Fed enfatiza vigilância sobre o crédito e projeta ‘recessão leve’ ao fim de 2023

Ata do Fomc divulgada nesta quarta (12) confirma os comentários do presidente Jerome Powell após a decisão de março, que subiu juros em 0,25 pp

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Bloomberg — Os formuladores de políticas do Federal Reserve reduziram suas expectativas de aumentos de juros neste ano, depois que uma série de colapsos bancários abalou os mercados no mês passado, e enfatizaram que permanecerão atentos ao potencial de uma crise de crédito que pode desacelerar ainda mais a economia.

“Muitos participantes observaram que os prováveis efeitos dos recentes desenvolvimentos do setor bancário sobre a atividade econômica e a inflação os levaram a reduzir suas avaliações da faixa-alvo da taxa de juros que seria suficientemente restritiva”, destaca a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), divulgada nesta quarta-feira (12).

O comunicado confirma os comentários do presidente Jerome Powell durante sua entrevista coletiva após a reunião de 21 e 22 de março, que decidiu pelo aumento das taxas, com todos os funcionários apoiando tal movimento.

Ao mesmo tempo, o texto indica que os formuladores de políticas não estavam totalmente comprometidos com outro movimento de alta em maio, pois viram a necessidade de avaliar os dados recebidos sobre como a turbulência bancária estava afetando a economia.

Vários funcionários “enfatizaram a necessidade de manter a flexibilidade e a opcionalidade na determinação do movimento apropriado da política monetária, dadas as perspectivas econômicas altamente incertas”, disseram as atas.

Antes da crise bancária, os dados recebidos desde a reunião do Fed em dezembro levaram muitos formuladores de políticas a ver uma trajetória de juros “um pouco mais alta” do que a previsão anterior, de acordo com a ata.

Após a quebra do Silicon Valley Bank e do Signature Bank dias antes da reunião de março, as autoridades revisaram suas perspectivas de acordo com as projeções apresentadas no final do ano passado.

Após a divulgação da ata do Fomc, as ações de Wall Street permaneceram em alta, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos foram pouco alterados.

Com a inflação muito acima da meta de 2% e o desemprego baixo, os banqueiros centrais dos Estados Unidos elevaram sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual em março, para uma faixa de 4,75% a 5%, e disseram no comunicado após a decisão que “alguma política adicional pode ser apropriada”.

Medidas de estabilização

Segundo a ata, várias autoridades disseram que consideraram a possibilidade de manter as taxas estáveis em março devido à incerteza no setor bancário, mas que as ações de estabilização do Fed e de outras autoridades do governo ajudaram a aliviar o estresse financeiro.

Algumas outras autoridades disseram que consideraram, por outro lado, retornar o ciclo de um aperto maior da política monetária antes da turbulência bancária, dada a divulgação de números ainda fortes da inflação.

A equipe do Fed disse que agora está considerando uma “recessão leve” começando no final deste ano “dada sua avaliação dos potenciais efeitos econômicos dos recentes desenvolvimentos do setor bancário”. Autoridades do Fed disseram que veem os riscos para a atividade econômica como negativos.

As autoridades, reunidas menos de duas semanas após o fechamento do Silicon Valley Bank em 10 de março, foram forçadas a equilibrar sua luta para diminuir as pressões de preços enquanto buscavam garantir a estabilidade financeira.

A maior quebra bancária em mais de uma década foi seguida pelo colapso, dois dias depois, do Signature Bank. O Fed lançou um programa de empréstimos de emergência naquele fim de semana para aumentar a confiança no sistema bancário em geral.

Em 22 de março, Powell chamou o SVB de “outlier”, por sua dependência de depósitos não segurados e exposição ao risco de taxa em suas participações em títulos. Mas ele também reconheceu que era difícil saber o tamanho da queda da economia devido a condições de crédito mais apertadas.

Empréstimos bancários

Os sinais de estabilidade financeira desde então têm sido mistos. Os empréstimos bancários recuaram na segunda quinzena de março, enquanto a demanda por empréstimos de apoio do Fed diminuiu um pouco após um aumento inicial.

Isso encorajou algumas autoridades a ignorar a turbulência causada pelo SVB, com o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, dizendo na semana passada que o estresse financeiro havia “abrandado” e que era “um bom momento para continuar a combater a inflação”.

O presidente do Fed de Nova York, John Williams, disse na terça-feira (11) que a estimativa mediana de mais um aumento nas previsões oficiais de março é um “ponto de partida razoável”.

O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, que vota as decisões políticas este ano, adotou um tom diferente esta semana, pedindo “prudência e paciência” na avaliação do impacto econômico de condições de crédito mais rígidas que provavelmente resultarão do estresse financeiro.

A presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, que não é eleitora, disse nesta quarta-feira (12) que a economia pode desacelerar o suficiente para esfriar a inflação sem novos aumentos de juros.

Os formuladores de políticas previram no mês passado que as taxas atingiriam 5,1% este ano, implicando um aumento de mais 0,25 ponto, de acordo com sua projeção mediana. Sete das 18 autoridades viram as taxas subindo mais do que isso para diminuir as pressões sobre os preços.

Dados divulgados nesta quarta-feira mostraram preços ao consumidor sugerindo moderação em março, com o núcleo do índice de preços ao consumidor - que exclui alimentos e energia - subindo 0,4% em relação ao mês anterior, após um ganho de 0,5%.

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