Mercados de renda fixa e variável divergem sobre apostas de uma recessão nos EUA

Enquanto as ações absorveram com certa facilidade a quebra do SVB, as flutuações diárias nos Treasuries de 2 anos foram as maiores em 40 anos

Yields de dois anos despencaram um ponto percentual em três dias
Por Katherine Greifeld e Liz McCormick
10 de Abril, 2023 | 10:50 AM

Bloomberg — Quando bancos começaram a quebrar nos Estados Unidos no mês passado, a reação no mercado de títulos do Tesouro americano foi dramática. Os yields de dois anos despencaram um ponto percentual em três dias, o maior tombo desde 1982.

Alguns operadores interpretaram isso como uma mensagem óbvia: a inflação não é mais a principal ameaça e uma recessão é inevitável.

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Mas será mesmo? Três semanas depois, os traders seguem com dificuldade em interpretar as oscilações bruscas dos Treasuries, os títulos de 10 anos do governo americano. Apesar da força da volatilidade recente, ela praticamente não foi vista na renda variável nem no crédito.

Tentar explicar isso se tornou uma obsessão em Wall Street, dada a influência que os Treasuries têm nos modelos de projeção da inflação americana e da política monetária do Federal Reserve.

Uma das preocupações é averiguar se fatores que não têm nada a ver com a economia, como apostas especulativas, fizeram da forte queda nos yields um alarme falso de recessão.

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“Cada dia sem uma crise bancária é mais um dia indicando que a precificação atual não faz sentido”, disse Bob Elliot, diretor de investimentos da Unlimited Funds, que trabalhou para a gestora de Ray Dalio Bridgewater por 13 anos.

O debate está longe de ter sido resolvido, e a queda nos rendimentos dos títulos do governo americano pode ser mesmo um sinal sombrio para a economia.

Embora a renda variável esteja calma ultimamente, não está fora de perigo. As grandes quedas do ano passado, seguidas pelo domínio das gigantes de tecnologia em 2023, podem ser um sinal de problemas à frente. O mesmo vale para a dívida corporativa.

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Mas a discrepância nas reações aos eventos de março atingiu proporções históricas.

O mercado de ações dos EUA, que geralmente é mais propenso ao pânico, absorveu com relativa facilidade a queda do Silicon Valley Bank e os medos de contágio que se seguiram. No mercado americano de dívida corporativa, os spreads não chegaram a superar os níveis vistos no quarto trimestre.

Enquanto isso, as flutuações diárias nos rendimentos dos Treasuries de dois anos foram as mais amplas em 40 anos. O índice ICE BofA MOVE, que acompanha as oscilações esperadas para os Treasuries com base em opções de um mês, atingiu o seu nível mais alto desde 2008 em meados de março.

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A diferença em relação à volatilidade no mercado de renda variável também foi a maior em 15 anos.

Mesmo depois que as coisas se acalmaram um pouco, o indicador continua mostrando mais que o dobro de volatilidade do que a média dos últimos 10 anos.

Em tempos normais, uma mudança de precificação tão brusca seria um dos sinais mais fortes que os mercados poderiam enviar de que uma recessão está próxima. Mas agora a interpretação é menos óbvia, segundo George Pearkes, do Bespoke Investment Group.

“Isso não significa que o que está atualmente no preço seja algum tipo de sinal”, disse Pearkes, estrategista macro global da gestora. “As taxas estão baixas demais. Não vimos sinais de um contágio mais amplo nos mercados de crédito e no setor bancário de forma geral, além de alguns bancos regionais.”

Nas palavras de Dominique Dwor-Frecaut, estrategista sênior da Macro Hive que trabalhou no grupo de mercados do Fed de Nova York: “O mercado de títulos enlouqueceu”.

“Pela primeira vez, estou do lado do mercado de renda variável. Não vejo uma recessão chegando,” disse ela.

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