Dólar abaixo de R$ 5? Condições de mercado apontam para volta do carry trade

Expectativa de fim do aperto monetário no mundo desenvolvido abre caminho para volta de estratégia em que investidores apostam em países com juros mais altos

Moedas-alvo atraentes para operações de carry trade incluem as do Brasil, México, Índia, República Tcheca e Polônia
Por Marcus Wong - Matthew Burgess
10 de Abril, 2023 | 09:36 AM

Bloomberg — As estrelas começam a se alinhar a favor de uma conhecida estratégia de câmbio que se beneficia de rendimentos atraentes em países emergentes e de baixa volatilidade – mesmo após os mercados terem encerrado um dos meses mais turbulentos dos últimos anos.

Sinais de que a economia dos Estados Unidos se desacelera e de que as taxas de juros globais estão perto do pico preparam terreno para investidores retomarem os chamados carry trades em emergentes – quando traders se financiam com moedas de baixo retorno no mundo rico para comprar aquelas de mercados que oferecem rendimentos mais altos, o que acarreta a sua valorização.

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Isso poderia fortalecer moedas de países como o Brasil, em que a taxa de câmbio voltou a se aproximar da barreira psicológica de R$ 5,00 nos últimos dias.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que economias em desenvolvimento, particularmente na Ásia, serão um destaque positivo mesmo com a desaceleração dos EUA: os ingredientes certos para a estratégia funcionar parecem finalmente estar de volta pela primeira vez em anos.

Um indicador da Bloomberg que acompanha o empréstimo de dólares e fundos alocados em uma cesta de moedas emergentes mostra um retorno de quase 5% este ano, uma retomada após três anos de perdas para o nível mais alto desde 2021.

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Os retornos saltaram à frente de um índice de mercados desenvolvidos no mês passado, já que os temores de uma crise bancária – iniciada nos EUA – reforçaram as apostas de que o Federal Reserve está próximo do fim de seu ciclo de aperto monetário.

“Contra-intuitivamente, a onda de volatilidade do mercado financeiro de março pode ser apenas o ingresso para reacender os carry trades dos mercados emergentes”, disse Eimear Daly, estrategista de mercados emergentes do NatWest Markets, em Londres.

“Agora que o carry dos EUA provavelmente está limitado, investidores serão tentados a voltar às moedas de carry alto dos mercados emergentes.”

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O interesse em carry trades está de volta com a percepção de que o rápido aperto da política monetária pelos principais bancos centrais do mundo desenvolvido parece estar quase no fim em meio às preocupações com o crescimento. Isso foi suficiente para aumentar a confiança na estratégia, apesar da volatilidade dos mercados de câmbio, o que pode prejudicar potenciais retornos.

“Os retornos cambiais dos mercados emergentes se sustentam bem em recessões nos EUA, e as estratégias de carry começam a parecer interessantes novamente”, escreveram estrategistas do Citigroup (C), entre eles Adam Pickett, em nota na quinta-feira (6).

“Renda fixa e ações de mercados emergentes ainda podem ter dificuldades”, por isso mercados de câmbio de emergentes “podem ser um lugar melhor para se esconder”.

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Moedas preferidas

Várias moedas de mercados emergentes são alvos particularmente atraentes para operações de carry trade, pois seus bancos centrais elevaram os juros para combater a inflação antes de países desenvolvidos.

“A maioria dos países emergentes aumentou as taxas significativamente, muitos começando antes do Fed e subindo mais, então muitos rendimentos de mercados emergentes são atraentes”, disse Rajeev De Mello, gestor global de portfólio macro da GAMA Asset Management, em Genebra.

Moedas-alvo atraentes para operações de carry trade incluem as do Brasil, México, Índia, República Tcheca e Polônia, afirmou.

No Brasil, o Banco Central começou a elevar a Selic em março de 2021, em um total de 1.175 pontos-base, para o nível atual de 13,75% ao ano. A taxa básica do país oferece um prêmio de 875 pontos-base frente à referência do Fed, uma proteção considerável para compensar qualquer desvalorização potencial do real.

As taxas básicas no Brasil, México, Colômbia e Chile estão todas em 7% ou mais, confortavelmente acima das expectativas atuais de pico próximo a 5% dos juros do Fed, com base nos swaps indexados overnight dos EUA.

Crescimento divergente

Mercados emergentes devem manter sua vantagem no campo das taxas de juros em relação aos EUA se o cenário para o crescimento econômico for levado em conta.

O PIB americano tende a registrar desaceleração para 1,4% este ano e depois para 1% em 2024, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional publicadas em janeiro.

Em comparação, o crescimento nos mercados emergentes deve se acelerar para 4% em 2023 e 4,2% no próximo ano, mostram os números do FMI.

A expectativa é a de que o Fundo divulgue previsões atualizadas esta semana em meio a sinais de que a economia global começa a esfriar.

“Nosso cenário-base é de uma recessão moderada nos EUA e um dólar limitado, o que deve apoiar o carry trade dos mercados emergentes”, disse Jon Harrison, diretor-gerente de estratégia macro para mercados emergentes da TS Lombard, em Londres.

Os principais alvos para carry trades de mercados emergentes parecem ser o real e o peso mexicano, já que serão apoiados por bancos centrais proativos e taxas de juros reais relativamente altas, explicou.

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