Como a venda para o UBS pode afetar os FIIs do Credit Suisse no Brasil

Gestora do Credit Suisse administra cerca de R$ 10,3 bilhões em oito fundos imobiliários no Brasil e está entre as maiores do setor, segundo dados da Anbima

Localizado próximo à Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, prédio compõe portfólio do FII CSHG Prime Offices
11 de Abril, 2023 | 04:47 AM
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Bloomberg Línea — Com produtos imobiliários voltados para os segmentos de logística, escritório, renda urbana, residencial, crédito, além de um fundo de fundos (FOF), o braço de real estate do Credit Suisse (CS) administra no Brasil cerca de R$ 10,3 bilhões em ativos, segundo dados da Anbima.

Isso coloca a casa entre os sete maiores gestores de fundos de investimento imobiliário (FIIs) no Brasil, de acordo com a associação brasileira que representa entidades do mercado de capitais.

Ao todo, são oito fundos imobiliários do Credit Suisse listados em bolsa: CSHG Real Estate (HGRE11), Castello Branco Office Park (CBOP11), CSHG Prime Offices (HGPO11), CSHG Logística (HGLG11), CSHG Recebíveis Imobiliários (HGCR11), CSHG Imobiliário FOF (HGFF11), CSHG Renda Urbana (HGRU11) e CSHG Residencial (HGRS11). Juntos, eles somam cerca de 790 mil cotistas.

Com um tamanho relevante na indústria brasileira, qual o impacto da venda do Credit Suisse para o UBS Group (UBS) nos fundos imobiliários listados no Brasil?

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Na avaliação de Larissa Nappo, analista de fundos imobiliários do Itaú BBA, a venda não deve impactar os FIIs em um primeiro momento, dado que eles têm patrimônio próprio, com CNPJ apartado, que não se comunica com o patrimônio da administradora nem da gestora.

Nathan Octavio, educador financeiro e especialista do Clube FII, compartilha da mesma visão. Ele cita o conceito de Chinese Wall, em que o patrimônio do fundo não se mistura com o do administrador.

“Mesmo em um caso hipotético, no qual o Credit Suisse no Brasil tenha um problema e um juiz resolva bloquear as contas do banco, por exemplo, o dinheiro dos FIIs geridos e administrados pelo Credit Suisse não seria afetado”, afirmou.

Mais do que o patrimônio, destacou Nappo, do BBA, a atenção deve recair sobre o time de profissionais por trás dos fundos.

“A gestão é o ponto-chave. Hoje, o CSHG [Credit Suisse Hedging-Griffo, nome oficial da gestora] é um dos principais no segmento, desde tamanho dos fundos a qualidade dos portfólios e track record”, disse Nappo, apontando que é necessário entender se haverá mudanças na equipe.

Marcelo Potenza, que também é analista de fundos imobiliários do BBA, reforçou a importância da manutenção da gestão, para evitar uma eventual quebra de projeto.

Por ora, contudo, ele disse que, além de haver patrimônio segregado, a administradora funciona como uma prestadora de serviços e que, caso saia, haverá a contratação de uma outra.

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“Se acontecer algo com a asset controlada pelo Credit, o fundo teria que fazer uma assembleia para votar e escolher um novo administrador e gestor para os fundos. Mas o portfólio continua o mesmo”, disse Potenza.

Ele reforça o tamanho do CSHG na indústria brasileira de FIIs e que “não seria interessante para o mercado perder a qualidade e o porte da casa”. “Não é momento para pânico.”

Em outubro, quando começaram os burburinhos sobre a liquidez do Credit Suisse, levando a oscilações mais fortes nas cotas dos FIIs da casa, o CSHG divulgou um fato relevante ao mercado destacando que conforme exigência regulatória, os bens e direitos dos FIIs são segregados e independentes.

“Em razão da segregação, os resultados e rendimentos dos FIIs seguirão suas alocações específicas, no contexto de suas respectivas atividades setoriais, uma vez que os recebimentos de locações, créditos e todos os demais direitos dos FIIs não têm correlação e não são compostos por títulos de emissão do Grupo CS e, portanto, não são impactados por quaisquer alterações ou oscilações no valor das ações ou dos títulos de emissão do Grupo CS”, escreveu à época.

“Reforçamos o compromisso do Grupo CS com a atividade de gestão e administração de ativos imobiliários, que já tem um histórico de 19 anos de operações no Brasil, contando com um time multidisciplinar e uma franquia amplamente reconhecida no mercado”, completou o time de gestão.

FIIs de papel

Hoje, o Itaú BBA conta com dois fundos do CSHG na carteira: o CSHG Renda Urbana (HGRU11), cujo portfólio é composto por imóveis locados para supermercados e redes de ensino, e o CSHG Recebíveis Imobiliários (HGCR11), de papéis high grade (de menor risco e menor potencial de retorno).

Enquanto a recomendação do primeiro recai sobre a alta previsibilidade e entrega de bons resultados com desinvestimentos, no fundo de papel a avaliação do time de análise do BBA é de que o produto conta com uma “boa gestão” e relação “atrativa entre risco e retorno”.

Momento dos FIIs

Os fundos imobiliários, assim como demais ativos de renda variável, têm sido pressionados em meio ao cenário de juros em dois dígitos.

No acumulado do ano, o Ifix, o índice que acompanha o desempenho dos principais FIIs listados em bolsa, recuava 3,7% até quinta-feira (6), ante queda de cerca de 8% do Ibovespa no período.

Apesar da maior aversão ao risco, o número de contas em FIIs têm crescido. Segundo a Anbima, o número de contas passou de 6.714.368, em março de 2022, para 9.730.253 em março deste ano – um crescimento de 45%.

“O aumento de quase 3 milhões de novas contas acontece em meio ao lançamento de novos FIIs, o que faz com que a quantidade e a pulverização de cotistas seja grande”, disse Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, em coletiva com a imprensa na semana passada.

A ressalva é que o número de investidores não corresponde necessariamente ao total de CPFs, dado que um investidor pode ter mais de uma conta.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.