superam as estimativas está diminuindo. Para o quarto trimestre de 2022, a receita agregada ficou apenas 0,3% acima das estimativas, a menor surpresa positiva desde o início de 2020.
Seguindo as previsões dos analistas, o primeiro trimestre provavelmente marcou o ponto mais baixo dessa queda nos lucros. A contração, que começou no final de 2022, deve terminar no segundo semestre deste ano e retornar ao crescimento de dois dígitos em 2024.
Tentar avaliar o preço do mercado está longe de ser uma ciência exata. Mas uma maneira de decifrar quanto os traders realmente acham que as empresas ganharão é aplicar um múltiplo histórico ao índice e ver o que aparece na linha de lucro.
Ao dividir o patamar atual do S&P 500 de 4.110 pontos por um P/L histórico de 17,5 vezes, o mercado pode ser enquadrado como alcançando ganhos de cerca de US$ 235 por ação neste ano. Isso representa 7% acima dos US$ 219 que os analistas projetam agora.
Para Venu Krishna, chefe de estratégia de ações americanas do Barclays, as expectativas são altas demais. Ele estima um patamar de US$ 200.
“Os valuations subiram mais na esperança de que estejamos perto do fim do ciclo de revisões de lucros”, escreveu ele em nota. “Ainda há um caminho a percorrer antes que essa racionalização seja concluída, tornando o rali atual de recuperação prematuro.”
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